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Defensores: Marvel anuncia oficialmente o lançamento da série que irá reunir Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro

Defensores: Marvel anuncia oficialmente o lançamento da série que irá reunir Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro

Começou ontem a Comic-Con de San Diego, o maior evento sobre quadrinhos, filmes e games do mundo, e as novidades começam a jorrar aos borbulhões. Dentre as notícias do primeiro dia está o lançamento oficial de Defensores, nova série de TV do acordo entre a Marvel Television e o canal de internet Netflix, com um programa que irá reunir os quatro heróis que têm suas próprias séries: Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Ao som de Come as you are, do Nirvana, o programa-evento foi anunciado para 2017.
O vídeo é apenas um teaser – as filmagens sequer começaram – e traz apenas a formação do nome da equipe, a partir das letras dos nomes dos personagens, e uma voz em off que, claramente, é do personagem Stick: “vocês acham que podem salvar Nova York? Vocês não conseguem salvar nem a si mesmos”.
Os Defensores: Luke Cage, Punho de Ferro, Demolidor e Jessica Jones.
Os Defensores: Luke Cage, Punho de Ferro, Demolidor e Jessica Jones.
(Para quem não conhece, Stick é um tipo de grande lutador que treinou o Demolidor quando jovem a usar suas habilidades especiais).
A inclusão de Stick e a imagem de uma mão por trás do logo do time no teaser sugerem que o vilão que irá unir os quatro heróis street level será o Tentáculo, uma misteriosa organização criminosa introduzida no programa do Demolidor.
E as versões da TV.
E as versões da TV.
O pacote Marvel Netflix envolve as séries: Demolidor (com duas temporadas), Jessica Jones (uma temporada), Luke Cage (irá estrear em breve) e Punho de Ferro (estreia em 2017). Depois dessas virá Os Defensores. Há programado ainda uma série do Justiceiro, que apareceu na 2ª temporada do Demolidor, mas não sabemos quando será. Inicialmente, a proposta do pacote era ter duas séries por ano, mas esse ritmo deve acelerar.
Existiu uma equipe chamada Defensores nos quadrinhos da Marvel, mas era formada por Dr. Estranho, Hulk, Namor e Surfista Prateado, personagens que não têm nenhum envolvimento com o universo criado na TV; sendo portanto, uma versão totalmente nova da equipe.

Demolidor: A Trajetória do homem sem medo nos quadrinhos (parte 2)

Demolidor: grandes histórias.
Demolidor: grandes histórias.
HQRock já publicou a primeira parte do Dossiê sobre o Demolidor, agora, entregamos a segunda parte.
Enquanto faz sucesso com sua primeira série de TV, o Demolidor, personagem publicado pela editora Marvel Comics, se torna cada vez mais famoso. Então, vamos conhecer como o homem sem medo foi desenvolvido em sua mídia original: as histórias em quadrinhos.
Na primeira parte, cobrimos os anos de 1964 a 1983, trazendo a criação do personagem na aurora da Marvel Comics; a sucessão de artistas que desenharam sua revista nas primeiras edições, como Bill Everett, Jack Kirby, Steve Ditko, Joe Orlando, Wally Wood, John Romita, Gene Colan, Marie Severin, Gil Kane, Bob Brown e outros; a introdução dos personagens coadjuvantes básicos, como Foggy Nelson e Karen Page; os vilões clássicos; as sucessivas temporadas de escritores como Stan Lee, Dennis O’Neil, Roy Thomas, Gerry Conway, Steve Gerber, Tony Isabella, Marv Wolfman, Jim Shooter, Roger McKensie; e, finalmente, a bombástica fase na qual o personagem foi escrito e desenhado por Frank Miller, que criou uma das sequências mais avassaladoras, importantes e revolucionárias da história dos quadrinhos sequenciais em todos os tempos.
A saída de Miller
Ultima edição de Miller... por um tempo.
Ultima edição de Miller… por um tempo.
Estamos em 1983 e Frank Miller (com a colaboração do artista Klaus Janson) encerra sua longa temporada na revista Daredevil na edição 191. O que fazer depois do altíssimo nível ao qual Miller imprimiu à revista? Era a grande questão para a Marvel. Desde sua criação, o Demolidor havia sido um personagem secundário da Marvel, jamais importante no grande esquema das coisas. Em pelo menos duas ocasiões a Marvel cogitou cancelar a revista Daredevil (antes de Gerry Conway assumi-la em 1971 e no meio da fase de Roger McKensie em 1979).
Frank Miller mudou tudo! A partir de Daredevil 168, de 1981, revista se tornou um dos pontos mais altos da Marvel em termos de criatividade. E as vendas também corresponderam: Daredevil se tornou uma das revistas mais vendidas da Marvel, disputando mercado com os arrasa-quarteirões de Amazing Spider-Man (do Homem-Aranha) e Uncanny X-Men. Miller virou uma celebridade na indústria das HQs e a aclamação da crítica veio rápido e intensa.
Quando o escritor/desenhista decide ir para outras paragens, o que resta à fazer? O Editor-Chefe da Marvel na época, Jim Shooter (que já tinha escrito a revista), achou que o único que poderia dar continuidade ao trabalho de Miller era Dennis O’Neil, que era o editor da revista Daredevil e fora o grande responsável por colocar não apenas Miller dentro da revista (primeiro como desenhista de Roger McKensie), mas fundamentalmente, por ter se arriscado a colocar aquele jovem e inexperiente artista no comando total de Daredevil.
Uma das edições escritas por Dennis O'Neil.
Uma das edições escritas por Dennis O’Neil.
Dennis O’Neil era, então, um veterano e consagrado escritor de quadrinhos, mas vinha de um momento difícil. Como já visto lá atrás na Parte 1 deste post, O’Neil começou sua carreira na Marvel Comics, como assistente de redação de Stan Lee ao lado de Roy Thomas. E apesar de ter escrito algumas revistas na Marvel em 1965 e 1966, como aventuras do Dr. Estranho e do próprio Demolidor; o jovem escritor terminou encontrando mais espaço na concorrente DC Comics, para onde migrou em seguida.
Na DC, O’Neil se tornou rapidamente um dos principais escritores da casa e revolucionou vários personagens no fim dos anos 1960, como Batman, Mulher-Maravilha, Liga da Justiça e o Superman. O escritor é mais famoso por sua longa e profícua fase no comando do Batman, a partir de 1970, quando ao lado do desenhista Neal Adams, criou uma série de personagens novos e aventuras que trouxeram o cavaleiro das trevas de volta para sua abordagem urbana e sombria (depois de alguns anos mais propenso à fanfarra influenciado por aquele seriado de TV). Outro grande trabalho de O’Neil foram as aventuras conjuntas do Lanterna Verde e do Arqueiro Verde, no qual os dois heróis tinham que lidar com problemas do mundo real, como desigualdade social, preconceito racial e consumo de drogas.
Porém, em meados dos anos 1970, a DC Comics passava por sérios problemas e Dennis O’Neil também não conseguia mais alçar a glória daqueles dias passados. Então, acabou se mudando de volta para a Marvel, onde foi trabalhar como editor. Entre as obrigações de O’Neil estava justamente cuidar das revistas do Homem-Aranha e do Demolidor. Ele supervisionou o trabalho de Marv Wolfman na primeira e de Miller na segunda e chegou, a partir de 1979, a ele próprio escrever as aventuras do cabeça de teia mais famoso dos quadrinhos.
Como editor, com a saída de Miller de Daredevil, O’Neil ainda encomendou duas edições a escritores avulsos como Alan Brennert e Larry Hama, mas terminou – à pedido de Jim Shooter – assumindo ele mesmo a revista, a partir da edição 194, em 1983.
A Fase de Dennis O’Neil
Demolidor, Mercenário e Yuriko na capa da edição 197.
Demolidor, Mercenário e Yuriko na capa da edição 197.
A temporada de Dennis O’Neil à frente do Demolidor como escritor não foi tão marcante, até porque veio na ressaca do trabalho de Miller. Porém, ele manteve o alto tom da revista e produziu algumas histórias muito boas. O artista Klaus Janson manteve-se como desenhista nas primeiras edições da nova fase, mas foi substituído por William Johnson.
Em primeiro lugar, O’Neil manteve o clima noir que vinha tanto da fase de Miller quanto da anterior, de McKensie, mas investiu em dar um pouco mais de humanidade a Matt Murdock. Assim, enquanto o Demolidor de Miller era praticamente um anti-herói, O’Neil faz Murdock se arrepender de suas atitudes extremas com o Mercenário (veja a parte 1) e lidar com as consequências. O escritor também trouxe Heather Glenn de volta à vida do advogado, como interesse amoroso.
Só que dessa vez, Heather têm que lidar com as consequências de saber que Matt é o Demolidor e do passado envolvendo a morte de seu pai: ela se tornou alcoólatra e sem-propósito.
Também amarrou algumas das consequências do arco de Miller, envolvendo o Rei do Crime, o Tentáculo e criando personagens como Yuriko Oyama (na edição 197), que teria maiores vinculações com Wolverine e os X-Men no futuro ao ser transformada na vilã Lady Letal. A trama deste arco mostrava Yuriko como filha do Lorde Vento Negro, um cientista que criou o processo de fundir o metal adamantium nos ossos humanos. O mesmo processo seria usado no Mercenário, fazendo o vilão poder voltar a andar e ser uma ameaça ao Demolidor.
Capa por David Mazzucchelli.
Capa por David Mazzucchelli.
No arco que se inicia na edição 196 e se encerra na comemorativa Daredevil 200, de 1983, por O’Neil e Johnson, vemos o Mercenário trair o Lorde Vento Negro e voltar a Nova York para se vingar do Demolidor (que lhe dá uma surra), enquanto Yuriko mata o próprio pai por não aceitar que ele seja um criminoso.
