Uma proposta de minutagem interpretativa da narrativa audiovisual do clássico de Leni Riefenstahl
Por Prof. Dr. Sílvio Henrique V. Barbosa
Faculdades Cásper Líbero e ESPM
CV: http://lattes.cnpq.br/6189660393475038
“… meu filme é apenas um documento. Mostrei aquilo que toda gente foi testemunha ou ouviu falar. E todos ficaram impressionados. Eu fui aquela que fixou essa impressão, quem a registrou em película.” (Leni Riefenstahl)1
00:03:04 – Cenas de nuvens. Não vistas de baixo como estamos acostumados, mas ali ao nosso lado, como se estivéssemos flutuando com elas. Sim, estamos no céu, voando com a imaginação e pelas lentes de Leni Riefenstahl, cineasta preferida de Adolf Hitler, escolhida por ele para criar a narrativa audiovisual mais importante do nazismo, registrando o mais crucial congresso do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista), de 4 a 10 de Setembro de 1934, na cidade de Nuremberg. 2
Por um minuto e nove segundos, admiramos o céu e podemos definir entre as nuvens, bem ao nosso lado, um avião. Uma aeronave com as insígnias do poder. O avião do chanceler Adolf Hitler.
00:04:13 – Agora, nosso foco visual muda. Deixamos de olhar para o próprio céu e passamos a ver o que está no solo. Lá embaixo surge a velha cidade de Nuremberg, fundada como um castelo no Século 11. A cidade com quase mil anos tem forte simbologia para o próprio Partido Nazista, criado naquele mesmo estado, a Baviera. É ali que acontecem os congressos do Partido Nacional Socialista desde sua fase ainda embrionária, em 1927, repetindo-se em 1929 e, depois, já com Hitler no poder, anualmente de 1933 a 1939, quando tem início a Segunda Guerra Mundial. Nuremberg, a cidade quase milenar lembra aos alemães a promessa de Adolf Hitler, a de construir um novo Reich, um império para durar outros mil anos. 3
Durante um minuto e 16 segundos, vemos a cidade do alto e, em determinado momento, o avião lança sua sombra sobre os prédios históricos. A sombra do avião de Hitler, por curtos nove segundos, nos traz à lembrança importantes mitos.
O formato do avião lembra a sombra de um grande pássaro, remetendo os alemães à imagem da águia, o símbolo do Império Romano, animal que representa em diferentes culturas o Ser Divino porque pode voar junto ao sol, e que agora é adotado como símbolo, ao lado da cruz gamada, a suástica, do Nazismo.
Como explica Rovai (2005:143) “A imagem da sombra do avião parece tornar um só o líder do Reich e o seu símbolo soberano, a águia.” É como se Hitler, metamorfoseado, não em barata, como pensou Franz Kafka, mas nesse belo símbolo ancestral do poder divino, estivesse de asas abertas voando sobre o mundo dos mortais.
Wilkinson e Philip (2009:03) complementam que o mito “é elemento essencial de todas as religiões. Surge na forma de histórias que abrangem crenças sobre a natureza humana, a do divino e a aliança entre as duas”.
Mas como essa águia, que aparecerá em muitos outros momentos do espetáculo-documentário, que é um símbolo de poder de povos tão distantes de nós no tempo, pode nos levar a associá-la com o Divino no mundo contemporâneo? Pode porque os mitos estão presentes e são captados por nosso inconsciente. Os símbolos provêm do que Carl Jung chamou de “o inconsciente coletivo”, ou seja, a parte da psique que retém e transmite a herança psicológica comum da humanidade. 4
A águia, símbolo de força e beleza, que circula entre o céu, morada dos deuses, e a terra em que vivemos, em algum momento lá atrás, na pré-história, conquistou do homem primitivo a posição de porta-voz divino. E a manteve durante reinos e impérios, nas mais diversas culturas, das pradarias do Oeste americano, às estepes siberianas.5
A imagem da águia, a meu ver encontra-se na definição junguiana de símbolo natural, o qual podemos decifrar chegando às origens mais arcaicas, “isto é, ideias e imagens que vamos encontrar nos mais antigos registros e nas mais primitivas sociedades” (Jung, 2008:117).
Carl Jung distingue o símbolo natural do símbolo cultural, empregado para expressar “verdades eternas e que ainda são utilizados pelas religiões, tendo passado por inúmeras transformações e processo de elaboração mais ou menos conscientes, tornando-se assim imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas” (Jung, 2008:117).
O retorno do Messias
“Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém”. Apocalipse 1:7
Sobrepondo-se à imagem divina representada pelo formato da águia, que surge como um símbolo natural, ainda que tenha sido resgatado dos livros de história e trazido para estandartes e bandeiras nazistas, há a presença ainda mais clara do símbolo cultural, este ainda vivo na memória e nas tradições religiosas dos alemães. A sombra sobre os prédios históricos de Nuremberg lembra a mais importante referência da fé dominante da Alemanha. As asas abertas do avião de Hitler lançam sobre Nuremberg a sombra em formato de cruz, símbolo do sofrimento, do martírio, mas também da vitória da vida sobre a morte.
O Messias ressuscitado, diz o livro sagrado dos cristãos, retornará ao mundo dos homens para livrá-los das injustiças, do sofrimento, enfim, de todo o Mal.
