Por Jessica Soares
Colaboração para a SUPERINTERESSANTE
Colaboração para a SUPERINTERESSANTE
Quem vira a página de uma HQ pode não saber o que vai encontrar do outro lado, mas se deixa levar pelos traços cheios de movimento que desenham a ação. São os detalhes, as páginas minuciosamente trabalhadas em diferentes estilos, que guiam a nossa imaginação através do universo habitado por super-heróis. A SUPER listou 11 dos desenhistas estrangeiros que deixaram a sua marca na história das HQs. Seguindo por sua data de nascimento, conheça os quadrinistas que, ao lado de roteiristas geniais, construíram personagens, cenários e cenas de ação fantásticas:
1. Alex Raymond (1909 – 1956)
Dono de um talento versátil e um estilo incisivo, o americano Alex Raymond influenciou muita gente. Inclusive George Lucas, que credita ao trabalho do artista o ímpeto original para imaginar o universo de Star Wars. A criação que colocou Raymond em lugar de tamanho destaque é de 1934: foi neste ano que o artista deu vida a Flash Gordon, “o clássico super-herói, mas no espaço sideral”, como definiria o cineasta.
Transportado para diversas mídias (incluindo filmes e séries televisivas animadas e em live-action), o personagem foi importante para consolidar justamente o imaginário e as ações que guiam o super-herói em sua saga em defesa do bem – um legado difícil de ignorar.
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2. Joe Shuster (1914 – 1992)
No currículo do ilustrador canadense Joseph “Joe” Shuster, um grande título salta aos olhos: ele criou o Super-Homem. Ao lado de seu amigo de longa data, Jerry Siegel, Shuster começou a rascunhar fanzines ainda no colégio. Uma delas, publicada em 1933, trazia a história “O Reino do Super-Homem”, que, apesar do nome, não tinha muito a ver com o herói de capa vermelha. Pelo contrário, aliás. O super-homem em questão era um vilão telepata que queria dominar o mundo.
Descontente com o resultado, a dupla resolveu dar uma nova forma ao personagem, criando o alter-ego Clark Kent e o herói com contornos míticos que passaria a lutar pela justiça. Passaram-se seis anos e inúmeras tentativas frustradas para publicar a história, até que Super-Homem despertou o interesse de Malcolm Wheeler-Nicholson, que decidiu colocar o herói na capa do novo quadrinho da National Allied Publications (precursora da DC Comics), a Action Comics #1, de junho de 1938. Um marco era estabelecido ali: o personagem não apenas ajudou a criar todo o gênero dos super-heróis nas histórias em quadrinhos, como estabeleceu também sua supremacia nas HQs americanas. Não por acaso, a capa da primeira edição foi vendida por 1 milhão de dólares em fevereiro de 2010. Quem dá mais?
3. Will Eisner (1917 – 2005)
Poucos têm a honra de dar nome ao prêmio máximo de seu ramo, mas a homenagem prestada a Will Eisner é um destes raros (e merecidos) casos. Filho de imigrantes judeus, o americano começou sua carreira trabalhando como cartunista no jornal New York America. Em 1940, deu vida a um de seus personagens mais famosos: Spirit, combatente mascarado do crime, estampava um suplemento nos jornais do Register and Tribune Syndicate, que chegou a ter circulação de 5 milhões de cópias entre 1940 e 1952. Eisner foi um dos responsáveis por cunhar o termo graphic novel. Suas incursões pelo gênero resultaram em obras importantes como Um Contrato com Deus, de 1978, e Ao Coração da Tempestade, de 1991, retratos da vida na Nova York dos anos 30 e 40 e da experiência dos imigrantes na grande metrópole.
“Will Eisner não apenas ilustrava um roteiro, ele pensava tudo. Do formato das letras e dos balões aos traços dos personagens, que podiam mudar de acordo com o estado psicológico dos personagens, ele explorava todos os elementos para contar as histórias”, diz o pesquisador (e quadrinista) Daniel Werneck. Em homenagem ao artista, foi criado em 1988 o Will Eisner Comic Industry Awards – o Oscar dos Quadrinhos – anunciado anualmente na Comic-Con, em San Diego.
4. Jack Kirby (1917 – 1994)
Os traços caricatos, as expressões faciais, as perspectivas dinâmicas – muitas linhas que definem o super-herói norte-americano foram traçadas por Jack Kirby. Nascido Jacob Kurtzberg, o americano começou a assinar quadrinhos nos anos 30, ainda sob pseudônimos. Em 1941, ao lado de Joe Simon, Kirby lançou a revista Capitão América #1, pela editora Timely Comics.