Pouco depois, a revista ganha um novo e grande ilustrador: David Mazzucchelli desenha a edição 206, depois algumas outras, até se tornar fixo a partir do número 210, de 1984. Com uma arte mais estilizada, de traços retos e expressivos, logo, marcaria seu nome na indústria dos quadrinhos. O’Neil e Mazzucchelli produziram arcos como The War on Micah Synn (edições 210 a 214) e The Second Secret (números 216 e 217).
Beliíssima capa de Daredevil 220, por Mazzucchelli.
Beliíssima capa de Daredevil 220, por Mazzucchelli.
Todavia, a história mais marcante da dupla foi Fog, publicada em Daredevil 220 e 221, de 1985, na qual Heather Glenn comete suicídio. O episódio tem grande efeito psicológico no Demolidor, que se sente culpado por não tê-la amado como ela precisava.
A fase de Dennis O’Neil se encerra em Daredevil 226, mas no número seguinte, ele e Frank Miller assinam uma história única chamada Warriors. Era a deixa para Miller voltar à revista por mais um tempo.
A morte de Heather Glenn, por O'Neil e Mazzucchelli.
A morte de Heather Glenn, por O’Neil e Mazzucchelli.
O’Neil, por sua vez, mudou-se novamente para a DC Comics, onde iria se tornar o editor das revistas do Batman, o personagem que revolucionara no passado. Seriam mais de dez anos na função na qual o escritor-editor continuaria a incrementar a vida do cavaleiro das trevas e ajudar na publicação de suas melhores histórias em todos os tempos.
A Queda de Murdock
Capa do encadernado "A Queda de Murdock" editado pela Panini.
Capa do encadernado “A Queda de Murdock” editado pela Panini.
O que fazer depois que você revoluciona os quadrinhos em uma revista mensal de super-herói? Voltar a ela dois anos depois e fazer ainda melhor!
Foi isso o que Frank Miller fez. Entre Daredevil 227 e 233, de 1986, o escritor voltou à revista – com desenhos de David Mazzucchelli – e produziu a clássica história Born Again, conhecida no Brasil como A Queda de Murdock. É a melhor história que escreveu sobre o Demolidor e uma das melhores histórias em quadrinhos em todos os tempos. Qualquer ranking com “as melhores HQs de todos os tempos” tem que ter esta no Top5. Pelo menos. Uma grande história.
Desesperado, Murdock investe contra o Rei do Crime.
Desesperado, Murdock investe contra o Rei do Crime.
trama é fantástica: Karen Page retorna – depois de uma década desaparecida – e é agora uma ex-atriz de Hollywood, viciada em cocaína e que faz filmes pornôs ou programas como maneira de sustentar o vício. Em troca de mais uma dose, ela vende a identidade secreta do Demolidor! A informação irá parar nas mãos do Rei do Crime, que mata todos os que tiveram contato com tal dado.
Armando um plano meticuloso, Wilson Fisk consegue destruir a vida pessoal de Matt Murdock, caçando sua licença para advogar e todos os pedaços de sua vida. O herói sequer percebe o que está acontecendo e a decadência vai levando-o simplesmente à loucura! Murdock só percebe que o Rei do Crime está por trás de tudo quando este explode sua casa. Ainda assim, sem ter nada, o que resta a Murdock é ir ao escritório de Fisk e lutar com ele, mas debilitado e fora de si, o que resta ao homem sem medo é levar uma surra!
Cena icônica de "A Queda de Murdock" por Miller e Mazzucchelli.
Cena icônica de “A Queda de Murdock” por Miller e Mazzucchelli.
Na total sarjeta, Matt termina abrigado numa casa de repouso comandado por freiras, Matt conhece a irmã Maggie, alguém que ele suspeitará que seja sua mãe. Por fim, com o apoio de uma arrependida Karen Page, Matt vai se recuperando física e mentalmente, ao mesmo tempo em que o Rei do Crime contrata um louco psicótico chamado Bazuca para matá-lo, o que gera uma batalha enlouquecida e destruidora no meio da Cozinha do Inferno.
Frank Miller sempre criou uma psiquê profunda para Matt Murdock, mas Born Again explora suas nuances à perfeição. E ainda há o bônus da arte simplesmente sensacional de David Mazzuccelli, que realiza o melhor trabalho de sua vida, com linhas retas, expressivas e belíssimas. O arco de histórias foi um sucesso estrondoso e colocou o nome de Miller de novo na estratosfera.
Em breve, o escritor iria à DC Comics e, convidado pelo amigo Dennis O’Neil, produziria duas das melhores e mais famosas histórias do Batman: a minissérie O Cavaleiro das Trevas e o arco de histórias Ano Um(este com desenhos de Mazzucchelli) no qual reconta a origem do homem-morcego, publicadas em 1986 e 1987.
Pequeno Interlúdio
Capa de Klaus Janson para edição 235.
Capa de Klaus Janson para edição 235.
saída de Frank Miller do título desta vez foi abrupta. Talvez, sua saída esteja relacionada com a saída também de Dennis O’Neil, que voltou à DC Comics, permanecendo na função de editor e assumindo o controle do Batman, sendo o grande motivador da fortíssima fase que o personagem teria no fim dos anos 1980 e ao longo dos 90. Não deve ser coincidência Miller e Mazzuchelli terem migrado juntos para a DC e produzido Batman: Ano Um logo em seguida.
Assim, apesar de terem encerrado o arco A Queda de Murdock, Miller havia planejado outro arco em três partes que teria desenhos de Walt Simonson, na época um dos mais célebres desenhistas da Marvel, responsável por um grande trabalho na revista do Thor e também do X-Factor. Mas Miller não chegou a terminar o roteiro e a história nunca foi publicada.
Bela capa de Keith Pollard para Daredevil 242.
Bela capa de Keith Pollard para Daredevil 242.
Assim, a saída da Marvel foi arranjar rapidamente um substituto, mas ela não conseguiu. A editoria de Daredevil ficou nas mãos de Ralph Machio, mas ele  não conseguiu encontrar um roteirista disponível (ou disposto) a assumir a revista. Assim, uma série de roteiristas, começando com Mark Gruenwald, produziram histórias tapa-buracos com desenhistas também provisórios.
Macchio ainda conseguiu que Steve Englehart assumisse a revista, mas terminou não dando certo. Englehart tinha sido um dos mais célebres roteiristas da Marvel nos anos 1970, produzindo fases clássicas de Vingadores, Capitão América, Dr. Estranho e mais. O escritor estava, na época, de volta à Marvel após uma década afastado e poderia ter feito um bom trabalho no personagem. Contudo, enfrentou problemas com a editoria da Marvel e terminou assinando apenas uma edição e ainda com o pseudônimo de John Harkness.
Ann Nocenti e John Romita Jr.
Demolidor versus Wolverine na edição 249.
Demolidor versus Wolverine na edição 249.
Daredevil encontrou uma escritora fixa a partir da edição 238, de 1987, com Ann Nocenti. Ela terminaria sendo a pessoa que por mais tempo escreveu a revista em todos os tempos, permanecendo por mais de quatro anos à frente do homem sem medo. Contudo, seu primeiro ano ainda contou com desenhistas não fixos.
Nocenti chegou na revista também como tapa-buraco, mas terminou ficando. Sua primeira edição criou uma conexão com a saga dos X-MenMassacre de Mutantes, pondo o homem sem medo numa luta contra Dentes de Sabre, o vilão que se tornaria o arquiinimigo de Wolverine em breve.
Aliás, a Marvel deve ter pensado que era uma boa ideia aproximar o Demolidor de outros personagens, para compensar a perda de popularidade causada pela saída de Frank Miller. Assim, o personagem foi uma das atrações da saga Guerra de Gangues do Homem-Aranha publicada na revista Amazing Spider-Man 284 a 289, de 1987. A trama reflete vários eventos referentes à revista do Demolidor – especificamente quanto ao Rei do Crime – e mostra o homem sem medo como um canalha: enganando o aracnídeo para garantir que Wilson Fisk tenha uma volta tranquila a Nova York. Por outro lado, a saga define que Matt Murdock e Peter Parker são grandes amigos desde que descobriram a identidade secreta um do outro (o que aconteceu em Spectacular Spider-Man 107, de 1985). (Saiba mais sobre as histórias do Aranha neste período clicando aqui).
Aproximações com os X-Men também continuaram, havendo uma luta entre o Demolidor e Wolverine em Daredevil 249, de 1987, por Ann Nocenti e Rick Leonardi.
John Romita Jr. chega à revista em Daredevil 250.
John Romita Jr. chega à revista em Daredevil 250.
O desenhista fixo de Daredevil viria na figura de John Romita Jr., o filho do lendário desenhista da Marvel que, coincidentemente, começara sua carreira na Marvel justamente no Demoldior. Romita, o pai, foi um dos artistas mais importantes da história da editora e seu Editor de Arte até o início dos anos 1990, tendo sido o criador visual de um sem-número de personagens, inclusive o vilão Mercenário.
Romita, o filho, começou a desenhar para a Marvel no fim dos anos 1970, ganhando destaque inicialmente nas histórias do Homem de Ferro, onde produziu o maior clássico da história daquele personagem: o arco Demônio na Garrafa. Depois, Romita Jr. produziu uma célebre passagem pela revista Amazing Spider-Man, ao lado do roteirista Roger Stern, entre 1982 e 1984, naquela que é uma das temporadas mais queridas dos fãs do cabeça de teia. Por fim, ele estava desenhando os X-Men quando achou que era hora de uma mudança de ares e assumiu a arte do Demolidor.
O Rei do Crime na arte de John Romita Jr.
O Rei do Crime na arte de John Romita Jr.
Outro ponto interessante é que a chegada no Demolidor coincide com o momento em que John Romita Jr. reformula o próprio traço. Ele iniciara sua arte com uma linha mais aredondada de tipo clássico não tão distante do que seu pai consagrara, mas ao longo do trabalho com os X-Men, o artista começou a experimentar usar linhas mais quadradas e obter um resultado totalmente diferente de expressão. Na revista Daredevil, ele radicalizou essa decisão e produziu uma arte arrebatadora, diferente e inovadora.
