Introdução..........

Antes de sua ascensão ao status de ícone do cinema hermético, Orson Welles foi um novato diretor na New Deal America. Em 1938, o homem que mais tarde traria ao mundo "Cidadão Kane" teve uma idéia para uma produção de rádio que ele acreditou que provocaria o medo nos lares do país inteiro. Welles, o diretor de um programa baseado em Nova York chamado "Mercury Theatre on the Air", adaptou o romance de H.G. Wells "Guerra dos Mundos" para o episódio do programa do Dia das Bruxas. A adaptação do trabalho de Welles, de 1898, uma crônica de uma invasão alienígena da Inglaterra, atualizou a história para Grovers Mill, Nova Jersey, em 1938. Na metade do programa, de uma hora de duração, centenas de milhares de americanos haviam caído no trote, acreditando que marcianos, de fato, pousaram na Terra. Welles queria pânico, e foi exatamente isso o que obteve. Como, porém, ele conseguiu criar histeria em massa pelas ondas do ar? Por que uma estação de rádio quis, como um susto do Dia das Bruxas, deixar seus ouvintes correndo por suas vidas?

Orson Welles
Pierre Guillaud/AFP/Getty Images
Orson Welles (mostrado aqui em 1982) produziu um programa de rádio de "Guerra dos Mundos", em 1938, que causou pânico por todos os Estados Unidos
Os efeitos da transmissão foram atribuídos a dois fatores primários: formato e oportunismo. Welles queria autenticidade para o programa, e conseguiu isso criando uma série de boletins de notícias descrevendo a invasão alienígena à medida que ela supostamente acontecia. Os boletins interromperam um programa de música aparentemente comum para informar os ouvintes sobre a invasão. Primeiro, os boletins começaram de um observatório de Princeton, onde um repórter fictício deu a notícia de que astrônomos estavam monitorando uma atividade estranha em Marte. Depois, vieram informes de que um "imenso objeto em chamas" havia atingido uma fazenda em Grovers Mill. Quando cidadãos se reuniram no local da colisão para ver a agitação, teriam sido mortos pelo raio de calor do objeto, levando os oficiais de Nova Jersey a assumir o controle da estação de rádio e declarar lei marcial. Rapidamente, mais boletins chegaram de todo o país relatando aparições de marcianos. A Secretaria do Interior, em Washington D.C., recomendou às pessoas que ficassem calmas, apesar de os marcianos estarem, supostamente, destruindo cidades. No estágio final da invasão, tripés desceram sobre a cidade de Nova York, "submergindo no rio Hudson como um homem em um riacho". Um gás espesso e venenoso sufocou os nova-iorquinos, e os sinais eram interrompidos para indicar destruição. Após a transmissão supostamente interrompida na central da CBS, um anúncio finalmente informou que a narração era fictícia. Welles intencionalmente retirou esse lembrete da seção intermediária do programa; assim, qualquer pessoa que sintonizasse após a introdução não teria idéia do trote. Por quase 30 minutos, desde os relatos iniciais das explosões em Marte até os sinais perdidos de Manhattan, não houve avisos. Como o "Mercury Theatre" compartilhava um bloco com o mais popular "Chase and Sanborn Hour" na NBC, Welles sabia que muitos ouvintes não ouviriam a introdução de seu programa. Ele também sabia que quando o primeiro bloco no "Chase and Sanborn" terminasse, muitos ouvintes mudariam para seu programa por causa do interlúdio musical. Assim que os ouvintes da NBC mudaram de estação, eles ouviram os relatos de Grovers Mill na CBS, e não sabiam que a história era falsa. Em uma era na qual os norte-americanos acreditavam em tudo que ouviam no rádio, muitos ficaram lívidos com a história fictícia. Enquanto a transmissão recebia críticas pesadas por criar o pânico entre tantas pessoas, o evento alcançou seu famoso lugar na cultura popular quase instantaneamente. Até hoje, há alusões, tanto em filmes quanto na literatura, à noite em que Orson Welles pregou a maior peça da história do rádio.