Conforme Wilkinson e Philip (2005:3), os mitos “são ambíguos e sutis, contém vários significados. Não são fixos, mas flexíveis: adaptam-se a mudanças e a novos conhecimentos”.
Leni Riefenstahl soube trabalhar na narrativa audiovisual esses mitos, as duas simbologias, a pré-cristã, representada pela águia, e a cristã, pela cruz, dando movimento a elas na linguagem audiovisual. Como a águia dos pagãos, a cruz dos cristãos também fala forte ao povo alemão. E ambas indicam a mesma coisa: o ser divino, o enviado, o Messias, retorna do céu para acabar com o sofrimento do povo, com a vergonha da derrota na 1º Guerra Mundial, com a divisão de partidos fracos e corruptos, com o risco de caos social, com a crise econômica e o desemprego, com o medo do avanço vermelho sobre a Alemanha. Adolf Hitler, que encarna esse Messias do povo alemão, merecia ser retratado assim aos olhos da diretora.
E por fim, mas não menos importante, a águia nunca é representada sozinha. O pássaro que voa até o sol, símbolo maior da divindade, segura a seus pés a suástica, a cruz gamada, representação ancestral do mito solar, da força divina que faz jorrar a vida sobre o universo.
São apenas nove segundos de sombra sobre a bela cidade e, então, perdemos de vista essa imagem divina – do Cristo ou da águia, dependendo de quem a lê – para vermos, do alto, a movimentação uniforme, perfeita, de homens marchando.
Mais alguns segundos, 33 para ser mais preciso, e trocamos o céu e o que vemos de lá, pelo solo.
00:05:29 – A câmera que filma do céu finalmente nos deixa e podemos ver o mundo agora com os olhos de quem têm os pés no chão. São cenas, no aeródromo, de pessoas claramente excitadas com a aproximação do avião do líder. Faces alegres e bonitas, rostos felizes, homens, mulheres e crianças, muitas crianças. Uma plateia seleta, escolhida a dedo como a claque de um programa de auditório.
00:05:57 – O líder tão aguardado ainda não apareceu. Mas há uma profusão de braços erguidos na nova saudação que o país inteiro está adotando. Nova saudação? O braço erguido e o grito de “heil” nada tem de novo. A saudação vem na verdade de Roma. Os césares eram saudados assim pela população quando apareciam em público. O “Ave Cesar“ tem uma conotação nitidamente religiosa. César é a representação viva dos deuses. Um Deus que deve ser adorado na forma humana. Portanto, o ave em latim, ganha a conotação de um salve com tom sagrado.
Da mesma forma em alemão, o heil tem um claro significado religioso; o Ave Maria, em alemão vira Heil Maria. Saúda-se, portanto, o novo Messias da mesma forma como os católicos oram em alemão para a mãe de Deus, ou como as demais denominações cristãs se referem aos atos divinos.
00:06:03 – Finalmente, a primeira apoteose do filme. Aquele que vem do céu, que atravessa as nuvens, aparece na porta do avião. Acena, sorri. O Messias, enfim, está entre seu povo. Ele segue, ovacionado, do aeródromo para o centro da cidade, numa longa carreata, em carro aberto, filmado por todos os ângulos possíveis: pela direita, pela esquerda, pela frente, por cima, e até mesmo por um cinegrafista invisível posicionado bem atrás do líder. Invisível porque disfarçado de oficial nazista, usando uniforme como todos os demais 44 cinegrafistas e assistentes, de uma equipe técnica com 170 pessoas, talvez a maior da história do cinema.6
00:07:33 – Em meio ao cortejo, que dura quase 4 minutos, e no qual todas as atenções estão voltadas para Adolf Hitler, o invisível torna-se visível pela primeira vez, não por descuido de Leni na hora da montagem do filme, mas por absoluta falta de opção no corte de imagens. Um cinegrafista aparece numa rápida imagem, no canto esquerdo da tela, num cena que, se cortada pela perfeccionista diretora, tiraria a sensação de continuidade oferecida pelos inúmeros ângulos em que o desfile acontece. Algo que certamente passou despercebido pelas multidões que viram o filme nos cinemas nos anos 30, mas que, com a ajuda do slow motion ou do pause, não escapa mais ao olhar atento do observador.
00:08:02 – O sorridente líder, aclamado pela eufórica multidão que lota as ruas, é surpreendido por uma mulher e uma criança que, desrespeitando os cordões de segurança que impedem as pessoas de deixaram as calçadas, aparecem convenientemente à frente do cortejo. O carro de Hitler para e ele recebe da criança um buquê de flores.
Mãe e filha, profundamente agradecidas pelo gesto carinhoso do homem mais poderoso da Alemanha, sorriem e fazem a saudação nazista enquanto o carro parte mais uma vez. Com essa singela imagem, Leni Riefenstahl estabelece o padrão que pautará todos os marqueteiros políticos dos anos 30 do século passado para cá. Desde que ela imortalizou o gesto afetivo do pai do povo com seus filhos mais frágeis, as crianças, tornou-se regra associar a imagem carinhosa do candidato aos pequenos. É pensamento dominante que alguém que se preocupa com crianças, preocupa-se com o futuro e a continuidade de nosso nome, nossa família, nossa tribo, clã, estado, país, império, civilização, espécie…. Enfim, esse homem só pode ser do Bem.