A estreia de Romita Jr. em Daredevil se deu na edição 250, de 1988, e dali iniciou uma profícua fase em que ele e Nocenti trataram de uma série de temas relevantes socialmente, como feminismo, meio ambiente e abuso de drogas.
Mary Typhoid: amante e assassina.
Mary Typhoid: amante e assassina.
A história ao qual a dupla é mais vinculada é ao arco Typhoid Mary or A Love Story, que traz a estreia de Mary Typhoid, uma vilã assassina e esquizofrênica, que é contratada pelo Rei do Crime para se “apaixonar” por Matt Murdock e, em seguida, destruir sua vida pessoal. A história foi publicada em Daredevil 254 a 263, de 1988 e 1989, e foi um grande sucesso, se tornando uma das mais célebres histórias do personagem pós-Miller.
Outra curiosidade é que o arco transcorre durante os eventos da saga Inferno dos X-Men, mais uma vez vinculando o homem sem medo ao universo mutante, mesmo que apenas de modo indireto.
Mefisto e o Demolidor: dois demônios.
Mefisto e o Demolidor: dois demônios.
A temporada de Nocenti e Romita Jr. também envolveu o bizarro envolvimento do Demolidor (sempre apelidado de demônio nas histórias) com o demônio de verdade da Marvel: Mefisto, produzindo tramas bizarras (pelo aspecto sobrenatural incomum ao personagem), mas também muito interessantes. Romita aproveitou seu novo estilo de arte para redesenhar o visual de Mefisto (criado pelo artista John Buscema nas histórias do Surfista Prateado no fim dos anos 1960) e lhe deu um aspecto muito mais assustador e demoníaco, que ficou sensacional, mas não foi usado por outros artistas da Marvel.
A dupla também criou Coração Negro, o “filho” de Mefisto, contra qual o Demolidor une forças ao Homem-Aranha numa batalha em Daredevil 270 e 271, de 1989. O personagem apareceu nos cinemas no filme Motoqueiro Fantasma – O Espírito da Vingança, de 2011.
Demolidor e Homem-Aranha contra o Coração Negro. Arte de John Romita Jr.
Demolidor e Homem-Aranha contra o Coração Negro. Arte de John Romita Jr.
Nocenti e Romita encerraram sua temporada em Daredevil 282, de 1990, numa trama na qual Matt Murdock se reconcilia com Foggy Nelson e decide ir atrás de Karen Page, que o abandonou por causa do romance dele com Mary Walker.
Aparecendo na TV
Hulk e o Demolidor: juntos na TV.
Hulk e o Demolidor: juntos na TV.
Após a tentativa frustrada dos anos 1970, a Marvel continuou tentando levar o Demolidor à TV. Quando as séries live action do Incrível Hulk e Homem-Aranha fizeram sucesso na ABC em 1977, a emissora logo encomendou outros produtos da editora: Capitão América chegou a ter dois telefilmes lançados, mas foram um fracasso; Doutor Estranho também teve um telefilme, mas não foi bem; e a Mulher-Hulk chegou a ter um piloto em produção, antes de tudo ir pelo ralo.
Em 1983, a ABC iniciou a pré-produção de uma série de TV do Demolidor, com o premiado roteirista Stirlling Silliphant produzindo até um roteiro, mas o projeto não foi adiante. Mas o homem sem medo terminou chegando às telas ainda assim: com o fim da série do Hulk, o ator e produtor Bill Bixby conseguiu encampar três telefilmes do gigante verde: A Volta do Incrível Hulk (1988), O Julgamento do Incrível Hulk (1989) e A Morte do Incrível Hulk (1990). E o homem sem medo aparece no segundo.
Na trama de O Julgamento do Incrível Hulk, o tal julgamento, na verdade, é um sonho de David Banner (vivido por Bixby – lembrem que na TV seu nome não era Bruce), mas a trama leva o personagem a uma grande metrópole (virtualmente, Nova York), onde se vê às voltas da batalha do advogado Matt Murdock contra Wilson Fisk, secretamente, o Rei do Crime. Infelizmente, o homem sem medo não veste seu uniforme vermelho, mas uma malha preta no estilo ninja, e é vivido pelo ator Rex Smith.
A ideia da ABC era depois do telefilme produzir uma série solo do Demolidor, mas apesar da boa audiência do filme, a série nunca saiu do papel.
Herói Urbano
A vitória sobre o Rei do Crime na edição 300.
A vitória sobre o Rei do Crime na edição 300.
De volta aos quadrinhos, quem assumiu o lugar de Ann Nocenti na escrita da revista foi D. G. Chichester, um escritor pouco conhecido, mas que fez um trabalho bem competente no personagem, mantendo o aspecto urbano forte do Demolidor. Assim como Miller, ele explorou bastante as conexões de Murdock com Nova York e a Cozinha do Inferno, inclusive, produzindo algumas histórias em que não há vilões propriamente ditos, mas o homem sem medo se lançando contra bandidos comuns ou ajudando pessoas em acidentes.
Chichester também fez Matt Murdock conseguir de volta sua licença de advocacia (perdida ainda lá trás em A Queda de Murdock), retomar a parceria com Foggy Nelson e voltar a namorar Karen Page por um tempo.
Sua temporada se estenderia por quase quatro anos, dividida em duas partes. A primeira com o desenhista Lee Weeks, na qual o grande destaque foi o arco Last Rites, publicado em Daredevil 297 a 300, de 1992, na qual produzem o “fim” da longa disputa do herói com o Rei do Crime. Finalmente, Murdock consegue acumular provas contra Wilson Fisk e prendê-lo, representando a vitória sobre o maior de seus vilões.
Frank Miller pela Terceira Vez
Nova origem por Frank Miller e John Romita Jr.
Nova origem por Frank Miller e John Romita Jr.
Para sorte dos fãs, em 1993, para iniciar as comemorações dos 30 anos do personagem, o escritor Frank Miller retornou ao Demolidor pela terceira vez. Agora, aliando-se ao desenhista John Romita Jr., ele escreveu a minissérie Demolidor – O Homem Sem Medo,na qual contou (pela primeira vez de modo expandido e totalmente conectado) sua versão da origem do herói. Assim, criou uma narrativa amarrando todas as adesões que colocou na vaga origem do Demolidor ao longo de seus trabalhos, particularmente, o envolvimento com Elektra e o treinamento com Stick.
É uma boa história e um dos últimos trabalhos relevantes de Miller com os super-heróis, antes do autor desbundar em uma fase de posicionamento fascista.
Era Sombria
O Demolidor de armadura, na arte de Scott McDaniel.
O Demolidor de armadura, na arte de Scott McDaniel.
Enquanto isso, na revista mensal do personagem, iniciava-se a segunda fase de D. G. Chichester, coincidindo com o advento do Demolidor com os dois pés na Era Sombria dos Quadrinhos. Esta fase na verdade vinha se delineando desde a primeira temporada de Frank Miller e envolveu toda a indústria dos quadrinhos, que adotou nos anos 1990 uma áurea muito mais pesada e violenta e os heróis mais sombrios (como Justiceiro, Motoqueiro Fantasma e Wolverine) se tornaram extremamente populares, obrigando até os não tão sombrios a adotarem também uma postura mais “pesada”.
No caso do Demolidor, isso transcorreu com Chichester e o desenhista Scott McDaniel adotando um tom muito mais sombrio, dark e violento às histórias do homem sem medo. Essa etapa coincidiu, também, com a volta de Elektra: a personagem já havia sido ressuscitada pelo próprio Frank Miller lá atrás em Daredevil 190 e até aparecido na graphic novel Elektra Vive, mas permanecia inexplorada pela Marvel até então. A grega retornou à vida do Demolidor – de um modo menos impactante do que se esperava, contudo – e até ganhou uma série de histórias solo, na qual foi desenhada pelo brasileiro Mike Deodato Jr., que se tornou um dos principais artistas da Marvel naqueles tempos.
Na revista Daredevil, após ser seriamente machucado em uma aventura, o Demolidor adota um novo uniforme no arco Caindo em Desgraça (Fall From Grace), publicado nas edições 319 a 325, de 1993 e 1994, por Chicester e McDaniel. O Demolidor de armadura causou estranheza nos fãs, mas promovia uma imagem mais ameaçadora do herói, condizente com a Era Sombria. Além disso, a trama explorava o fato da identidade secreta do herói se tornar pública! Como saída, Murdock finge sua própria morte e adota a identidade de Jack Batlin (numa referência a seu pai, claro). Mais tarde, com o uso de um embuste, consegue convencer o mundo de que não era o Demolidor.
O recurso da identidade pública seria reutilizado no futuro distante.
A Era Sombria contaminou as HQs da Marvel e da DC Comics (além da Image Comics), mas nem todo mundo concordava com ela. Alguns artistas se levantaram contra os excessos e produziram obras que serviam como manifestos contra a sandice ultrasombria (como são célebres os casos de Marvels, por Kurt Busiek e Alex Ross, na Marvel ou O Reino do Amanhã, por Mark Waid e Alex Ross, na DC).
Ruptura com a Era Sombria.
Ruptura com a Era Sombria.
O Demolidor contribuiu com o arco Além do Limite (Over the Edge), escrito por J.M. DeMatteis e desenhado por Ron Wagner, publicado em Daredevil 343 a 347, de 1995. Na trama, enquanto luta contra um novo vilão superforte, o Demolidor descobre que existe um outro herói usando sua identidade por aí, só que usando o velho uniforme amarelo do início da carreira. Na busca desenfreada pelo imitador, Murdock termina descobrindo – spoilers à frente – que na verdade se trata dele mesmo, que está agindo com uma dupla personalidade por causa de um estresse pós-traumático.
No fim das contas, Foggy Nelson termina (finalmente!) descobrindo que Murdock é o Demolidor e o herói resolve deixar de lado a armadura e o lado mais carrancudo dos últimos tempo, por uma versão de si mesmo mais leve e até divertida, como fora no início da carreira (dentro da caracterização que Stan Lee atribuiu ao personagem quando o criou em 1964): um “demônio atrevido”, que usa de algum humor.
