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Para um leigo entender (ou não) Star Wars

Existe um negócio que não podemos enxergar. Um campo de energia presente em todas as coisas vivas. Esse algo abstrato e totalmente intangível nos cerca, nos penetra… Como se essa energia fosse uma grande rede, que une toda a galáxia. A esse campo invisível damos o singelo nome de força.
A história que você verá a seguir tem a ver com os dois lados desse negócio. Um é legal, prega a paz e a sabedoria em todo o Universo. Aliás, existem sujeitos batutas e poderosos, que controlam essa força e são diretamente responsáveis pela ordem no espaço. É uma mistura de samurai com policial militar, que acabou virando simplesmente jedi (lê-se jedái).
Mas essa força também tem um lado negro – e esse não é o jedi com cara de Samuel L. Jackson. É a representação do mal, da ganância, da busca insana por mais poder. O lado negativo da força concebeu outra trupe, uma gangue da pesada que possui praticamente a mesma determinação e vontade dos amigos jedis. Esses temidos malfeitores são os sith (esses lemos como sith mesmo; ou siffth, com a linguinha encostada nos incisivos superiores).
Pois bem. Começamos em uma época em que os jedis não tem o que fazer, já que os siths não apareceram mais por essas bandas. O povo intergaláctico vive em uma democracia – que, como a maioria delas, é esculhambada e cheia de políticos corruptos. Um deles é um senador adepto ao coronelismo e ao bom e velho “é dando que se recebe”. O camarada chama-se Palpatine, mas bem que poderia ser ACM.
Esse picareta é que começou o rebu todo. Inventa de bloquear a rota comercial para sua terra natal, um lugar pacífico chamado Nabu. Acaba insuflando um movimento separatista dos diabos, agitando o noticiário local. Depois de muitos anos, finalmente a tropa jedi tinha o que fazer além de ficar treinando novos discípulos.
A propósito, é nessa época que aparece um moleque abusado chamado Anaquim Skywalker. Dois jedis descobrem o menino, vítima de trabalho infantil em Tatuí, ali perto de Avaré. Ficam amigos dele e acabam levando-o fora dali, assim que o esperto Anaquim vence um desafio de rolimã estelar. Mas chegando no conselho jedi, todos ficam apavorados com o pentelho. Sobrou para um sujeito boa pinta, com a cara do Ewan McGregor, que decidiu treinar Anaquim. Seu nome virou lenda nos sete mares: Obiuan Quenóbi.
Dez anos depois, o caldo engrossa de vez. As balaiadas, sabinadas e revoluções farroupilhas siderais comem soltas, a maioria delas lideradas por um antigo jedi, espécie de Antônio Conselheiro do mal com cara de Sauron. Chamava-se Doku. Para acabar com a festa, os senadores (sempre eles) inventam uma lei absurda: criar um exército de clones de um capanga valente que havia no espaço. Uma das senadoras de extrema esquerda, a Amídala – diga-se de passagem bem bonitinha – tenta impedir essa encrenca. Mas foi voto vencido.
Aí virou Brasil. Era clone, alienígena, jedi, separatista, robôs, lasers, espaçonaves… Todo mundo em guerra. Numa das últimas batalhas, um caçador de jedis medonho batizado Grivus capturou Palpatine, que naquela altura já era um respeitado chanceler, e tenta vencer a pendenga. Mas os bravos amigos Quenóbi e Anaquim, já crescido, comandam o batatal, espantam os capangas do Grivus e conseguem matar o Doku e libertar o Palpatine.
O que ninguém sabia era que Doku e Palpatine eram, na verdade, sobreviventes da gangue dos sith! E o Palpatine, raposa velha, sabia de todos os desvios de caráter do atrevido Anaquim – esse, que não era bobo nem nada, aproveitava a folga da guerra pra dar uns pega na Amidala – o que era proibido entre os celibatários jedis. E não é que ele mandou muito bem? Em poucos minutos de um filme com tecnologia digital, a senadora já estava grávida!
Anaquim, pobrezinho, teve uma vida difícil. Seus estranhos poderes lhe rendiam pesadelos enquanto dormia, flashes proféticos e aterradores. Nessa ele se deu conta: estava alucinadamente apaixonado por Amidala, não queria que acontecesse a ela o mesmo desfecho traumático que acometeu sua mãe, em Tatuí.
Garoto tolo: justamente por não resistir aos encantos da mulher amada, acabou enganado por Palpatine, que lhe prometeu poder suficiente para evitar qualquer desgraça. Foi como se o coronel do espaço oferecesse um papelote pro garanhão. Antes de aceitar, decidiu contar o que ouviu aos amigos jedis. Era a peça que faltava: os guardiões da paz descobriram finalmente quem estava por trás dessa palhaçada e foram dar um couro no Palpatine.
O problema é que o imbecil do Anaquim tomou gosto pelo lado negro, ajudou Palpatine a se safar e tornou-se seu aliado. Ganhou um nome de guerra, tradição da gangue: virou Darth Vader. E tudo porque o paspalho inventou de amar uma mulher, vejam vocês… A partir dali, os dois começaram a exterminar todos os jedis. Coisa que, aliás surpreendeu os editores dos tablóide das galáxias: afinal, esses caras não eram os fodões? Como eram capazes de morrer assim, como seres insignificantes? Seriam os jedis uma farsa?