Foi depois do surgimento do Quarteto Fantástico, primeiro time de super heróis da editora, criado por Stan Lee e Kirby, que a Timely decidiu adotar o nome Marvel e dar um passo definitivo rumo ao conglomerado que viria a se tornar. Ao lado de Stan Lee, Kirby deu vida ainda ao verdão Hulk e ilustrou edições de Thor e Os Vingadores. Além das grandes franquias, deixou como legado seus traços com estilo de movimentos cinematográficos em que a ação explodia para fora dos quadros. POW!
5. Steve Ditko (1927 – )
Steve Ditko começou entre os grandes, tendo como mentor Jerry Robinson, desenhista dos quadrinhos do Batman na década de 1940 e seu professor na Cartoonist Ilustrators School, em Nova York. Começou sua carreira profissional em 1953, no estúdio de Joe Simon e Jack Kirby. Ao lado de Stan Lee, Ditko deu vida ao Homem-Aranha, que apareceu pela primeira vez no quadrinho Amazing Fantasy #15, de 1962. O Cabeça-de-teia foi o primeiro adolescente a ganhar o posto de protagonista no universo Marvel.
Ditko também deu forma ao Dr. Estranho, que apareceu pela primeira vez no quadrinho Strange Tales #110, de julho de 1963, e figurou em diversos sub-produtos Marvel, como animações, videogames e filmes.
6. Jim Steranko (1938 – )
Colagens, psicodelia, pop-art, altos contrastes do film-noir – tudo valia como inspiração para Jim Steranko. O quadrinista americano começou sua carreira em 1965 na Harvey Comics e, poucos anos depois, conseguiu a almejada entrada na Marvel Comics, ilustrando muitas capas de Nick Fury. Explorando a composição de página, ele incorporou vários movimentos artísticos para criar seu próprio estilo nos quadros.
Um de seus trabalhos mais icônicos é a capa da edição de outubro de 1968 de Giant Size Hulk – parodiada e homenageada à exaustão. Steranko também emprestou seus traços ao cinema, assinando diversos cartazes. São dele as ilustrações da arte conceitual de Os Caçadores da Arca Perdida, filme de 1981 dirigido por Steven Spielberg que marcou a estreia de Indiana Jones nos cinemas. O estilo e apuro visual do artista lhe garantiram um lugar no Hall da Fama de Will Eisner em 2006.
7. Dave Gibbons (1949 – )
O desenhista inglês Dave Gibbons começou sua carreira profissional assinando títulos de terror e ação para as editoras IPC e DC Thomson no início da década de 70. Anos depois, passou a ser o artista principal da tirinha de Doctor Who, na qual permaneceu até a 69ª edição. Mas foi ao lado do também britânico Alan Moore que Gibbons assinou um de seus mais importantes trabalhos até o momento.
Retratando as ansiedades contemporâneas e lançando um olhar crítico ao conceito de super-herói, Watchmen se tornou um marco. Publicada entre os anos de 1986 e 1987, a graphic novel serviu como síntese das temáticas questionadoras que pipocavam nos mais diversos quadrinhos da época. A história, que inspirou o filme dirigido por Zack Snyder em 2009, figura na lista dos 100 melhores livros de todos os tempos da Revista Time.
8. John Byrne (1950 – )
Boa parte do humor que está presente em adaptações cinematográficas de aventuras de heróis, como X-Men, Os Vingadores e O Quarteto Fantástico, se deve à dupla formada pelo desenhista canadense John Byrne e o roteirista britânico Chris Claremont. Em 1977, os artistas deram início ao trabalho marcante nos quadrinhos dos mutantes. A partir da edição número 108 de The X-Men, a dupla criou os icônicos arcos Dark Phoenix Saga, Days of future past e Proteus, muito bem recebidos (e ainda adorados) pelo público. Deve-se à dupla também a permanência de Wolverine no time do Professor Xavier. Juntos, os artistas não só firmaram o lugar do herói canadense nos quadrinhos mas também o moldaram como o personagem tão popular e adorado que conhecemos hoje.
Além de suas passagens marcantes por Os Vingadores e Capitão América no final dos anos 70, Byrne também liderou O Quarteto Fantástico em sua chamada “segunda era de ouro”, entre os anos 1981 e 1986.
