Algumas pessoas são apenas famosas, mas as pessoas que aparecem por aqui são famosas por terem criado personagens ainda mais famosos. Stan Lee, dentre outras diversas obras, co-criou o Homem Aranha, super-herói que dividiu águas nos quadrinhos por apresentar um lado mais humano dos super-heróis. E é Stan Lee o nosso homenageado de hoje em nossa série “Heróis do Mundo Nerd“! Excelsior!
Stanley Martin Lieber nasceu em 28 de dezembro de 1922 em Manhattan. Seus pais – Jack e Celia Lieber – eram judeus, imigrantes da Romênia. Assim como boa parte dos artistas, Lee veio de família humilde. Seu pai teve uma escassez de trabalho por conta da quebra da bolsa de 1929, e ele dividia o mesmo quarto com o irmão Larry enquanto seus pais dormiam em um sofá cama.
Desde sua fase de colégio Stan Lee já tinha paixão pela escrita, sonhando fazer parte de grandes produções e escrever histórias famosas. Lee era muito influenciado por livros e filmes da época, sendo um grande fã do ator Errol Flynn. Nessa época Stanley já trabalhava com a escrita: dentre os muitos empregos de meio turno que teve, escrevia obituários (?!) e panfletos para clínicas e lojas.
O primeiro trabalho publicado de Stan Lee fez foi uma história filler do Capitão América, que acabou se tornando parte da edição numero #3 do super herói com o nome de “Captain America Foils the Traitor Revenge”. Foi esta história que introduziu o famoso escudo, marca registrada do herói. Foi também nesta história que o autor usou pela primeira vez o seu pseudônimo, Stan Lee, que depois se tornaria seu nome legal.
A história resultou na promoção de Lee. A partir daí ele escreveria histórias oficiais e não mais os comuns fillers. Jack Frost e Father Time foram duas criações que vieram justamente dessa época. Mais uma vez a sorte estava ao lado de Stan Lee, e quando os artistas Joe Simon e Jack Kirby deixaram a editora Timely Comics,Lee assumiu, aos 19 anos, o cargo de editor interino da editora.
A segunda guerra havia começado, e Stan Lee se alistou em 1942 no exército americano. Seu período militar girou em torno das funções que ele sabia fazer de melhor: Lee escrevia manuais, produzia filmes de treinamento, criava slogans e ocasionalmente alguns desenhos. Seu papel no serviço militar lhe garantiu o título de “playwright” algo como “escritor de peças” e segundo ele, apenas nove pessoas receberam o mesmo título dentre todos os que já passaram pelo exército norte-americano.
Stan Lee terminou seu serviço militar ao fim da segunda guerra e se casou com Joan Clayton Boocock dois anos depois. O casal teve duas filhas, Joan Celia, que nasceu em 1950 e Jan Lee, que morreu três dias após o parto. Durante os anos 50, Lee escreveu uma grande variedade de obras, de ficção científica e terror até humor e faroeste. Ao fim desta década, Lee cogitou a hipótese de se aposentar!
Felizmente isso não aconteceu, pois foi durante a década seguinte que Leecomeçou a trabalhar com os personagens e obras que seriam o grande sucesso da sua carreira. A DC Comics já batalhava contra a Marvel pela preferência do público com o grande sucesso da versão do Flash criada por Julius Schuwartz.
Nesta época, Martin Gordon deu a Stan a tarefa de criar um novo time de super-heróis. Aconselhado pela esposa, Lee criou heróis cuja maior característica era o seu lado humano imperfeito, com preocupações humana, defeitos humanos e trabalhos de humanos.
Lee se juntou a Jack Kirby para criar seu primeiro grupo de heróis, o Quarteto Fantástico. O sucesso do grupo provocou uma grande demanda na criação de novos super-heróis.
Felizmente, Lee era um poço de criatividade, e em pouco tempo ele já havia criado Os Vingadores – Thor, Hulk e Homem de Ferro – assim como os X-Men. Lee ainda trabalhou com Bill Everett para criar o Demolidor e com Steve Ditko para criar o Doutor Estranho e seu maior sucesso, o Homem Aranha.
A década de 60 em si foi a grande época dos quadrinhos, pois a mídia ganhou público, criou novas formas de se contar histórias e obteve um grande apoio das editoras. A Marvel se tornou pioneira no relacionamento entre fãs e autores: Lee inventou um sistema de créditos onde todos os colaboradores envolvidos na criação da história tinham seus nomes destacados na primeira página de cada obra.