O carinho do governante por seu povo, como o do pai pelo filho, também é assim representado porque, afinal, Hitler não é casado e não tem filhos. Ele é aquele que se sacrifica por seu povo, numa vida austera, sem espaço para as distrações familiares. A única exceção aceita é a presença da companheira Eva Braun, com quem casará em maio de 1945, pouco antes de se matarem no bunker em Berlim. Ela é uma comerciária a quem é apresentado logo após o suicídio de sua sobrinha e então companheira ainda em 1932, dois anos antes, portanto dessa grande celebração. “Assim como o vegetarianismo e os hábitos de não fumar e não beber, a recusa em se casar projetava uma imagem de elevação acima do humano normal”, diz Richard Evans, professor de história da Universidade de Cambridge, em entrevista à Revista Galileu.7
Uma tentativa, talvez, de alcançar à definição de Nietsche do Super-Homem, o Übermensch, o Além-do-Homem, aquele que “é a autossupressão do homem, pois o superou e pode, assim, prescindir dele… Porque teria as mesmas características do Deus anterior, agora projetadas nele próprio, com outro homem, como um super-homem.”8
00:08:38 – O cortejo segue e o documentário ganha ares de um passeio turístico pelo centro medieval de Nuremberg. A câmera se detém nos palacetes, nas casas, nos monumentos que falam de um passado de glória, um passado idealizado ainda mais diante da grave crise econômica que o país enfrenta desde a derrota na I Guerra Mundial. São imagens que buscam neutralizar o gosto amargo deixado pelos recentes anos de hiperinflação.
E em meio ao passeio pela arquitetura de Nuremberg, um close numa janela no alto de um prédio. Close que não mostra pessoas saudando Hitler, mas apenas um gato, sentado ao lado de uma bandeira nazista que tremula ao vento. A diretora gosta de gatos? Daí o close no bichano na janela… Pode ser, mas a imagem tão singela demonstra algo mais sério… que o nazismo já faz parte da vida mais mundana, das cenas mais comuns, da vida doméstica, do cotidiano, enfim, do povo alemão.
E o desfile chega ao fim com a entrada de Hitler no hotel. Em meio a novas ovações, mais rostos alegres, olhares dedicados, o líder aparece na sacada da janela para saudar seu povo ainda uma vez antes do repouso.
00:11:15 – A noite cai sobre Nuremberg, mas o show precisa continuar. Formações nazistas, iluminadas por tochas desfilam ao som de fanfarras, numa serenata militar para toda a cidade. O fogo brilhando a noite, mais uma vez, remete à simbologia, dessa vez a germânica, também chamada de escandinava ou viking. O fogo com seu poder destruidor é também construtor da civilização. O fogo representa o poder dos deuses pagãos, como Odin e Thor. Para os gregos, Prometeu o roubou dos deuses e o entregou aos homens, permitindo o progresso de nossa espécie. O fogo aquece o alimento, ajuda a forjar a arma e o arado, clareia a noite e afasta os predadores e o inimigo.9
00:14:00 – Dois minutos e 45 segundos depois, e já temos o amanhecer de uma cidade ainda sonolenta. As janelas se abrem e revelam o dia nascendo com as bandeiras nazistas que tremulam nos prédios medievais. Temos mais uma sequência que lembra um passeio turístico, vendo canais e fachadas de belas construções.
00:15:54 – E é nos arredores de Nuremberg que a movimentação está realmente acontecendo. O gigantesco acampamento dos militantes hitleristas desperta em festa. Barracas enfileiradas, como num acampamento militar. Jovens sem camisa, que mostram o dorso, numa época ainda conservadora. Dorsos que reforçam o ideal nazista da saúde, da beleza, enfim, da perfeição de uma suposta raça superior, a ariana. Os mais brancos entre os brancos, os mais inteligentes e fortes entre os povos. Os destinados, segundo Adolf Hitler, a liderar a reconstrução de uma Europa branca, livre de povos inferiores, como os eslavos, os judeus e os ciganos, imigrantes racialmente inferiores que vieram da Ásia distante para roubar espaço dos legítimos povos que ali devem habitar. “A nação que não valorizar sua pureza racial irá perecer”, diz o líder no livro de cabeceira dos nazistas, o Minha Luta, e também, o líder das Frentes de Trabalho, Robert Ley, no discurso que fará no dia seguinte (00:31:34).10
O acampamento é formado por homens sadios e felizes, que brincam enquanto exercitam-se nas tarefas básicas de quem acampa. A câmera mostra o banho coletivo, o companheirismo daquele que ajuda o outro a se barbear, mostra a disputa saudável em torno do transporte da madeira para acender o fogo nos imensos caldeirões que preparam o desjejum. Mostra que não há espaço para o individualismo, mas para o trabalho em conjunto pelo bem comum.
Mesmo na encenação da luta romana, o que impera é o bom humor, com fartas gargalhadas em meio aos tombos. Mas voltemos à Nuremberg, que a essa altura já despertou completamente.
00:20:17 – As ruas estão novamente lotadas para assistir a mais uma cerimônia em homenagem a Adolf Hitler. Como num desfile carnavalesco, camponeses alemães fantasiados com trajes típicos de todas as regiões rurais do país, caminham pelo meio da rua ao som de músicas folclóricas. Uma profusão de imagens curtas, insertes, mostram closes de crianças e de jovens. Em cada grupo, há aqueles que carregam cestos com alimentos provenientes da terra. Temos um minuto e 20 segundos de desfiles, com camponeses saudáveis, bonitos, arianos, segundo a concepção nazista e, é claro, felizes, com largos sorrisos estampados, principalmente quando se posicionam em frente à Hitler para cumprimentarem-no. E então, novamente o mito é reaproveitado, é recontado e inserido na narrativa audiovisual de Leni Riefenstahl.
