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Laranja Mecânica – Anthony Burgess

 Laranja Mecânica – Anthony Burgess

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Ficha Técnica do Livro

  1. Título: Laranja Mecânica (A Clockwork Orange)
  2. Nome do autor: Anthony Burgess
  3. Tradutor: Fábio Fernandes
  4. Nome da editora: Editora Aleph
  5. Data e local da primeira publicação: Inglaterra, 1962;
  6. Número de páginas: 192 páginas;
  7. Gênero: Romance Distópico;
  8. Sub Gênero: Ficção Científica Social;
  9. Nota: ★★★★★(5)

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) é um romance distópico escrito por Anthony Burgess em 1962, e adaptado por Stanley Kubrick para o cinema em 1971. É considerado um dos melhores romances da língua inglesa já escritos (nº 65 no ranking da Modern Library) tendo influenciado de forma considerável a cultura popular da segunda metade do século. É um livro relativamente difícil de ler, principalmente devido ao uso intensivo de gírias e neologismos que exigem atenção do leitor para entendê-las junto ao contexto, ou então consultas constantes à um glossário presente no final do livro.
O filme de Kubrick é considerado uma obra prima do cinema, e uma excelente adaptação da obra de Burgess, mesmo considerando que o roteiro foi baseado na edição americana, onde o último capítulo foi excluído da adaptação. O próprio Burgess criticou a remoção do último capítulo, mas considero a crítica injusta pois a edição americana foi autorizada por Burgess que cedeu à pressão dos editores americanos que achavam que o personagem principal não deveria passar por nenhum tipo de redenção devido aos crimes cometidos, tendo então concordado com a remoção do capítulo final. Por sua vez, Kubrick disse que só leu a versão original após ter concluído o roteiro do filme, e que considerava o último capítulo como um “capítulo extra” inconveniente e inconsistente com o restante do livro, e não gostava da visão do autor para a conclusão da história. Eu concordo com a opinião de Kubrick, também considero que o capítulo final é um tanto desnecessário, mas, polêmicas à parte, tanto o livro quanto o filme são geniais e merecem nossa atenção.

Uma breve análise do livro

  • Contexto da época
    Burgess escreveu o livro após retornar ao Reino Unido depois de uma longa estada no exterior, quando percebeu que a sociedade britânica passava por várias mudanças. Os jovens estavam desenvolvendo uma cultura permeada por música pop e comportamento radical, muitas vezes reunindo-se em gangues. O temor na Inglaterra era de que a delinquência juvenil começasse a sair de controle. Além desses fatores sociais da época, Burgess também foi influenciado pelo estupro de sua primeira esposa durante a Segunda Guerra Mundial por um grupo de soldados americanos bêbados. Burgess também afirmou que seu livro é uma crítica ao Behaviorismo (ou comportamentalismo), um conjunto de teorias que postula que o comportamento é o objeto de estudo mais adequado na psicologia.
  • Estilo
    Sem dúvida uma das coisas mais interessante e dignas de nota em Laranja Mecânica é o estilo único e inteligente empregado por Burgess. O livro foi escrito numa espécie de dialeto do inglês inventado pelo autor, o nadsat, que é falado pelos delinquentes. O vocabulário utilizado foi baseado na língua russa e no cockney, que é uma palavra utilizada para descrever os habitantes da zona leste de Londres, que possuem um dialeto e sotaques diferentes do restante dos londrinos, além do costume de expressarem-se em calão rimado, que faz um jogo de palavras com um caráter irônico e muitas vezes difícil de compreender até mesmo pelos demais londrinos. Acredita-se que o calão rimado surgiu entre os feirantes e pequenos criminosos nos fins do século XIX para dissimular suas atividades pouco lícitas do público geral e da polícia. Mais informações sobre calão rimado podem ser encontradas aqui. Alguns exemplos de expressões cockney em calão rimado:

    “Can you Adam and Eve it?” (Adam and Eve it = believe it)  → Você acredita nisso?
    “Use your loaf and think next time” (loaf of bread = head) → Use a cabeça e pense da próxima vez.
    “Hello me old china” (china plate = mate)  → Olá amigo.
    “Are you telling porkies?” (porkies = pork pies = lies) → Você está mentindo?
    “That’s an expensive looking whistle” (whistle and flute = suit) → Essa é uma roupa cara.