Era a deixa para uma fase mais leve e jovial do personagem, deixando de lado os excessos da Era Sombria, o que lhe fez muito bem à época.
Uma Fase Mais Leve
O Demolidor mais leve de Kesel e Nord.
O Demolidor mais leve de Kesel e Nord.
A chegada do escritor Karl Kesel (famoso por suas histórias do Superman) e do desenhista Cary Nord trouxe um tom de leveza e diversão à revista Daredevil, que se refletia, inclusive, na arte e nas cores, com tons realmente mais leves, deixando de lado os tons escuros predominantes até então. Iniciando em Daredevil 353, de 1996, a trama mostra Matt Murdock mais “feliz”, já que resolveu seus problemas de identidade e retomando a parceria com Foggy Nelson no escritório, tudo mais fácil agora que seu amigo sabe sua identidade. Também é introduzida Rosalind Sharpe, uma das mais poderosas advogadas dos EUA que insiste para que a dupla passe a trabalhar para ela, no que terminam não tendo outra opção. O detalhe é que a maldosa senhora é revelada como sendo a mãe de Foggy Nelson.
Matt continua envolvido com Karen Page, ao mesmo tempo em que Foggy passa a namorar Liz Osborn, uma personagem advinda das histórias do Homem-Aranha. (Ela era Lizz Allen, uma colega de escola de Peter Parker, que mais tarde se envolveria e casaria com Harry Osborn, o melhor amigo de Peter, mas também, o filho do poderoso Norman Osborn, o vilão Duende Verde. Após a aparente morte de Norman – que voltaria mais tarde – Harry chegou a substituir o pai como o vilão, mas esqueceu de tudo após uma hipnose. Harry e Liz tiveram um filho, que batizaram de Normie. Na época em que se passam essas histórias do Demolidor, Harry havia lembrado de seu passado criminoso e voltou a ser o Duende Verde, terminando por morrer num confronto com o Homem-Aranha. Liz se tornou a herdeira do império Osborn e era uma jovem viúva quando começou a se envolver com Foggy).
A edição contra Mysterio.
A edição contra Mysterio.
O grande chamariz de trama de Kesel e Nord é Matt e Foggy serem obrigados por Rosalind a defender no juri o vilão Mr. Hyde, um dos mais antigos oponentes do Demolidor. O arco se encerra em Daredevil 357, de 1996.
Na edição seguinte, assume a dupla Joe Kelly (famoso pelas histórias cômicas do Deadpool) e Pascual Ferry, cujo primeiro capítulo envolve uma batalha contra o vilão Mysterio (do Homem-Aranha), que teria grandes implicações no futuro próximo.
Foi só um pequeno interlúdio para continuar a temporada de Kesel e Nord, agora explorando a situação da Marvel pós-saga Massacre (na qual a maioria dos grandes heróis foi dada como morta, o que incluía os Vingadores e o Quarteto Fantástico). Karen Page arruma um trabalho como locutora de rádio em um programa noturno, uma maneira de não ficar sozinha enquanto seu namorado sai para combater o crime.
Arte de Gene Colan de volta ao Demolidor.
Arte de Gene Colan de volta ao Demolidor.
Um ponto interessante dessa fase foi o retorno do lendário desenhista Gene Colan à revista do Demolidor. Como mostramos na Parte 1, Colan foi o mais clássico dos desenhistas do personagem, ficando à frente da revista por sete anos e 80 edições, entre 1966 e 1973, retornando ainda algumas outras vezes até 1979.
Colan retornou em Daredevil 363, de 1997, como um tipo de teste, tornando-se realmente o desenhista da revista na edição 366, de 1998, ficando até o número 271, em meio a uma saga envolvendo o Sr. Medo e a Viúva Negra, escrita por Joe Kelly.
Kelly continuou no comando da revista até o número 380 de Daredevil, quando a Marvel decidiu cancelar a revista e zerar sua numeração.
Marvel Knights
A horrenda armadura do Homem de Ferro de Heróis Renascem: Efeito Muscular.
A horrenda armadura do Homem de Ferro de Heróis Renascem: Efeito Muscular.
Em termos comerciais, os meados dos anos 1990 foram dificílimos para a Marvel. Tudo começou em 1992, quando numa jogada genial, os principais desenhistas da Casa das Ideias (Todd McFarlane, Jim Lee, Rob Liedfeld, Mark Silvestri, dentre outros), insatisfeitos com a política de royalities da empresa, pediram demissão juntos e montaram sua própria editora, a Image Comics. Foi um grande sucesso, que lançou personagens como Spawn, WildCATs, Gene 13, Wildstorm e Savage Dragon, cujas revistas passaram a rivalizar “pau a pau” com as da Marvel e DC.
Ao mesmo tempo, o mercado viveu a explosão da prática especulativa, na qual colecionadores compravam várias edições da mesma revista para depois revendê-la a preços exorbitantes aos fãs. Isso resultou que as vendas das revistas dispararam totalmente (algumas ultrapassando a marca de 1 milhão de cópias vendidas – número não atingido desde o boom da década de 1940!), mas como a jogada não deu o retorno esperado em médio prazo, os especuladores desistiram.
Arte de Rob Liefeld para o Capitão América: terrível exemplo de Efeito Muscular.
Arte de Rob Liefeld para o Capitão América: terrível exemplo de Efeito Muscular.
Isso e os excessos da Era Sombria e do Efeito Muscular (a tendência de produzir desenhos anatomicamente exagerados para dar mais robustez, macheza e violência típica de artistas como Rob Liedfeld) terminaram afastando toda uma horda de velhos leitores, que não reconheciam mais seus queridos personagens favoritos. Como resultado, após a bonança do início dos anos 1990, o mercado de HQs dos EUA simplesmente despencou por volta de 1995. A coisa foi tão séria que a Marvel chegou a pedir concordata (o antecessor da falência) em 1997!
Como medida desesperada, a Marvel tentou várias coisas, uma delas foi a já citada saga Massacre que, ao “matar” os Vingadores e o Quarteto Fantástico, abriu a empreitada Heróis Renascem, de 1996, na qual os velhos desenhistas da Image voltavam à Marvel com carta branca para fazerem o que quiserem com aqueles personagens, resultando em uma das piores coisas que a editora já realizou em toda a sua história e um fiasco completo do ponto de vista comercial também.
Com isso, a Marvel colocou ao novo Editor-Chefe Bob Haras a árdua missão de buscar uma alternativa. A saída foi a óbvia: investir em histórias melhores. Ao mesmo tempo, o desenhista Joe Quesada teve a ideia de criar um selo chamado Marvel Knights, destinado aos personagens mais urbanos (e realistas) da editora, para que tivessem histórias mais sérias e de maior qualidade. O Marvel Knights terminou gerando uma série de histórias de altíssima qualidade, com personagens como Justiceiro e Homem-Aranha. E o Demolidor foi uma das cerejas do bolo.
O reinício da revista Daredevil com Demônio da Guarda. Para adultos.
O reinício da revista Daredevil com Demônio da Guarda. Para adultos.
Para marcar a inclusão do homem sem medo no selo Marvel Knights, a revista Daredevil teve a numeração zerada e iniciou de novo no número 01, em 1998. O arco inaugural foi Demônio da Guarda,escrito pelo cineasta Kevin Smith (de Barrados no Shopping, Procurando Amy e Dogma) com desenhos do próprio Joe Quesada, que era o editor do selo.
Publicado entre os números 01 e 08 da nova Daredevil, em 1998, Demônio da Guarda é uma das melhores histórias do Demolidor, explorando a religiosidade católica do personagem de modo exemplar. Na trama, depois de salvar uma mãe adolescente de ser morta por agentes misteriosos, o herói se vê envolvido em uma grande conspiração na qual um grupo de seres celestiais está querendo matar o bebê porque ele seria o Anti-Cristo em pessoa. A dúvida entre salvá-la ou não consome Murdock que se vê em meio a uma crise de fé quando descobre que Karen Page é vítima do vírus da AIDS, em decorrência dos anos de excesso com drogas e sexo no passado (exibidos em A Queda de Murdock).
Em meio a uma trama muito bem construída e com uma arte excepcional de Quesada, Demônio da Guarda segura o leitor em suspense até sua resolução – spoilers à frente – em que descobrimos que tudo (inclusive a AIDS) não passa de um embuste criado pelo vilão Mysterio como uma despedida de sua carreira criminosa, já que está com câncer em estágio terminal. Mas não há final feliz: Karen Page é morta pelo Mercenário, do mesmo modo como havia sido Elektra no passado.
Fase de Transição
A exuberante arte de David Mack no Demolidor.
A exuberante arte de David Mack no Demolidor.
A revista Daredevil continuou com uma boa qualidade nos anos seguintes. O escritor-desenhista David Mack assumiu o título, criando o arco Parts of a Hole,entre as edições 09 e 15, na qual introduziu a personagem Eco (Maya Lopez). Depois, Mack continuou nos desenhos, mas passou a dividir os roteiros com Brian Michael Bendis, advindo dos quadrinhos independentes – especialmente Powers – que produziram Wake Up entre as edições 16 e 19. Vem um pequeno interlúdio com Bob Gale (o roteirista dos filmes De Volta para o Futuro) assumindo Daredevil com o desenhista Phil Winslade o arco Playing to the Camera, nas edições 20 a 25, de 2001.
Ao mesmo tempo, fez bastante sucesso a minissérie Demolidor: Amarelo, com textos de Jeph Loeb e arte de Tim Sale. Era parte da “coleção das cores” que a dupla produziu para a Marvel (com Homem-Aranha: Azul e Hulk: Cinza) na qual exploram o passado dos personagens com um tom nostálgico e modernizante. No caso de Amarelo, há uma revisão dos primeiros meses de Matt Murdock como o Demolidor, numa trama que envolve os vilões Coruja e Homem-Púrpura. De grande carga emocional, a trama é narrada pelo próprio Matt numa carta abstrata à recém-falecida Karen Page.