00:21:55 – Em meio às saudações com a mão direita erguida, os camponeses apresentam a Hitler os frutos da colheita. Uma cena sem sentido? Não, na verdade, ela representa a reconstituição das tradições pagas ligadas aos ciclos do planeta. A Terra oferece o sustento das populações na forma do alimento que fertiliza e faz crescer. Os deuses que cuidam das estações, da chuva, do sol, da própria fertilidade da terra, enfim, merecem um agradecimento. E as comunidades humanas, desde o Neolítico, oferecem a esses deuses frutos da primeira colheita. A tradição germânica, perdida com a ascensão do Cristianismo é agora retomada. Os muitos deuses pagãos são incorporados agora pelo Übermensch, o super-homem nietzschiano.
Aquele, que no início do documentário, chega dos céus trazendo esperança, recebe as oferendas de seus crentes.
00:22:30 – Depois de ser saudado pelo povo nas ruas, de quem recebe flores, pelos camponeses com suas oferendas em forma de frutos da terra, é a vez de Hitler encontrar-se com seu exército, que oficialmente é um exército de trabalhadores, que formam a Frente de Trabalho Alemã. Pelas cláusulas do tratado que encerrou a 1º Grande Guerra, a Alemanha derrotada deve se manter um país sem força agressiva. Forças armadas apenas para a defesa. Adolf Hitler dribla facilmente essa ordem colocando centenas de milhares de alemães em unidades de força de trabalho com nítido caráter paramilitar. Eles se enfileiram em formação militar. Homens que seguem o manual racial do nazismo. As mesmas faces com traços da perfeição estereotipada exigida pela nova ideologia no poder. Trabalhadores que vestem uniforme militar e que tem, no ombro, não a bandeira alemã, mas a suástica.
Hitler despede-se das ruas para dirigir-se à abertura do congresso. E recebe na sua partida da frente do hotel, os sorrisos, acenos alegres e, é claro, muitas saudações com o braço erguido, de adultos e crianças, trabalhadores e camponeses, mostrados em imagens abertas intercaladas por closes que ilustram o sentimento de alegria do momento.
00:24:38 – A águia, símbolo do partido aparece iluminada com um único facho, num ambiente escuro, que a legenda nos diz ser o salão onde acontece o congresso do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. A águia de asas abertas está pousada sobre o outro símbolo do partido, a suástica. A segunda apoteose do documentário acontece nesse palácio, onde estão presentes os diplomatas dos países aliados da Alemanha, os representantes do partido, das forças armadas e das principais igrejas alemãs, menos a judaica, por motivos óbvios. Tem início o discurso de Rudolf Hess, braço direito de Hitler.
00:28:20, Uma sucessão de frases apologéticas dos representantes do partido, intercaladas por aplausos constantes e ovações, culmina com a saudação ao líder, visto em insertes (closes) em vários momentos dos discursos: Sig Heil!, Sig Heil!, Sig Heil, diz Rudolf Hess, olhando para o próprio Hitler, que imediatamente levanta para receber, também com o braço direito erguido, as saudações de uma multidão em delírio.
00:33:18 – Em meio a tantos discursos de lideranças nazistas – todos editados em seus momentos mais relevantes – em homenagem à nova Alemanha e à sua representação materializada na forma de Adolf Hitler, o Ministro da Propaganda, Josef Goebbels credita ao carisma de Hitler o entusiasmo dos alemães pelo nazismo, porque segundo ele, “pode ser bom possuir o poder baseado na força, mas é melhor ganhar e segurar o coração das pessoas”. Uma frase bem ao oposto do recomendado por Maquiavel ao Príncipe, a quem acha melhor “ser temido, que amado pelo povo”, como forma de perpetuação no poder. Independentemente do discurso de Goebbels, o novo líder já é temido de forma radical, pois ele mostrou sua força há menos de dois meses do congresso, no massacre contra rivais dentro do próprio partido, na chamada Noite das Facas Longas, em que 85 pessoas foram assassinadas ou presas para serem fuziladas nos dias seguintes.
Apenas 19 meses antes, nas eleições de 5 de março de 1933, os nazistas conquistaram a vitória com 17 milhões de votos, mas os partidos de esquerda, entre eles os marxistas, conquistaram nada menos que 12 milhões de votos. A eleição mostrou que Hitler e seu partido tinham ainda forte oposição no eleitorado. Em 1934, essa falta de consenso das urnas soma-se à uma disputa de poder dentro do próprio partido. Ernst Rœhm, companheiro de primeira hora de Adolf Hitler e criador das forças de assalto, as temidas SA (Sturmabteilung), que realizavam ataques constantes a militantes de outros partidos, exigiu de Hitler o cargo de Ministro da Defesa e o controle sobre o exército alemão, de apenas cem mil homens contra os 3 milhões de milicianos paramilitares das SA.
Temendo perder o controle do partido para Roehm, Hitler ordenou o massacre das lideranças da SA, aproveitando-se para eliminar também outros opositores políticos, como o líder da Liga Católica Alemã. Na “Noite dos Punhais Longos”, em 30 de junho de 1934, e nos dias seguintes, 85 pessoas presas e assassinadas. Hitler justificou o massacre à sociedade dizendo que foi uma forma do estado se defender de traidores, amparando-se em documentos falsos que mostrariam que Roehm receberia subornos da França para tirar Hitler do poder.