Na realidade, o fato da indústria de quadrinhos ter tanta tradição como se tem hoje acontece muito por conta das mudanças que Stan Lee fez. Ele organizou um novo modo de se criar histórias, onde primeiro acontecia um brainstormpara se criar a sinopse, daí em diante os autores determinavam a história, o que devia ser escrito nos balões e os desenhos que os artistas deviam fazer. Uma forma de criação colaborativa que era inédita, até então.
Durante a década de 70, Lee fez uma importante campanha contra as drogas, os títulos “The Amazing Spider-Man” 96 até 98 mostravam Peter Parkerlidando com um amigo usuário de drogas. As revistas não ganharam o selo de combate ao narcóticos, mas venderam bem, e a Marvel foi premiada por serviço de utilidade pública à comunidade. Este foi um passo a frente para que Stan pudesse usar protestos no contexto de suas histórias: racismo e intolerância foram apenas alguns dos temas que ele combateu em seus quadrinhos.
Após a metade dos anos 70, Lee começou a participar de eventos da cultura pop, dar palestras e debates em mesa redonda. Essa época também marcou o início das suas tradicionais pontas: como produtor executivo ele começou a participar das adaptações para cinema, tradição que é mantida até hoje em praticamente todos os filmes da Marvel. A imagem abaixo mostra ele fazendo uma ponta de carteiro no filme do Quarteto Fantástico:
Com tamanho sucesso Lee acabou se tornando o presidente da Marvel, mas ele se rebaixou voluntariamente, pois o cargo lidava com burocracia demais para um sujeito tão apaixonado pelo processo criativo de criação de histórias e personagens.
O trabalho de Lee seguiu firme durante os anos 80 e no fim dos anos 90 ele começou uma nova empreitada com o artista Peter Paul na internet. A Stan Lee Media cresceu rápido, mas pouco antes dos anos 2000 investigadores descobriram fraudes e sonegações fiscais feitas pela empresa. Paul, que estava no Brasil, foi extraditado para os Estados Unidos, mas Lee jamais teve o nome envolvido em nenhum dos crimes.
Durante os anos 2000, Stan fez seus primeiros trabalhos pela DC Comics, basicamente reimaginando histórias para os principais membros da Liga da Justiça. Fundou com Gil Champion e Arthur Lieberman a empresa POW! para a criação de filmes, séries animadas, jogos de videogame e programas de TV. A POW! chegou a anunciar uma história com Ringo Starr atuando como super-herói protagonista. Ainda é um mistério, no entanto, se esse projeto será lançado ou não.
Em 2006 a Marvel premiou os 65 anos de carreira de Lee na empresa publicando histórias em que ele contracenava com várias de suas co-criações, como Homem-Aranha, Surfista Prateado e o Coisa. Essas publicações tanto traziam histórias de artistas novos quanto remakes de antigas histórias criadas pelo próprio Stan Lee. Veja como a capa abaixo é essencialmente igual aquela outra, lá de cima, do primeiro gibo do Aranha:
Com a chegada da segunda década do século XXI, Lee começou a fazer trabalhos diferentes. Assinou uma parceria com a empresa japonesa Bonespara publicar o titulo Heroman, que se tornou seu primeiro trabalho com mangás. Em outubro de 2010 sua empresa SLG Enterteinment começou a trabalhar com a The Guardian Project para criar super-heróis para servirem de mascotes a liga americana de hockey.
Assim como é de praxe para grandes artistas, Lee ganhou diversos prêmios, estando presente inclusive no Will Eisner Comic Book Hall of Fame e na lendária Calçada da Fama em Hollywood. Entre outros prêmios, Lee ganhou a National Medal of Arts em 2008, e em Los Angeles o dia 2 de outubro é conhecido como “O Dia de Stan Lee”.
Seja por suas pequenas pontas nos filmes da Marvel até as grandes publicações que trabalhou, Stan Lee é um grande herói por ter criado alguns dos personagens mais importantes do planeta. De sua mente brilhante, saíram histórias e personagens que alegram a vida de milhões de nerds (e não-nerds) mundo afora.
Então se algum dia você já sonhou em ser picado por uma aranha radioativa, vestir uma collant e sair por aí combatendo o crime, deve agradecer a Stan Lee. Uma lenda dos quadrinhos e da cultura pop. Um grande ser humano. O avô que todo mundo queria ter. Um legítimo herói do mundo nerd!
Aproveite e confira o primeiro homenageado deste nosso especial, o gênio Shigeru Miyamoto, criador de Mario, Zelda, e tantos outros clássicos da Nintendo!
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