Estreia nos Cinemas
Ben Affleck foi o Demolidor na primeira versão dos cinemas, em 2003.
Ben Affleck foi o Demolidor na primeira versão dos cinemas, em 2003.
Até os anos 2000, o gênero de super-heróis nunca emplacou nos cinemas, mesmo com algumas boas produções, como Superman – O Filme (1978) e Batman – O Filme (1989). Mas tudo mudou a partir de X-Men – O Filme (2000), que deu partida a uma série de produções de heróis da Marvel às telonas, a maioria bem recebida. Com o supersucesso de Homem-Aranha (2002), vários estúdios de Hollywood tiraram da gaveta seus velhos projetos de longametragens de personagens da casa das ideias.
Michael Clarke Ducan emprestou seu talento ao rei do Crime Wilson Fisk em Demolidor.
Michael Clarke Ducan emprestou seu talento ao rei do Crime Wilson Fisk em Demolidor.
Um deles foi a 20th Century Fox, que também tinha levado os mutantes às telonas. O estúdio lançou o filme Demolidor – O Homem Sem Medo em 2003, estrelado por Ben Affleck (de Gênio Indomável, Dogma, Armagedon e Pearl Habor) como Matt Murdock, e um elenco estrelado com Jennifer Gardner (Elektra), Colin Farrell (Mercenário), Jon Favreau (Foggy Nelson), Michael Clark Ducan (Wilson Fisk) e John Pantoliano (Ben Ulrich).
trama do longametragem é até interessante, misturando elementos da origem do personagem com trechos de A Saga de Elektra: Matt Murdock secretamente passa as noites defendendo a Cozinha do Inferno como o Demolidor, que é tomado como uma lenda urbana pelo público, enquanto age como um advogado idealista de dia, ao lado do parceiro Foggy Nelson. Mas ao se apaixonar pela bela Elektra Natchios termina se envolvendo em uma grande trama de crimes, lideradas pelo chefão Wilson Fisk, que irão tornar sua vida bem mais difícil.
Demolidor: ponto baixo da carreira de Ben Affleck.
Demolidor: ponto baixo da carreira de Ben Affleck.
O maior problema de Demolidor é a sua realização: o diretor Mark Steven Johnson não soube condensar tanta informação em um filme só e os personagens terminam não sendo bem resolvidos, com algumas tramas correndo muito rápido. A maneira como o filme se encerra também é forçada, com uma ação desequilibrada entre o exagero (na luta com o Mercenário) e cena apressada (na luta com Fisk). Apresentar e matar Elektra (tal qual nos quadrinhos) no meio do filme também não dá ao público suficiente tempo para se envolver com ela.
Demolidor não foi muito bem nas bilheterias, mas ainda gerou um spin-off, com o filme Elektra, um dos piores já realizados no gênero. À longo prazo, a rejeição a Demolidor só cresceu, o que prejudicou bastante a carreira de Ben Affleck. Durante anos, a Fox acalentou produzir uma sequência, mas não foi adiante.
Fase de Brian Michael Bendis
Brian Michael Bendis: principal escritor da Marvel nos anos 2000.
Brian Michael Bendis: principal escritor da Marvel nos anos 2000.
Brian Michael Bendis é um escritor que veio do mercado independente de HQs, chamando a atenção a partir de 1996 na Calibian Comics na série Jinx, o que o levou à Image Comics, onde produziu a revista Sam and Twitch, sobre uma dupla de detetives surgidos previamente na revista Spawn. Aquela criação revelou o talento do escritor para séries policiais e o bom manejo do diálogo. Em 1999, também pela Image, Bendis lançou a série autoral Powers, sobre um grupo de detetives em um mundo povoado por heróis poderosos, numa trama que foi aclamada pela crítica e ganhou vários prêmios Eisner no ano seguinte. (Mais tarde, a série seria transferida para a Marvel por meio do selo Icon, em 2004).
sucesso de Bendis chamou a atenção da Marvel Comics e, rapidamente, o escritor ganhou abrigo no selo Marvel Knights, inicialmente como um tipo de consultor e chegou a criar um projeto de uma série de Nick Fury que nunca chegou a ser publicada. mas gerou as já mencionadas participações especiais como coautor em Daredevil, uma das principais revista do selo. Em seguida, ele foi o escolhido para criar a versão Ultimate do Homem-Aranha, inaugurando este outro selo que traria versões mais modernas e adultas dos personagens da editora, num tipo de universo paralelo ao tradicional.
O primeiro arco do Homem-Aranha Ultimate, Poderes e Responsabilidades, inaugurou o selo em 2000, e foi um grande sucesso de público e crítica, dando origem a uma série de outras revistas Ultimate, como os X-Men, o Quarteto Fantástico e os Vingadores (chamados de The Ultimates, ou os Supremos, no Brasil), todos por Mark Millar, nos anos seguintes.
Identidade Secreta revelada ao mundo.
Identidade Secreta revelada ao mundo.
No Universo Marvel tradicional, Bendis inaugurou outro selo: Marvel Max, destinado ao público adulto, cuja primeira revista foi Alias, em que criou a personagem Jessica Jones, uma detetive particular que tinha sido uma heroína no passado, mas abandonou a carreira após ser violentada pelo vilão Killgrave, o Homem-Púrpura, um velho vilão do Demolidor. Por meio de Alias, Bendis também trouxe de volta à tona o personagem Luke Cage, que terminou virando marido de Jessica e pai da filha dela. Alias foi um grande sucesso e ganhou uma nova fase a partir de 2003 por meio da revista The Pulse.
Portanto, embora tudo isso tenha ocorrido muito rápido, Brian Michael Bendis já era um escritor consagrado quando chegou a revista Daredevil e não perdeu tempo: a edição 26, de 2002, já começava com um atentado mortal ao Rei do Crime no melhor estilo Julio Cesar. A partir daí voltamos três meses no tempo e vemos o desenrolar de uma trama complexa que terá graves consequências para o Demolidor: sua identidade é revelada ao público!
O arco Out (Revelado, no Brasil) é simplesmente espetacular e durou nada menos do que 14 edições (!), desenvolvendo-se até a edição 40. Na trama, o Rei do Crime está cego – consequência de histórias anteriores – e muitos vêem isso como um sinal de fraqueza e o momento de derrubá-lo (de novo!). Um mafioso de segunda categoria, chamado Tommy Silke, é incorporado à organização do Rei, mas se vê frustrado ao não ter seu único pedido atendido: a morte do advogado Matt Murdock. Silke termina descobrindo – por meio do filho do Rei, Richard Fisk – que Murdock é o Demolidor e o Rei não quer que ninguém mexa nele. Silke decide usar o fato de Wilson Fisk saber a identidade secreta do homem sem medo e não compartilhar com os demais mafiosos (e nem matá-lo) como um elemento para enfraquecê-lo e articula o plano para matá-lo.
Trama densa, diálogos e investigação, por Bendis e Lark.
Trama densa, diálogos e investigação, por Bendis e Maleev.
Wilson Fisk termina sobrevivendo e há um revide contra Silke e seus homens, então, ele busca abrigo no FBI (a polícia federal dos EUA) e como barganha entrega a eles a identidade secreta do Demolidor. A cabeça da agência (em concluo com a SHIELD) decide não fazer nada a respeito dessa informação, mas um dos agentes do FBI vende a informação ao Globo Diário, que a publica na primeira página com estardalho.
Agora, Matt Murdock precisa lidar com o fato de que todos sabem que ele é o Demolidor e encontrar uma maneira de não ser preso e negar tudo.
Brian Bendis desenvolve a trama devagar – e não há muita ação em todo o arco, nada de lutas grandiosas – mas compensa isso com diálogos afiados, tramas paralelas complementares, boa caracterização dos personagens e uma história muito interessante. Também é preciso dar méritos ao desenhista Alex Maleev, que imprime uma arte expressiva, cheia de rabiscos e muito dark, o que combina sobremaneira com o tom da trama. Bendis é tão talentoso que faz com que uma cena de tribunal – daquelas típicas dos filmes sérios de Hollywood – se arraste por duas edições inteiras (!) e isso seja simplesmente ótimo.
Murdock and Milla por Bendis e Maleev.
Murdock and Milla por Bendis e Maleev.
A temporada de Bendis durou quase quatro anos e só se encerrou na edição 81, de 2006. Ele levou às últimas consequências o fato de Murdock tentar provar ao mundo que não é o Demolidor, a reação do jornal Globo Diário à sua negação e a reorganização da quadrilha do Rei do Crime, Também introduziu um novo interesse romântico na figura de Milla Donovan, uma garota cega como ele, que surgiu na edição 41. O romance, como sempre, será bastante turbulento; Milla (como as outras antes dela) termina descobrindo que ele é o Demolidor e ela é quase morta tanto por Mary Typhoid quanto pelo Mercenário.
Bela capa de Daredevil 50 por Alex Maleev.
Bela capa de Daredevil 50 por Alex Maleev.
No arco Hardcore (Barra Pesada, no Brasil), entre Daredevil 46 a 50, de 2004, o Rei do Crime retorna a Nova York e arma um plano de ataque a Matt Murdock, que remete à velha estratégia de A Queda de Murdock de desestabilizar sua vida. No fim, o herói descobre o plano e ataca violentamente Wilson Fisk, declarando-se o novo “rei do crime” da Cozinha do Inferno.
Depois, as histórias sofrem um salto temporal de um ano, no qual a Cozinha do Inferno é um paraíso sem crimes e Matt Murdock está casado com Milla Donovan. Mas claro que nada permanecerá assim: um velho chefão do crime retorna e seguem várias aventuras de tom policial. Por fim, vem a saga The Murdock Papers (Dossiê Murdock, no Brasil), publicada entre Daredevil 76 e 81, de 2005 e 2006, na qual o FBI reativa a investigação sobre a identidade secreta do Demolidor e termina encontrando provas de que o herói é mesmo Matt Murdock, que é preso na edição final, deixando um gancho aberto para o escritor seguinte.