Após esse derramamento de sangue, Hitler precisava mostrar à Alemanha e ao mundo que seu poder junto às facções nazistas, ao exército e ao próprio povo, estava consolidado. Foi para provar essa unidade e reforçar sua imagem como máximo dirigente do país que Adolf Hitler decidiu tornar o Congresso do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães uma experiência inesquecível, que apresentaria, enfim, os ideais nazistas ao mundo.
O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens)
A encenação espetacular deveria causar a mesma sensação da monumentalidade do Nazismo aos presentes e a quem, em seguida, visse os cinedocumentários e, em especial, o documento oficial de divulgação do partido, o documentário que Hitler encomendou à própria Leni Riefenstahl.
A atriz que resolveu dirigir os próprios filmes conquistou Hitler e as plateias alemãs com o sucesso A Luz Azul (Das Blaue Licht), tornando-se uma profissional com trânsito livre no círculo do poder e conseguiu verbas e condições de filmagem exclusivas, com direito a acesso direto à Adolf Hitler para discutir seu roteiro de filmagem e a ótica sob a qual deveria imortalizar Hitler em película.
Uma ótica, como se percebe, mítica, que explora os símbolos da cosmologia germânica e da cosmologia cristã, mostrando o nazismo como a força que recupera as glórias do passado pré-cristão para conduzir a Alemanha ao seu grande futuro.
O plano mítico do documentário fica claro desde o início com o título escolhido: O Triunfo da Vontade.
A que vontade ele se refere: a do dividido povo alemão que deu a vitória a Hitler nas urnas? À vontade dos seguidores de Hitler, que de um partido com duas dezenas de homens se tornou a maior força política da Alemanha? Ou à vontade do próprio Adolf Hitler, que de artista plástico fracassado em sua terra natal, a Áustria, onde foi rejeitado pelas Belas Artes de Viena, tornou-se o líder absoluto da Alemanha?
É em Nietzsche que busco a resposta, pois o filósofo que criou a noção de super-homem afirma que o Ubermensch (…)”é o que tem vontade forte e que se supera porque tem essa vontade”. 11
Adolf Hitler conhece o pensamento do filósofo, morto em 1900. Apesar de não tê-lo conhecimento, Hitler conquista a adoração de Therese Förster-Nietzsche, única irmã e responsável pela publicação das obras póstumas do pensador. Ela própria defensora dos ideais de supremacia racial, Therese participou de uma tentativa frustrada de criar uma colônia ariana no Paraguai. De volta à Alemanha, assumiu as publicações do irmão e, em 1930, filiou-se ao Partido Nazista, incentivando a reinterpretação do pensamento de Nietzsche ao bel-prazer de Hitler. Ela própria, em entrevistas, apontava o líder nazista como a encarnação do super-homem.
Mas a obra do filósofo, mesmo que distorcida e usada de má fé, não foi a única a embasar teoricamente o nazismo. O teórico Alfred Rosemberg, este sim considerado como o grande ideólogo de Hitler em suas posições racistas sobre a suposta superioridade da raça ariana afirmava que: “A arte germânica é ação, isto é, vontade posta em forma”. E no esforço para transformar essa vontade em ação, era preciso convencer os alemães de quão poderosos seriam se aceitassem trabalhar em conjunto sob as ordens de um único líder para realizar a promessa de criar um império de mil anos. O convencimento do povo dependia, segundo ele, de usar os mitos dentro de experiências vividas, através de realidades visuais como símbolos e rituais, caracterizados pela águia, suástica, uniformes, saudações, paradas, rituais. “É próprio da natureza do mito à personificação em uma figura, em um tipo que se destaca de um cenário”.
A tragédia que se avizinha dos alemães, às voltas com um líder populista que quer o retorno do grande império, na verdade, foi escrita no século anterior, por outro grande alemão, o compositor Richard Wagner. Na ópera Rienzi, o personagem principal nasce de uma história real, a de Cola di Rienzi (1313-1354), um líder populista da Roma medieval que tentou reformar a cidade baseado numa autocracia, caiu em desgraça e morreu por seu sonho fracassado. Defendia a ideia de que o Estado secular está contido na pessoa do líder e máxima autoridade, de modo que “ele, e somente ele, seria a expressão da vontade popular”. 12
00:35:50 – “Uma nação, um líder, um Reich, uma Alemanha” – Com essa frase, os trabalhadores alemães, ensaiados e ao mesmo tempo, saúdam Adolf Hitler e resumem o futuro de todos sob suas ordens. O evento reúne 52 mil homens das forças de trabalho criadas por seu governo para reduzir o desemprego no país. Os trabalhadores se apresentam uniformizados e usando a suástica no ombro. Carregam pás e em formação militar, as manipulam como se fossem armas. Um exército de operários que em mais alguns anos será revelado ao mundo como a mais eficaz força de combate da história.
O linguagem cinematográfica repete os ângulos, abusando do close dos soldados que são mostrados revelando de que região vieram para servir a Hitler.