    O próprio título pode ter sido inspirado em uma expressão expressão cockney, As queer as a clockwork orange, que pode ser traduzido como “Tão estranho quanto uma laranja mecânica”. (No entanto, existem outras teorias para explicar o título, talvez essa não seja a correta, mas não vou me estender nessa polêmica!)
    Alex, o narrador da história, nunca tenta embelezar ou produzir efeitos dramáticos, ele nitidamente não está preocupado em chocar o leitor com seus atos de violência muito menos em tenta justificar suas ações, o que pode inicialmente parecer frieza dele, mas que podemos também encarar como um exemplo de sua honestidade (mesmo que seja para praticar atos violentos e deploráveis). Alex chega ao ponto de narrar os atos de violência com muitos detalhes, explicando quais golpes está desferindo em suas vítimas, ou quanto sangue está conseguindo tirar delas.
    Muito do tom do livro soa irreverente e imaturo, o texto está repleto de gírias e onomatopeias o que é um reflexo imaturidade do personagem. Podemos detectar uma nota extremamente sutil de angústia, como se Alex estivesse preso à um círculo vicioso e já tivesse aceitado sua situação no mundo em que vive sem questionamentos ou remorsos, o que fica acentuado após o tratamento que recebeu na prisão que o “curou” da violência.
    Uma prova do quanto Burgess é inteligente no uso do nadsat pode ser lido na segunda sentença do primeiro capítulo:

    “There was me, that is Alex, and my three droogs, that is Pete, Georgie, and Dim, Dim being really dim, and we sat in the Korova Milkbar making up our rassoodocks what to do with the evening, a flip dark chill winter bastard though dry”

    (Éramos eu, ou seja, Alex, e meus três druguis, ou seja, Pete, Georgie e Tosko, Tosko porque ele era muito tosco, e estávamos no Lactobar Korova botando nossas rassudoks pra funcionar e ver o que fazer naquela noite de inverno sem vergonha, fria, escura e miserável, embora seca.)

    Apenas pelo contexto, podemos inferir que druguis significa amigos e rassudok significa pensar, ou planejar. No entanto na versão original em inglês também podemos ver um experto jogo de palavras, uma associação livre de palavras sobre como eles deveriam estar sentindo-se quanto à noite de inverno, mas que na tradução a associação de palavras foi explicada, numa tentativa de facilitar a leitura ou por simples falha do tradutor. Dim, traduzido como Tosko em português (ou Tapado, como encontrei em outras edições), na verdade seria algo como turvo, ou embaçado, sendo que a associação à condição intelectual do amigo de Alex é um tanto mais sutil em inglês. Portanto, parte da genialidade de Burgess perde-se na tradução, o que é triste mas nada muito grave para os leitores das edições traduzidas.
    Para quem não tem muita paciência para decifrar o contexto, a utilização do glossário no fim do livro pode ajudar bastante, pelo menos inicialmente até que o leitor assimile o novo vocabulário, no entanto esse glossário não fazia parte da obra original de Burgess, tendo sido incluído na edição americana de 1963 devido à pressões editoriais. A intenção do autor era justamente criar uma forte sensação de estranhamento, jogando o leitor de forma súbita em um universo jovem, violento e de difícil compreensão.

  • Simbolismos
    Todo o livro é permeado por simbolismos que giram em torno do tema da liberdade de escolha, do livre arbítrio. A trama, a caracterização dos eventos, o discurso de Alex, tudo que está no livro gira em torno da livre arbítrio. Isso fica mais evidente quando Alex inscreve-se no tratamento Ludovico, e com isso abandona sua liberdade de pensamento em troca da oportunidade de reinserir-se na sociedade, e claro, ele irá se arrepender de abdicar de sua liberdade de pensamento.
    O nadsat também pode ser visto como um simbolismo ligado à liberdade e imaturidade da juventude. No último capítulo, quando Alex reencontra um antigo drugue e companheiro de ultraviolência percebemos que ele abandonou o uso do nadsat, e começou a falar como um adulto, o que é uma amostra do simbolismo entre nadsat e imaturidade.
    O próprio número de capítulos, 21, é um simbolismo para indicar a idade em que alguém tornaria-se um adulto.
    Todo esse simbolismo desempenha um papel essencial no livro, e certamente Anthony Burgess inseriu-o de forma a possibilitar que qualquer leitor identifique a mensagem, não é um simbolismo oculto, a mensagem do autor é clara.

Um clássico da literatura inglesa, que gerou um dos melhores filmes do século passado, Laranja Mecânica é uma excelente obra, uma ficção social cujos temas abordados continuam atuais mesmo no nosso tempo: violência gratuita e deliberada, uma sociedade que prefere afastar os jovens ou lobotomizá-los à tentar reinseri-los no convívio social, a tentativa de buscar de uma cura para a violência através da criação de robôs morais, além da hipocrisia dos pais e educadores ao absterem-se da responsabilidade na criação de seus filhos. Por esses motivos, e também pela forma extremamente inteligente como Burgess escreveu o livro com um estilo único, recomendo sua leitura!

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