Após deixar a revista Daredevil, Brian Bendis assumiu a revista The Avengers, dos Vingadores e entre 2005 e 2012 transformou “os maiores heróis da Terra” na franquia de maior sucesso da editora, com várias revistas paralelas (Avengers, New Avengers, Dark Avengers e Secrets Avengers, cada uma há um tempo e com um propósito), além de ter escrito grandes arcos como Motim, Invasão Secreta e Reinado Sombrio, que transformaram Bendis, definitivamente, no principal escritor da Marvel no século XXI. Posto que ainda ocupa nos dias de hoje.
A fase de Ed Brubaker
A fase de Brubaker e Lark: fantástica!
A fase de Brubaker e Lark: fantástica!
Assim como Bendis, Ed Brubaker construiu uma carreira baseada em grandes histórias, boas caracterizações de personagens e diálogos espertos. Outro ponto comum eram as histórias de crime e detetives. Brubaker era romancista, o que lhe valeu muito de timing e narrativa, o que se revelou vantajoso aos quadrinhos desde sua estreia em 1991 por meio da Dark Horse Comics (a editora de Hellboy). Depois, foi acolhido pelo selo Vertigo da DC Comics, onde alcançou sucesso com Scenes of the Crime, de 1999, uma série de detetives.
Impressionada com a qualidade dos textos de Brubaker, a DC não vacilou e colocou o escritor para assumir a revista do Batman, a partir de 2000, onde fez uma dobradinha com o também escritor Greg Rucka, e produziu uma profícua fase, marcada pelo arco Bruce Wayne: Assassino/ Fugitivo, entre 2002 e 2003. Ele também assumiu a revista Catwoman, com a Mulher-Gato e criou, com Rucka, a fantástica Gotham Central, desenhada por Michael Lark, que mostrada as aventuras dos policiais de Gotham City, nas beiradas das aventuras do cavaleiro das trevas e seu universo, numa série que foi bastante premiada. Brubaker também foi bem sucedido em outro selo da DC: Wildstorm, no qual desenvolveu Sleepers The Authority, sobre uma equipe adulta e violenta de heróis. Mais prêmios.
Claro, que era previsível que Brubaker acabaria na Marvel Comics, o que aconteceu em 2005, quando assumiu a revista Captain America e deu início a uma incrível passagem de oito anos no título, produzindo a mais famosa (e melhor) dentre as histórias mais recentes do personagem, O Soldado Invernal, que foi adaptada ao cinema. O sucesso de público e crítica com o Capitão América abriu vários caminhos na Marvel, que vão dos X-Men à série Aniquilação, além dos Vingadores Secretos; bem como as séries especiais como Projeto Marvels Livros do Destino, ambos excelentes. Mas foi no Demolidor que o escritor realmente fez seu outro trabalho célebre na editora.
Fantástica arte de Michael Lark no Demolidor.
Fantástica arte de Michael Lark no Demolidor.
Ed Brubaker trouxe o desenhista Michael Lark consigo e estreou em Daredevil 82, de 2006, com o arco O Demônio no Pavilhão D, no qual vemos as consequências da prisão de Matt Murdock: preso na Ilha Ryker, o mesmo lugar para onde o homem sem medo (e o advogado) mandou uma dezena de criminosos violentos e poderosos. Enquanto continua negando que é o herói, Murdock vê sua vida desmoronar outra vez.
Esse primeiro arco tem reflexos óbvios de outra história de Brubaker (Bruce Wayne: Fugitivo, do Batman, na DC Comics), na qual Murdock luta com vários criminosos e termina fugindo da prisão. Ainda assim, é uma grande história, que mostra a incrível habilidade desse escritor.
Punho de Ferro ajuda a inocentar o Demolidor.
Punho de Ferro ajuda a inocentar o Demolidor.
Em seguida, o Demolidor percebe que há um outro vigilante usando seu nome e uniforme na Cozinha do Inferno, enquanto ele estava na cadeia. Claro que, no velho estilo Marvel Comics, os dois saem na porrada primeiro, até o homem sem medo perceber que o novo Demolidor é seu amigo Danny Rand, o herói conhecido como Punho de Ferro. Isso o ajuda a mostrar que ele é “inocente” perante o grande público, a justiça e a imprensa.
Em sua longa passagem no título explorou bastante a personalidade do herói, mostrando uma crise em seu casamento (Milla pensava que ele a usava para superar a morte de Karen Page) e, depois, a dolorosa história em que a garota é drogada pelo Sr. Medo e fica completamente louca, o que leva ao fim de seu casamento com Matt, em Daredevil 105.
Alguns outros personagens foram introduzidos por Brubaker, como os vilões Tarântula Negra e Lady Bullseye; um novo interesse amoroso chamada Dakota North, além do Mestre Izo, que teria sido o mestre de Stick.
Assim como Bendis antes dele, Brubaker também deixa o título – em Daredevil 119, de 2009 – com um gancho para uma nova história: o Demolidor se tornando o líder do Tentáculo, a antiga organização criminosa de Elektra.
O Fim da Fase Sombria
Após uma sequência ininterrupta de grandes histórias desde 1998 (!) a fase excelente do Demolidor encerrou-se em Brubaker, 11 anos depois, pois o escritor seguinte Andy Diggle simplesmente não conseguiu desenvolver a trama em aberto. A liderança do Tentáculo ficou uma coisa totalmente sem sentido e a saga seguinte – Shadowland – foi ao fundo do poço: mostrou que as últimas ações do Demolidor foram questionáveis porque o herói havia sido possuído por um demônio!
Por isso, ele mata o Mercenário e é detido por Homem-Aranha e Luke Cage. Chocado com os eventos, Matt Murdock desiste de ser o Demolidor e vai viajar pelo mundo, encerrando a revista Daredevil (vol 2) após 13 anos.
A Fase light de Mark Waid
Eu não sou o Demolidor: início da fase de Mark Waid.
Eu não sou o Demolidor: início da fase de Mark Waid.
Desde a primeira temporada de Frank Miller no Demolidor, a partir de 1981, o homem sem medo foi retratado majoritariamente como um personagem sombrio, embora não fosse assim quando criado por Stan Lee em 1964, nem na abordagem dos muitos artistas que lhe seguiram. Entretanto, a partir de 1998, com o relançamento do herói dentro do selo Marvel Knights, Matt Murdock viveu uma longa fase totalmente sombria que coincidiu com algumas das melhores histórias já lançadas em sua longa trajetória editorial. Esse longeva fase sombria se encerrou após Shadowland.
Cena de luta por Paolo Riviera: traço light.
Cena de luta por Paolo Riviera: traço light.
No início de 2011 foi lançada a revista Daredevil (vol. 3) 01dando largada a uma fase totalmente nova para o personagem. O aclamado escritor Mark Waid criou uma ambientação mais leve e divertida para o Demolidor, embalado em aventuras inteligentes, descompromissadas e com um visual arrebatador. Algo totalmente diferente dos tons pesados da última década.
Mark Waid é o responsável por grandes HQs tanto da Marvel quanto na DC Comics. Nesta última, criou sagas memoráveis como O Reino do Amanhã, em 1996; além de uma cultuadíssima temporada no Flash (entre 1991 e 2000) e do derivado Impulso (1995-1997); da origem da Liga da Justiça pós-Crise nas Infinitas Terras, Ano Um, de 1998; de uma boa temporada na revista JLA, da Liga, entre 1998 e 2000, que incluiu o arco Torre de Babel; e da releitura da origem do Superman em Legado das Estrelas (2003-2004).
Na Marvel, produziu a aclamada fase no Quarteto Fantástico (ao lado do desenhista Mike Weringo) entre 2002 e 2005; arcos no Capitão América como Operação Renascimento Terra da Liberdade (entre 1995 e 1999), além da minissérie O Homem Fora do Tempo (The Man Out of Time), em 2011.
Os poderes do herói na prática, por Waid e Marcos Martins.
Os poderes do herói na prática, por Waid e Marcos Martins.
Quando houve o apogeu da Era Sombria dos Quadrinhos, nos anos 1990, Mark Waid se notabilizou por O Reino do Amanhã, uma história que serve como um tipo de manifesto contra aquele movimento em prol de uma abordagem mais heroica e icônica dos super-heróis. Não deve ser coincidência, portanto, o escritor chegar ao Demolidor justamente para uma abordagem mais light.
No volume 3 da revista Daredevil, Waid criou uma sequência incrível de histórias, inovando especialmente no modo como são retratados os poderes do herói. Vemos nos quadros do artista Paolo Riviera mais ou menos como uma manifestação visual dos sentidos de Matt Murdock, o que cria efeitos muito bonitos. Depois que o artista saiu da revista, pouco depois do primeiro arco, coube ao aclamado Chris Samne continuar o trabalho, apostando em linhas finas e cores vivas e um visual muito interessante.
Nas trevas, Paolo Riviera mostra como os poderes de modo gráfico.
Nas trevas, Paolo Riviera mostra como os poderes de modo gráfico.
Na comemorativa edição 01 da nova revista, inclusive, há uma história extra com uma longa conversa entre Matt Murdock e Foggy Nelson na qual o herói explica ao amigo como seus poderes funcionam. O diálogo é acompanhado por uma série de ilustrações interessantíssimas de autoria do convidado Marcos Martins, mostrando “na prática” os efeitos de seus sentidos.
Na trama, chega às mãos do Demolidor um disco rígido criado por Reed Richards (do Quarteto Fantástico), que guarda algumas das informações mais importantes já produzidas, de modo que este megadrive logo chama a atenção de todas as grandes organizações criminosas do Universo Marvel, como Hidra, IMA, Império Secreto, Tentáculo e outras. Como consequência, o homem sem medo precisa se defender de todos eles e ainda evitar uma guerra devastadora entre as organizações.