00:37:50 – O soldado que comanda o jogral repetido por milhares de homens agora é o centro absoluto das atenções e, com um olhos arregalados, num tom claramente fanatizado, lembra os mortos nas derrotas alemãs. Enquanto isso, a banda marcial toca com as bandeiras alemãs sendo abaixadas até o solo para lembrar as derrotas.
00:38:50 – “Você não está morto. Está vivo, na Alemanha”. É a frase final do jogral. Com um corte de câmera, Leni insere o rosto sério de Hitler, impassível, que começa seu discurso alertando aos operários-soldados que toda a Alemanha os vê pela primeira vez.
Hitler revela o segredo! A encenação do Congresso, agora, torna-se um espetáculo oficialmente direcionado ao público de toda a Alemanha.
00:45:31 – Os jovens, o futuro… Hitler tem agora seu encontro com a Juventude Nazista, milhares de meninos que o saúdam com a mão direita levantada. Um encontro alegre, em que líderes do partido e o próprio Hitler esboçam sorrisos a todo o momento. Os jovens, como os operários, se apresentam com a mesma formação militar.
00:50:20 – “Queremos que sejam obedientes e vocês devem praticar a obediência”, discursa Hitler para os jovens. Na nova sociedade que está moldando, Hitler quer ordem e obediência acima de tudo! E ao final desse discurso, o líder, como sempre, é muito aplaudido e saudado. As câmeras por trás da multidão que lota o estádio mostram a visão de Hitler deixando o local no carro aberto, sendo intensamente ovacionado, enquanto o hino nazista é cantado com os braços erguidos na saudação nazista.
00:55:57 – Hitler agora acompanha exercícios militares. Enquanto soldados a cavalo ou em veículos realizam manobras, ele dá risadas ao lado do comandante do exército, força a quem precisa agradar para continuar avançando em direção ao controle total das instituições alemãs. No palanque oficial, portanto, o clima é de descontração. Com Hitler provando aos alemães que nem o exército, onde é forte a presença da aristocracia, se opõe a ele.
00:57:27 – Noite. O espetáculo do congresso agora ganha a dimensão de uma superprodução, de uma coreografia carnavalesca, com direito a título: Mares e bandeiras, e assinada pelo arquiteto de Hitler Albert Speers. Atuando como coreógrafo, ele cria o desfile de milhares de estandartes nazistas pelo campo Zeppelin, de pouso de dirigíveis. Como numa escola de samba, a ala apresenta tema próprio: Mares e bandeiras, rumo à apoteose, uma imensa estrutura vertical, iluminada por holofotes e batizada de Catedral das Luzes. Uma catedral pagã, onde em vez do Cristo na cruz, está a gigantesca águia que de asas abertas saúda os peregrinos pousada sobre a suástica.
No palanque, ou púlpito da falsa catedral, a pregação é claro, não é feita por um líder religioso, mas pelo próprio guia espiritual da nação, o Fuhrer.
01:04:00 – Dia. A gigantesca águia é mostrada num movimento horizontal, da cabeça aos pés, que seguram a suástica. Uma fusão nos leva do símbolo nazista à imagem, vista do alto, de três homens atravessando um mar de soldados cuidadosamente enfileirados. Numa nova referencia aos mitos judaico-cristãos, a cena nos remete imediatamente à de Moisés, que ao abrir o Mar Vermelho, permitiu a passagem de seu povo rumo à liberdade e à Terra Prometida.
A cerimônia é uma homenagem ao recém-falecido Presidente Hindemburg. Ao som da marcha fúnebre, Hitler se aproxima do panteão ladeado pelos líderes de suas duas forças paramilitares, as SA e as SS.
Sem prédios próximos para realizar essa imagem do alto, Leni cria a primeira grua efetiva da história do cinema, prendendo um pequeno elevador no mastro do pavilhão nazista.
01:07:26 – O elevador sobre e desce constantemente permitindo imagens perfeitas e amplas, movimentos subindo e descendo, registrando o mar de bandeiras nazistas que se move, como que por conta própria em direção ao palanque onde está o líder máximo. Closes mostram os soldados de negro, das SS, em marcha, em perfeita sintonia. Um balé cuidadosamente ensaiado.
01:11:25 – Na primeira referencia ao massacre de opositores e líderes da SA, Hitler afirma que são perdedores os que apostaram na divisão do movimento nazista. “Ele permanece firma como esta formação hoje”. Nessa cerimônia, que toma quase 11 minutos no documentário, não há espaço para demonstração de alegria. Hitler está sério, e ao som de tiros de canhão cumprimenta dezenas de soldados das SS e das SA sem esboçar o menor sorriso.
01:15:42 – Fade out a partir das bandeiras nazistas. Fade in. E amanhece o dia, com as câmeras de Leni novamente mostrando as bandeiras ao som de tranquila música. E o vento se encarrega de mostrar, por trás da bandeira que tremula, Hitler que se aproxima em carro aberto despedindo-se da população de Nuremberg.
São milhares de pessoas nas janelas, calçadas e arquibancadas acompanhando os desfiles das novas bandeiras apresentadas por Hitler às formações paramilitares. Em closes, Leni mostra e identifica com crédito em legenda um a um os dirigentes nazistas, sempre abaixo de Adolf Hitler, em pé no carro aberto, e que acompanha os desfiles com o braço direito levantado.
Trata-se de um grande desfile, como no carnaval, com as diferentes alas marchando até a Praça Adolf Hitler, no centro histórico de Nuremberg. Leni mostra essa festa militarizada de muitos ângulos, com câmeras posicionadas em prédios por toda parte e também espalhadas ao nível do solo, junto ao público.