9. Brian Bolland (1951 -)
As HQs americanas começaram a ganhar força no Reino Unido apenas em 1959, mas Brian Bolland se apaixonou rápido. Na faculdade, decidiu estudar design gráfico e história da arte, e logo começou a ilustrar fanzines, empregando seus traços que misturavam o cartunesco e o clássico. Em 1977 conseguiu um emprego na antologia britânica 2000 AD, assinando uma fase definidora de Judge Dredd – personagem que está novamente em cartaz nos cinemas.
Nos EUA, suas principais colaborações foram nos quadrinhos da DC Comics. Em 1982, assinou a arte de Camelot 3000, elogiada versão futurística das aventuras do Rei Arthur e de seus Cavaleiros. Batman: A Piada Mortal, produzida ao lado de Alan Moore em 1988, estabeleceu a emblemática imagem do Coringa, citada por Heath Ledger como inspiração para sua interpretação vencedora do Oscar.
10. John Romita Jr. (1956 -)
Filho de cartunista, cartunista é. Nascido do berço do criador de diversas e memoráveis histórias do Homem-Aranha nas décadas de 60 e 70, John Romita Jr. começou sua carreira na Marvel britânica e despontou com Demon in a Bottle, de 1979. A edição, que traz o Homem de Ferro Tony Stark em conflito com o alcoolismo, foi premiada no ano seguinte nos Eagle Awards, prêmio britânico dos quadrinhos.
Valorizando o roteiro visualmente com estética e acabamentos elegantes, Romita foi destaque nos quadrinhos a partir dos anos 80: criou, junto de Roger Stern, o vilão Duende Macabro em 1983; recebeu uma indicação ao Eisner Awards em 1989 por seu trabalho nos quadrinhos do Demolidor; e assinou, nos anos 2000, a edição do 30º aniversário de Wolverine, junto com o roteirista Mark Millar. Ao lado do escocês, criou também Kick Ass, quadrinho lançado em abril de 2008. Seu protagonista, Dave Lizewski, um adolescente que decide se tornar um super herói na vida real, foi transportado para as telonas em 2010 em um filme dirigido por Matthew Vaughn. A sequência cinematográfica da aventura está planejada para 2013.
11. Frank Miller (1957 – )
O universo dos quadrinhos se tornou bem mais sombrio com os traços de Frank Miller. O artista americano, que começou sua carreira profissional nos anos 1970, trilhou seu caminho na DC Comics, com elogiada passagem pelos quadrinhos do Demolidor. Deixou sua marca também na HQ do morcego, com as sagas Batman: The Dark Knight Returns e Batman: Ano 1, do final dos anos 1980. “Estes trabalhos têm uma enorme importância histórica. O Cavaleiro das Trevase Ano 1 são, ainda hoje, os trabalhos usados como referência máxima para os novos quadrinhos, animações e adaptações cinematográficas do personagem. São leituras obrigatórias, verdadeiras obras primas”, afirma o professor e quadrinista Cristiano Seixas.
Explorando a estética do film-noir, Miller criou em 1991 Sin City, uma cidade de pecados e altos contrastes que foi levada para os cinemas em 2005. Robert Rodriguez volta ao posto de diretor para a nova adaptação da graphic novel,prevista para 2013. Também transposta para a telona, 300 foi lançada nas páginas em 1998, e chegou aos cinemas em 2006, tenho continuação engatilhada e prevista também para 2013. A graphic novel recebeu o Oscar dos quadrinhos em 1999, prêmio recebido por Miller direto das mãos de Eisner.
Obs: Pelos comentários, algumas pessoas repararam a ausência de nomes como Stan Lee e Alan Moore na lista. Apesar de terem sido citados, eles só não aparecem porque seus trabalhos estão mais concentrados nos roteiros e não nos desenhos. E esta é uma lista de desenhistas =).
Menções honrosas: Neal Adams, Osamu Tesuka, Winsor McCay, Hall Foster, Steve Dillon, Jean Giraud.
Consultoria: Cristiano Seixas, quadrinista e diretor da Casa dos Quadrinhos – Escola Técnica de Artes Visuais; Daniel Werneck, doutor em Artes, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Narrativas Gráficas da Escola de Belas Artes da UFMG, curador do FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte e quadrinista do Pandemônio Comix.
Imagens: Wikimedia Commons / Reprodução / Wikipedia
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