Também ainda temos as velhas consequências de que as pessoas ainda vinculam o nome do advogado ao Demolidor e (em um tom humorístico) ele precisa dizer o tempo todo “eu não sou o Demolidor”. Inclusive, em uma sacada hilária, Matt usa um suéter com essa inscrição em uma festa de Natal! Outra forma inteligente de Mark Waid explorar tal trama é o fato da carreira de advogado de Murdock estar simplesmente destruída após tudo o que se passou, de modo que os tribunais não aceitam mais seus serviços. Assim, Nelson e Murdock abrem uma Consultoria para que as pessoas defendam a si mesmas no tribunal.
Entre as histórias mais sequenciadas Waid também promove alguns contos isolados arrebatadores, como aquele em que o vilão Topeira ataca um cemitério e o Demolidor descobre estupefato os motivos do criminoso; ou a assustadora história em que Matt Murdock leva uma turma de órfãos para um passeio de Natal, mas uma nevasca e um acidente no ônibus o obrigam a lutar pela sobrevivência de si mesmo (o que são seus sentidos ampliados em meio a uma nevasca?) e das crianças.
O fim da identidade secreta?
O fim da identidade secreta? Arte de Chris Samne.
Após as primeiras histórias, Waid mudou de novo o status quo do Demolidor, fazendo o homem sem medo se mudar para San Francisco (como tinha feito nos anos 1970, lembra?) e termina, finalmente, assumindo publicamente que é mesmo o Demolidor, encerrando de vez as dúvidas sobre sua identidade secreta após uma década de histórias em torno do tema.
O Demolidor com uniforme negro ao lado de Blindspot. Arte de Ron Garney.
O Demolidor com uniforme negro ao lado de Blindspot. Arte de Ron Garney.
Em dezembro de 2015, a revista Daredevil ganhou um novo volume e uma nova fase, agora, sob as mãos do escritor Charles Soule (da saga A Morte de Wolverine) e do desenhista Ron Garney (das revistas do Capitão América e com uma passagem anterior no Demolidor).
A nova Daredevil (vol. 4)  01 deu início a uma fase que se passa nas consequências da megassaga Guerras Secretas, que abalou a cronologia da Marvel. Nela, o homem sem medo retorna a Nova York (após passar um tempo em San Francisco), passa a usar um uniforme preto e ter um parceiro mirim: um novo combatente ao crime chamado Blindspot.
O Filme que Não Veio
Demolidor na TV.
Demolidor na TV.
Os direitos de adaptação do Demolidor ao cinema pertenciam à 20th Century Fox, mas o fracasso da dupla Demolidor – O Homem Sem Medo e Elektra, esfriou totalmente os ânimos. O estúdio deixou o projeto de uma sequência anos na “geladeira”, então, se deu conta de um “pequeno” detalhe: seu contrato com a Marvel previa que se não fosse produzida uma obra no prazo de 10 anos, os royalities retornaram à editora. Em 2009, na esteira do incrível sucesso de público e crítica das revistas do homem sem medo, a Fox “acordou” e começou a trabalhar intensamente em um novo filme do personagem.
Mas era tarde demais.
O estúdio perdeu tempo demais encontrando roteiristas e diretores adequados e não houve tempo. A virada ocorreu após o sucesso estrondoso de Batman – O Cavaleiro das Trevas, em 2008, que foi o primeiro filme de super-heróis a romper a barreira de US$ 1 bilhão em bilheterias. A Fox percebeu que tinha ouro nas mãos, pois o Demolidor seria o personagem da Marvel mais próximo do clima sombrio, urbano e violento do homem-morcego.
Brad Caleb Kane foi contratado para escrever o roteiro e David Slade ganhou o cargo de diretor. Uma nova versão do roteiro foi produzida por David James Kelly. A ideia era adaptar a saga A Queda de Murdock, de Frank Miller e David Mazzuccheli. Era um modo de continuar a trama do filme de 2003, mas ao mesmo tempo dar uma cara de “reboot”, pois teria novo elenco e nova estética. Mas entre idas e vindas de texto e contratações, chegou-se ao ano de 2012! O fim do prazo estava à beira da porta. Por motivos ignorados, Slade caiu fora do projeto e a Fox ainda contratou Joe Carnahan (de A Perseguição) para comandar tudo.
Os Vingadores no cinema: batendo 1,5 bilhões em bilheteria.
Os Vingadores no cinema: batendo 1,5 bilhões em bilheteria.
O novo diretor trouxe uma ideia sensacional ao projeto: iria fazer do novo Demolidor uma versão de Sérpico, clássico filme dos anos 1970. Assim, a trama se passaria na década de 1970, com toda a violência e sujeira real que inspiraram as histórias mais célebres do personagem, que eram realidade naquele tempo e não mais em 2012. Mas não havia mais tempo. Era impossível produzir um filme àquela altura e lançá-lo no ano de 2013. Provavelmente, o estúdio contava com a empolgação sobre a nova abordagem e ganhar um adiantamento do prazo.
Mas eram outros tempos. Quando vendeu os direitos para a Fox, a Marvel era uma empresa que tinha acabado de sair de um processo de falência. Nada mais diferente de 2012: a companhia tinha dado a volta por cima; havia emplacado uma década de grandes sucessos nas HQs (incluindo as fases de Bendis e Brubaker); e tinha criado o seu próprio universo cinematográfico, com os filmes Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Capitão América – O Primeiro Vingador e Thor, lançados entre 2008 e 2011, estavam todos interconectados, de modo que todos esses personagens se reuniram em Os Vingadores,lançado em 2012, e atingindo US$ 1,5 bilhões nas bilheterias mundiais, virando o terceiro maior sucesso da história do cinema!
Agora, a Marvel levava aos cinemas a interconexão e a ideia de um universo integrado das páginas das histórias em quadrinhos. E queria mais. O Demolidor era uma oportunidade de explorar os heróis urbanos, aqueles “street level“, que não teriam tanto espaço nos filmes-evento do Marvel Studios.
Segundo rumores da época, a Marvel ainda cogitou dar o prolongamento do prazo à Fox sob uma condição: que o estúdio abrisse mão de dois personagens específicos – Galactus e o Surfista Prateado – para que a Marvel pudesse usá-los em seus filmes dos Vingadores. A Fox era a detentoras deles também, dentro do pacote do Quarteto Fantástico. O estúdio negou. Então, não houve acordo: em agosto de 2012 foi anunciado o cancelamento do projeto do filme do Demolidor, pois não poderia ser feito até o ano seguinte. O resultado seria óbvio: os direitos retornaram à Marvel.
Demônio na TV
O herói em seu uniforme negro.
O herói em seu uniforme negro.
Com uma agenda superlotada de filmes (planejados até 2020), a Marvel optou por não lançar um novo filme do Demolidor. Em vez disso, agrupou o homem sem medo e outros personagens street level dentro de uma ousada e original empreitada: lançar séries de TV por meio da plataforma streaming do Netflix, que vinha crescendo em popularidade com uma série de projetos bem executados e elogiados pela crítica, como House of Cards e Orange is the New Black. O pacote da Marvel foi anunciado em 2014: seriam quatro séries e uma minissérie-evento, a saber, Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage Punho de Ferro, com todos reunidos em Os Defensores.
Era a mesma estratégia dos cinemas adaptadas à telinha. A única ressalva é que os Defensores nas HQs eram um grupo com a qual nenhum dos personagens citados praticamente tinha qualquer envolvimento. O grupo original era a reunião de Dr. Estranho, Hulk e Surfista Prateado (mais tarde com adesões de Valquíria e Águia Noturna, dentre outros) que funcionava como um tipo de Vingadores de 2ª divisão, com histórias mais calcadas na magia. A presença de Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro aproximava o conceito dos Heróis de Aluguel, uma empresa que os dois últimos tiveram para agir como detetives particulares ou mercenários “do bem”.  De qualquer modo, a Marvel deve ter achado que o novo título era mais adequado à sua proposta.
O trio Matt Murdock, Karen Page e Foggy Nelson: elenco ótimo.
O trio Matt Murdock, Karen Page e Foggy Nelson: elenco ótimo.
Deu ainda mais certo do que o esperado.
A série do Demolidor foi a primeira a estrear, em 2015, e foi um sucesso absoluto de público e crítica, virando a maior audiência na história do Netflix. Protagonizada por Charlie Cox, o programa adaptava o clima sombrio e pesado das fases de Miller, Bendis e Brubaker, adaptando as origens do personagem à abordagem de tais autores. O elenco de apoio – Vincent D’Onofrio (Wilson Fisk/ Rei do Crime), Rosario Dawson (Claire Temple), Deborah Ann Wolf (Karen Page), Elden Henson (Foggy Nelson), Aylet Zurer (Vanessa Marianna), Bob Gunton (Leland Owlsley), Toby Leonard Moore (Wesley), Vondie Curtis-Hall (Ben Urich), Scott Glenn (Stick) e Peter Shinkoda (Nobu) – bastante afiado e com ótimas caracterizações. A ambientação da série era “pé no chão” evitando referências excessivas à fantasia dos Vingadores, com as vidas dos personagens envoltas no crime organizado.
O Demolidor à mercê do Justiceiro.
O Demolidor à mercê do Justiceiro.
trama mostrava os primeiros dias de Matt Murdock como advogado (abrindo a Nelson & Murdock e contratando Karen Page como sua secretária) ao mesmo tempo em que o Demolidor (usando um uniforme preto igual ao da minissérie O Homem Sem Medo de Miller e Romita Jr.) também começava sua campanha para manter seguras as ruas da Cozinha do Inferno em Nova York. A série se colocava exatamente dentro do contexto dos filmes do Marvel Studios, pois a invasão alienígena de Os Vingadores era a causa de uma iniciativa de reconstrução da Cozinha do Inferno liderada por Wilson Fisk, que os heróis descobririam ser secretamente o Rei do Crime.
Com ótimo texto, cenas impactantes de ação, muito drama e um clima sombrio e violento, Demolidor – Temporada 1 é um grande filme de super-heróis com 13 horas de duração! Algo simplesmente sensacional. E a peteca não caiu, após a primeira temporada de Jessica Jones (que também fez sucesso e foi bem recebida) a Temporada 2 do homem sem medo estreou em 2016 e manteve a pegada anterior, agora adicionando Justiceiro e Elektra (vividos por Jon Bernthal e Élodi Yung, respectivamente) ao caldo, com uma trama recheada pelo Tentáculo.