Num ângulo especialmente feliz para um diretor, a câmera consegue captar os soldados da SS, unidade favorita de Hitler, marchando sob raios de sol que iluminam os homens de negro, dando-lhes uma aparência sagrada. A Guarda Negra traz o estandarte pessoal de Adolf Hitler e é aclamada euforicamente pela população que se espreme na praça.
01:34:40 – Hitler e seus comandantes entram agora no cenário final do espetáculo. O palácio onde o Congresso foi aberto, agora assiste ao discurso de encerramento. A águia até aqui vista por cima da suástica, muda de posição. Ela decora o palanque de Hitler, abaixo do líder. E lá atrás, na parede, bem acima de todos, está a suástica. Numa cena inédita em todo o documentário, é possível notar gotas de suor no rosto de Hitler, que exclama a grandeza e superioridade dos alemães: … “que sabe que ele é o portador do melhor sangue e conscientemente usa isto para atingir a liderança e nunca renunciar!”
01:44:15 – E como que explicando o título do filme, O Triunfo da Vontade, Hitler diz ser sua essa vontade: “É minha vontade e desejo que este Estado e este Reich possam resistir nos milênios por vir. Podemos ser felizes sabendo que este futuro nos pertence completamente.”
01:14:51 – Close no rosto do Bispo Ludwig Müller, da Igreja Evangélica da Alemanha, que representa a maior denominação cristã do país. Um rápido inserte para demostrar que os cristãos apoiam o líder místico mesmo que este adote símbolos pagãos de poder.
01:48:04 – Após os intermináveis aplausos e gritos de Heil!, Rudolf Hess assume o microfone e diz, resumindo o objetivo do congresso e do próprio documentário: “O Partido é Hitler! Mas Hitler é a Alemanha, como a Alemanha é Hitler! Sig Heil “(Salve a Vitória)
O hino do partido é cantado por todos os presentes, enquanto Leni intercala imagens das pessoas com uma fusão para a suástica e dela para soldados marchando, como pede a letra da música. Cena final… Fade out.
CONCLUSÃO
O Triunfo da Vontade inicia-se com uma trilha sonora orquestrada, ainda em black, que acompanha legendas explicando o momento histórico em que o congresso se realiza. O primeiro uso da simbologia antiga acontece aí. A águia de asas abertas, símbolo do poder, surge com as garras segurando a suástica, símbolo estilizado do sol, mas que, em vez de lançar seus raios de criação para o lado direito, no sentido horário, como a suástica solar, padrão mais tradicional de sua representação, aparece em ângulo invertido, lançando os raios para o lado esquerdo, a chamada suástica lunar, apresentada ainda com um agravante: um dos raios está apontado para baixo, o que as sociedades teosóficas interpretaram como sinal de que Adolf Hitler governaria com as forças da involução. 13
Em seguida, as informações sobre o próprio congresso, que acontece 20 anos após o início da 1º Guerra Mundial, 16 anos após o início do sofrimento, representado pela humilhante derrota, e 19 meses após o início do renascimento, ou seja, da vitória de Adolf Hitler, tornando-se chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha.
O renascimento é representado por aquele que é a união de dois mitos, o do messias e do herói. O Messias, o que vem do céu na forma de águia ou de cruz, aparece na narrativa audiovisual de Leni Riefenstahl como o divisor de águas da Alemanha, tal qual Moisés abrindo o mar Vermelho. Já o herói é aquele que com determinação supera os percalços do passado e as humilhações que enfrentou, numa reprodução do que foi vivido por todo o país após a derrota na 1º Guerra, para apresentar ao povo a esperança de um futuro melhor. A teatralidade presente nos discursos e na encenação em torno da aparição do líder reforça a personalidade carismática e messiânica. Ele e somente ele era um indivíduo em meio às massas de operários, milicianos, do povo. Ele era o Führer, que deveria ser admirado de forma obedientemente cega.
Obediência que Leni levou ao pé da letra, ao retratá-lo como um Deus, o novo guia espiritual da Alemanha. Dessa forma, Leni, aclamada como um dos mais importantes cineastas da história, mas que não escapou do julgamento da própria história, recebendo pelo resto da longa vida a pecha de cineasta de Hitler ou a deusa imperfeita, cumpriu com absoluto rigor técnico o objetivo de retratar a grandiosidade do regime nazista e de enaltecer a figura de Hitler.
Defendendo-se dos muitos acusadores ao longo da segunda metade do século 20, Leni afirmou que sua obra era tão somente um documento daquilo que toda gente foi testemunha ou ouviu falar, numa tentativa de explicação que viria, em nossos dias, ao encontro do documentarista Bill Nichols de que “o documentário (gênero audiovisual) reapresenta o mundo histórico, fazendo um registro indexado dele; ele representa o mundo histórico, moldando seu registro de uma perspectiva ou de um ponto de vista distinto. A evidência da reapresentação sustenta o argumento ou a perspectiva da representação”.14
Para Josep Catalá: “a imagem converte-se na representação mais genuína da realidade social, da realidade tal como é imaginada e, por isso, tal como é vivida e utilizada”.15
“Vistos sem preconceitos ideológicos, os documentários de Riefenstahl são obviamente exercícios de estilo, pesquisas de técnicas, iluminação e ângulos” afirma Hugo Estenssoro. 16 Trata-se de uma narrativa audiovisual trabalhada com rigor estético que reverte no embelezamento plástico do congresso.
