Homeland –
A terceira temporada de Homeland dividiu a opinião dos fãs e da crítica e foi quase tão amada quanto odiada, mas depois do que foi visto, dificilmente alguém pode negar que The Star fez jus a tudo que a série representa e poderia até mesmo ser um brilhante series finale. Os primeiros minutos mostrando a fuga de Brody do escritório de Akbari não deixaram nada a dever aos momentos mais tensos da série como o inesquecível “The Vest”. Era impossível não ficar com o coração na boca e mesmo com quase nenhuma fala, Brody demonstrava um nervosismo quase palpável enquanto deixava o prédio e tentava encontrar Carrie.
É claro que a prudência de Saul em desconfiar de uma emboscada era justificável, mas alguém mais sentiu vontade de dar uma voadora nele quando perguntou se Carrie acreditava que Brody tinha matado Akbari? Os últimos momentos de seu comando na CIA não poderiam ter sido mais agitados. Seu plano finalmente deu certo, aquilo pelo que ele trabalhou por tanto tempo enfim estava se concretizando e apesar de tudo ele teve o poder arrancado de suas mãos no momento mais crucial. Por mais que sua vontade de ajudar Brody fosse legítima, nem mesmo ele poderia se opor a uma ordem do presidente.
A cena de Brody e Carrie na casa em que se abrigaram depois da fuga lembrou “The Weekend”, momento em que os dois, lá na primeira temporada, se aproximaram em uma cabana longe de tudo. A esperança que ardia nos olhos de Carrie contrastava com o cansaço de um Brody que já não conseguia mais enxergar um futuro possível. Brody sempre teve uma certa inquietação, um vazio, uma inadequação de quem não consegue encontrar seu lugar no mundo… e neste episódio, após a tensão inicial, ele se mostrou inteiramente resignado com qualquer destino que tivesse. Voltar para casa(existia alguma casa para ele?), construir algo com Carrie ou morrer no Irã não fazia muita diferença, e a redenção que ele tanto esperava encontrar no fim foi apenas mais morte, mais sangue e mais traição.
Carrie sempre leu Brody como ninguém. Abu Nazir, a CIA, Jessica e o próprio público da série, ninguém chegou sequer perto de enxergar Brody com a clareza que Carrie sempre enxergou. Quando ela diz que uma das razões pela qual nasceu foi para que seus caminhos se cruzassem, é impossível discordar. A conexão entre eles foi uma coisa tão forte e tão acima de qualquer rótulo que é muito difícil pensar em uma forma de seguir em frente sem a presença de Brody de alguma forma na série. O desespero de Carrie ao perde-lo mais uma vez para a guarda de Javadi não precisou de surto, de “cryface” e de gritos, Claire Danes sabe usar esses artifícios quando necessário, mas mostrou que não precisa deles para expressar suas emoções.
O diálogo da agente com Javadi foi um dos pontos altos de um episódio praticamente irretocável. Eles fizeram parte da mesma operação, ambos com papeis igualmente cruciais e chegaram a um ponto de discordância. Javadi, apesar de mais frio e truculento, é tão político quanto Lockhart, e percebeu que Brody só seria uma peça interessante se pudesse ser sacrificado pela sua ascensão. Ele notou que Carrie tinha uma visão mais romantizada sobre esses movimentos, envolvendo redenção e honra, e entendeu que todo o sofrimento pelo qual a agente passou foi para provar a inocência de Brody. Carrie foi publicamente humilhada, agredida, dopada, levou um tiro e colocou sua vida em risco inúmeras vezes sem hesitar, apenas para fazer com que os outros vissem Brody como ela o via… e conseguiu. Como Majid muito bem colocou, Saul, Lockhart, o presidente e até mesmo ele estavam enfim vendo Brody com os olhos de Carrie, mas de que adiantou tudo isso se ele estava condenado à morte?
A execução de Brody foi impactante, crua e dura, como um enforcamento deve ser, na realidade. Não havia outro caminho, os últimos episódios já tinham dado todos os sinais apontando nesta direção, e mesmo assim foi muito cruel assistir à morte de um personagem tão importante e bem construído quanto aquele. Foi o passo mais ousado de Homeland e um grande risco que a série assumiu, mas necessário. Carrie perdeu Brody mais uma vez, desta vez, definitivamente. Um ciclo claramente terminou ali, mas não sem deixar marcas, e tampouco será esquecido.
E de uma cena tão pesada, a passagem de tempo nos levou até a ensolarada casa de férias de Saul, onde é mostrado que Javadi cumpriu com sua parte no trato e facilitou as relações diplomáticas do Irã com os Estados Unidos. O legado de Saul. Ele e Carrie deram muito deles mesmos para que a operação funcionasse, mas também precisaram sacrificar o que tinham de mais importante para isso.
Entre o sucesso profissional e a maternidade, Carrie sente medo. Quem não sentiria? Ser mãe é uma missão tão difícil quanto qualquer operação da CIA, e acreditando ser impossível conciliar os dois caminhos, ela opta por não manter a criança. Carrie trabalhou muito para construir sua carreira, e além de tudo que a série exibiu, o fato de ser uma mulher e ter que lidar com a bipolaridade já são indícios de que o esforço que fez foi muito maior do que o que vimos nos últimos três anos. Não combinaria com a personagem abandonar ou colocar todo o seu trabalho em segundo plano por um filho.
A relação diplomática com Lockhart não parece se encaixar bem no perfil de Carrie. Algo pareceu fora de lugar naquela resignação e mesmo depois de quatro meses, não acredito que ela tenha engolido a ordem do novo diretor de entregar Brody. Mas ela também sabe que nem sempre tudo se resolve com gritos e pontapés, e o desenho da estrela do seu “Marine” no mural deixou no ar uma sementinha de rebeldia da agente que pode germinar no ano que vem.
A primeira metade da temporada recebeu muitas críticas pelo ritmo mais lento e político,mas sem ela a reta final não teria bases sólidas para acontecer e o final jamais teria se fechado sem pontas soltas da forma como se fechou. Os roteiristas sabiam para onde estavam indo e o que estavam fazendo o tempo inteiro, agradando ou não. A série poderia ter terminado ali – e talvez fosse o mais sensato a ser feito – apesar disso, acredito que a próxima temporada vai olhar para o futuro com os dois pés bem firmes no passado e com a presença de Brody sempre por perto, direta ou indiretamente.
Gostou do episódio? Ainda está chorando pela morte de Brody? Vai voltar para a série ano que vem ou Homeland foi enforcada junto com o personagem de Damian Lewis para você? Até o ano que vem ainda dá tempo de debater bastante pelos comentários!
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