A verdade é que sobraram apenas dois para contar a história. Um deles era um guerreiro verde e baixinho, mas muito sábio e querido por todos: Mestre Yoda. O outro era Obiuan Quenóbi, que foi atrás de seu antigo discípulo Anaquim para dar uma surra. Decepou-lhe todo e o deixou-o queimando para ajudar Amídala a ter seu filho. Que na verdade eram dois: Luque e Léia, nomes dados pela mãe rapidamente antes de falecer – parece até que ela já tinha visto os três primeiros filmes da saga.
Mas enfim. Palpatine ainda encontrou o que sobrou de Anaquim, ou Darth Vader, e o reanimou transformando-o numa figura biônica e caricata, com voz de taquara rachada fundo de poço (melhorou, Trotta?) e respiração de aparelho inalador infantil. Léia foi adotada por um senador do baixo clero e Luque foi levado para uma tia distante, em Tatuí, onde cresceu.
O tempo passou. Em vinte anos, a tecnologia galáctica regrediu – foi como se a primeira parte fosse contada usando toda nossa tecnologia do século 21, e a seguinte mostrada com o que existia no final dos anos 70. Léia se torna uma linda líder rebelde, doida para acabar com a festa de Darth Vader e Palpatine, naquela altura imperador e ditador da galáxia. Luque Skywalker era um cara bacana, que trabalhava para o tio em Tatuí. Até ser convidado por Obiuan Quenóbi, mais velho e com cara de sir Alec Guiness, para ajudar na luta do bem contra o mal. Ao lado de Luque e Léia, surgem dois outros cidadãos na luta pelas diretas espaciais: um mercenário aventureiro chamado Han Solo e seu fiel escudeiro peludo, o Chewbaca.
Darth Vader já estava piradaço. Trata de se vingar das queimaduras do passado e mata Quenóbi. Também cria uma arma redonda gigantesca, capaz de destruir qualquer planeta num estalo. Era a estrela da morte. Mas nem esse laser poderoso é páreo para Luque, sempre assessorado por sua irmã gêmea (sem saber disso), pelo jovem Indiana Jones e pelo Tony Ramos sem depilação. Com a ajuda do espírito do Quenóbi, destrói a estrela da morte.
Darth Vader ficou possesso e baixou o AI-5, mandando caçar os rebeldes. Nesse meio tempo, a luta pela democracia ganhou a ajuda de outro mercenário das estrelas: Amir Lando, que era a cara do Apolo Doutrinador. Mas apesar da boa vontade, era um vendido: trouxe todos os rebeldes para a o seu quartel general, a cidade das nuvens, e chamou Darth Vader para prender todo mundo.
Nessa hora, aparece o herói Luque, ainda louco para se transformar num jedi como Quenóbi. Sua vontade de dominar a força era tão grande que conseguiu até encontrar o velho Yoda, perdido no pântano, para ajudá-lo no treinamento. Mas de nada valeu o retiro: foi só aparecer diante do temido inimigo para que ouvisse a revelação bombástica, seguida de outra respirada de inalador infantil: “eu sou seu pai”!
As coisas não iam bem para os rebeldes. Han Solo foi congelado em carbonita e entregue como presente a um velho conhecido: o repugnante Jaba Ranks, cantor de reagge com cara de lesma e arrendatário de boa parte dos latifúndios de Tatuí. E Luque perde a mão na primeira luta com seu pai. Até que Lando, Léia e Chewbaca salvam Han Solo e seguem na luta. E Luque, recuperado, cria seu próprio sabre de luz, para alegria do velho Yoda. Finalmente, havia se transformado num jedi!
Empolgado com o gelo que deu nos rebeldes, Darth Vader começa a montar sua segunda estrela da morte, ainda maior e mais bacana que a outra. Só que ela nunca foi ativada: os rebeldes conseguiram desativar o perigoso brinquedinho, graças a um bando de bichinhos bonitinhos e engraçadinhos: os Ewoks – uma patota tão divertida quanto os andróides R2D2 e C3PO, que pentelharam todos a saga toda. Além de muito hospitaleira, que o digam a caravana da coragem e os telespectadores do desenho animado, sucesso no Xou da Xuxa.
Mas enfim. Chega a hora da batalha final: Darth Vader reencontra seu filho e – pasmem! – faz as pazes com o lado legal da força e lembra dos tempos áureos de moleque em Tatuí. Ou como galã canadense travestido de Anaquim. Com o apoio dos filhos, consegue se livrar do vício, acaba com a raça do velho Imperador Palpatine e redime seus pecados, ainda que isso custe sua própria vida. Nem mesmo a morte do Mestre Yoda estragou as festividades comemorativas ao final do malévolo regime militar, ou mesmo o casamento de Han Solo e Léia.
Toda essa pataquada aconteceu há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante. Ao menos é o que diz um cidadão chamado George Lucas, que dividiu essa historinha, espécie de biografia do Anaquim, em duas trilogias cinematográficas repletas de efeitos especiais, transições do tipo fade entre algumas cenas e letreiros inclinados do tipo teste de vista.
Sem querer, transformou essa mistura de faroeste, ficção científica e dramalhão mexicano no maior fenômeno pop da história do cinema. Contou ainda com a ajuda de uma legião incontável de devotos no mundo todo para preencher as lacunas da história, concebendo uma outra dimensão chamada universo expandido. E obviamente faturou uma boa grana com isso.
(Postado em 30/05/2005, e é dos meus favoritos em todos os tempos. Vem a calhar nesta sexta-feira, quando a saga de Guerra nas Estrelas comemora 30 anos. Dedicado a pessoa que, depois de mim, deve ser a segunda maior fã desse texto).

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