Leni cumpriu fielmente o dever para com seu mecenas, que além desse documentário irá financiar outras obras assinadas pela diretora, como o duplo documentário Olympia, primeira cobertura audiovisual integral de uma olímpiada, a de 1936, em Berlim, e o romance “Terras Baixas” (Tiefland), que, gravado durante a guerra, e no qual usou mão de obra escrava, de prisioneiros ciganos “emprestados” de campos de concentração, só ficou pronto realmente em 1954, após ela ter cumprido a pena de três anos de detenção decretada pelo tribunal de desnazificação criado pelas países aliados.
Em 2002, aos cem anos, Leni fechou um acordo com representantes da comunidade cigana alemã admitindo o que negara até então, que os ciganos foram perseguidos e exterminados pelos nazistas durante a guerra.
Questões ideológicas que sempre definiram a análise da obra dessa grande cineasta deixam, pouco a pouco, de influenciar nossa visão sobre esse trabalho. Entretanto, do ponto de vista ético, jamais poderemos entender como a busca pela perfeição técnica pode tê-la levado a deixar de lado tantas questões morais tão relevantes para a humanidade.
Uma versão reduzida e focalizando a importância da cidade de Nuremberg foi publicada no livro A Cidade e a Imagem, do Grupo de Pesquisa de Comunicação e Cultura Visual, do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero.
Bibliografia:
BACH, Steven. Leni, A vida e Obra de leni Riefenstahl. São Paulo: Casa das Letras, 2007.
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Palas Athenas, 2007.
CATALÀ, Josep. Problemas de la representación del espacio y el tempo em la imagen. Portalcomunicación.com.
DIEHL, Paula. Propaganda e persuasão na Alemanha nazista. São Paulo: Annablume, 1996.
ESTENSSORO, Hugo. “A Interpretação de Leni”. In: Revista Bravo! Nº. 44. São Paulo: 2001, pgs. 26-34.
GALISI, José. “A Simbologia da Culpa.” In: Revista Bravo! Nº. 44. São Paulo: 2001. Pp 35-37.
HITLER, Adolf. Minha Luta. São Paulo: Centauro, 2001.
JUNG, Carl. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. São Paulo: Papirus Editora, 2005.
O’CONNELL, Mark e AIREY, Raje. O Grande Livro dos Signos e Símbolos. São Paulo: Escala, 2010.
RODRIGUES, Ana Elisabeth. O Triunfo da Vontade: o cinema a serviço da ideologia. In O Olho da História, n 11, dezembro de 2008. http://www.oolhodahistoria.org/n11/textos/elizabethfaro.pdf
ROTHER, Rainer. A simbologia da culpa. In: Revista Bravo! Nº. 44. São Paulo: 2001, pgs. 35-37.
Site oficial de Leni Riefenstahl – http://www.leni-riefenstahl.de
SOUSA, Mauro Araujo. Alma em Nietsche: a concepção de espírito para o filósofo alemão. São Paulo: Leya, 2013.
WILKINSON, Philip e PHILIP, Neil. Guia Ilustrado Zahar de Mitologia. São Paulo: Zahar, 2009.
FILMOGRAFIA:
RIEFENSTAHL, Leni. O Triunfo da Vontade. Alemanha, 1936.
1 Entrevista de Leni Riefenstahl, em 1965, aos Cahiers du Cinema.
2 Neste congresso, Adolf Hitler precisa provar aos alemães e ao mundo que é o líder inconteste do Partido Nazista apenas dois meses após o expurgo que levou ao assassinato de 85 pessoas, quase todos nazistas ligados às forças paramilitares as SA (Sturmabteilung), com três milhões de milicianos.
3 Minha Luta, Adolf Hitler.
4 Carl Jung, 2008
5 O Poder do Mito, Joseph Campbell.
6 In O triunfo da vontade: o cinema a serviço da ideologia, Ana Elisabeth Rodrigues explica que “a equipe trabalhou durante uma semana, filmando mais de cinquenta horas de filme em diversos ângulos, muitos inovadores para a época(…) A ideia que guiou Riefenstahl foi de que o filme seria composto por imagens em movimento infindável. O movimento dos objetos é apoiado por uma dinâmica, produzida por técnicas cinematográficas, como as panorâmicas, os travelings, a câmera para cima e para baixo, os variados posicionamentos de câmera.” In http://www.oolhodahistoria.org/n11/textos/elizabethfaro.pdf
7 Revista Galileu Edição 193 – Agosto de 2007. http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG78263-7855-193-3,00-O+MAIOR+SEGREDO+DO+III+REICH.html
8 Mauro Araujo Sousa, pg 104.
9 O Grande Livro dos Signos e Símbolos, pg. 200.
10 Minha Luta, Adolf Hitler
11 Mauro Araujo de Souza, op cit.
12 http://euterpe.blog.br/historia-da-musica/rienzi-de-wagner-e-seu-destino-infeliz
13 http://www.dicionariodesimbolos.com.br/searchController.do?hidArtigo=BBD28665570EF7A776DC6F873D41FA0D
14 Bill Nichols, 2005.
15 In Problemas de la representación del espacio y el tempo em la imagem. Portal Communicacion.com
16 Revista Bravo, n34, 2001. pg 31
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