É agora esperar pelas próximas séries, a reunião nos Defensores e Temporada 3, que talvez adapte A Queda de Murdock. Quem sabe?
Os fãs também têm esperanças de ver o Demolidor interagir com os Vingadores diretamente em filmes como Vingadores – Guerra Infinita Parte 1 e 2, a serem lançados em 2018 e 2019. É pouco provável, mas nunca se sabe. De qualquer modo, o tratamento do homem sem medo nas telinhas tem algo de revolucionário, mesmo com a mais de dezena de personagens das HQs adaptados a esta mídia atualmente.
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O Demolidor foi criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett e surgiu em sua própria revista, Daredevil 01. Desde então, é publicado pela Marvel Comics.

Justiceiro: Anti-herói da Marvel pode ganhar sua própria série de TV

O Justiceiro nos quadrinhos, por Mike Zeck.
O Justiceiro nos quadrinhos, por Mike Zeck.
O vigilante assassino Justiceiro estreará na TV na segunda temporada de Demolidor, a série de TV exibida pelo canal de internet Netflix, em parceria com a Marvel Television e o ABC Studios, adaptando o homem sem medo das revistas da Marvel Comics, mas parece que a Marvel gostou tanto da atuação do ator Jon Bernthal que já está criando uma série própria para o personagem. É o que diz o site TV Line.
Nos quadrinhos, o Justiceiro é um anti-herói que decide eliminar os criminosos de Nova York com as próprias mãos. Nas HQs, Frank Castle é um ex-militar veterano de guerra que, após tentar viver uma vida comum, com esposa e filhos, tem a família inteiramente assassinada no fogo cruzado de uma guerra entre mafiosos. A partir de então, vira um foragido da lei, travando uma guerra particular contra o crime organizado, o que o coloca em um meio termo entre os vilões e os heróis.
O Justiceiro (dir.) em Demolidor.
O Justiceiro (dir.) em Demolidor.
Apesar de já ter sido levado ao cinema três vezes, nenhuma das tentativas agradou crítica e público ao mesmo tempo, mas o personagem parece funcionar dentro da lógica da TV. Em Demolidor, provavelmente, o Justiceiro será um tipo de contraponto ao herói principal, talvez se convertendo de ameaça a aliado do meio para o fim.
Demolidor foi a primeira série de TV de um pacote da Marvel com o Netflix, que envolve outras três séries (Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro) e uma minissérie que reunirá todas: Os Defensores. As séries são exibidas com exclusividade pela internet, tal qual outros produtos do Netflix.  O elenco traz: Charlie Cox (Matt Murdock/ Demolidor), Deborah Ann Wolf (Karen Page), Elden Henson (Foggy Nelson), Jon Bernthal (Frank Castle/ Justiceiro), Élodi Yung (Elektra Natchios), Stephen Rider (promotor Blake Tower), Rosario Dawson (Claire Temple), Scott Glenn (Stick). A série é produzida por Jeph Loeb (Smallville, Lost), Doug Petrie e Marco Ramirez. Como a Primeira, a Segunda Temporada terá 13 episódios e estreia em 18 de março de 2016.
O Demolidor foi criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett e surgiu em sua própria revista, Daredevil 01. Desde então, é publicado pela Marvel Comics.
O Justiceiro foi criado por Gerry Conway e John Romita, aparecendo pela primeira vez em Amazing Spider-Man 129, de 1974, numa aventura do Homem-Aranha. Ao longo dos anos 1970 e início dos 1980, o Justiceiro continuou aparecendo como personagem coadjuvante nas histórias da Marvel, especialmente do aracnídeo e do Demolidor, até que sua popularidade aumentou tanto que ganhou uma revista própria no fim dos anos 1980, revista esta que foi um dos maiores sucessos de vendas dos anos 1990.

Demolidor: Segunda Temporada da série de TV pode estrear no mesmo dia que Batman vs. Superman

Demolidor: segunda temporada para concorrer com a DC Comics?
Demolidor: segunda temporada para concorrer com a DC Comics?
site Comic Book trouxe uma informação interessante: segundo suas fontes, Demolidor, a série de TV exibida pelo canal de internet Netflix, em parceria com a Marvel Television e o ABC Studios, adaptando o homem sem medo das revistas da Marvel Comics, pode estrear sua segunda temporada no mesmo dia que o filme Batman vs. Superman – A Origem da Justiça, da concorrente DC Comics: 25 de março próximo.
Não é confirmado ainda, porém, rumores anteriores já apontavam a estreia da série em março. E a Marvel tem um histórico de disputa de datas de estreias com a Warner/DC. Inclusive, A Origem da Justiça teve inicialmente sua estreia marcada para o mesmo dia que Capitão América – Guerra Civil, em 06 de maio, o que gerou um profundo mal estar. No fim das contas, a Warner cedeu e antecipou sua chegada às telonas para a data já mencionada, já que Capitão América 2 – O Soldado Invernal foi bem melhor nas bilheterias do que Superman – O Homem de Aço.
Seria a Marvel espevitando a Warner colocando Demolidor – cuja a Primeira Temporada foi um estouro, a maior audiência da história do Netflix – para atrapalhar a vida do homem-morcego e do homem de aço?
[Atualizado, 07/01: A Marvel confirmou hoje que a data de estreia do programa é 18 de março, ou seja, uma semana antes de Batman vs. Superman – A Origem da Justiça. Também foi divulgado um teaser bacana sobre a série, veja abaixo:
O vídeo recapitula a Primeira Temporada e apresenta elementos da Segunda, particularmente, a ameaça do Justiceiro, que tem mais destaque. Fim da Atualização]. 
Segunda Temporada de Demolidor trará o advogado cego Matthew Murdock continuando sua jornada (quase) solitária de combater o crime com as próprias mãos, usando seus poderes especiais: audição e os outros sentidos extremamente desenvolvidos e um tipo de radar que lhe dá a localização dos objetos e pessoas, embora não possa enxergar. Mesmo tendo prendido o Rei do Crime no fim da temporada anterior, novos desafios surgem para o demônio da Cozinha do Inferno: um vigilante que mata os criminosos chamado Justiceiro e uma velha namorada, Elektra, que é agora uma assassina de aluguel.
O Demolidor à mercê do Justiceiro.
O Demolidor à mercê do Justiceiro.
Demolidor foi a primeira série de TV de um pacote da Marvel com o Netflix, que envolve outras três séries (Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro) e uma minissérie que reunirá todas: Os Defensores. As séries são exibidas com exclusividade pela internet, tal qual outros produtos do Netflix.  O elenco traz: Charlie Cox (Matt Murdock/ Demolidor), Deborah Ann Wolf (Karen Page), Elden Henson (Foggy Nelson), Jon Bernthal (Frank Castle/ Justiceiro), Élodi Yung (Elektra Natchios), Stephen Rider (promotor Blake Tower), Rosario Dawson (Claire Temple), Scott Glenn (Stick). A série é produzida por Jeph Loeb (Smallville, Lost), Doug Petrie e Marco Ramirez. Como a Primeira, a Segunda Temporada terá 13 episódios.
O Demolidor foi criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett e surgiu em sua própria revista, Daredevil 01. Desde então, é publicado pela Marvel Comics.

Demolidor: Nova revista do homem sem medo apresenta novo uniforme e parceiro mirim

O Demolidor com uniforme negro ao lado de Blindspot. Arte de Ron Garney.
O Demolidor com uniforme negro ao lado de Blindspot. Arte de Ron Garney.
Demolidor, o homem sem medo da editora Marvel Comics, teve encerrada a recente temporada da revista Daredevil, com a aclamada fase comandada pelo escritor Mark Waid e o desenhista Chris Samne. Agora em dezembro, a revista ganha um novo volume e uma nova fase, agora, sob as mãos do escritor Charles Soule (da saga A Morte de Wolverine) e do desenhista Ron Garney (das revistas do Capitão América e com uma passagem anterior no Demolidor).
A nova Daredevil 01 dará início a uma fase que se passa nas consequências da megassaga Guerras Secretas, que abala a cronologia da Marvel Comics. Por esse motivo, não está claro se o personagem voltará a ter uma identidade secreta após revelá-la ao mundo na etapa final da temporada de Waid e Samne. De qualquer modo, a nova fase está recheada de novidades: o homem sem medo retorna a Nova York (após passar um tempo em San Francisco, na Costa Oeste), passará a usar um uniforme preto e terá um parceiro mirim: um novo combatente ao crime chamado Blindspot.
Daredevil 01 chega às Comics Shops dos EUA no início de dezembro e, no Brasil, deve ser publicada no ano que vem pela editora Panini Comics.
O Demolidor foi criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett e surgiu em sua própria revista, Daredevil 01. Desde então, é publicado pela Marvel Comics.

Demolidor: Ator Jon Bernthal é contratado para viver o Justiceiro na segunda temporada da série

Demolidor ganha a companhia do Justiceiro na segunda temporada.
Demolidor ganha a companhia do Justiceiro na segunda temporada.
Um grata surpresa caiu no colo dos fãs ontem. Foi anunciado oficialmente que o anti-herói Justiceiro aparecerá na segunda temporada de Demolidor, a série de TV que será exibida pelo canal de internet Netflix, em parceria com a Marvel Television e o ABC Studios, adaptando o homem sem medo das revistas da Marvel Comics. E o melhor, será interpretado por Jon Bernthal (de The Walking Dead e Corações de Ferro), um ator bastante apreciado pelos fãs.
Jon Bernthal é o novo Justiceiro da Marvel.
Jon Bernthal é o novo Justiceiro da Marvel.
Demolidor é uma das mais sensacionais séries de TV já feitas – aguarde em breve uma resenha do HQRock – e a segunda temporada virá em 2016, mas não há nenhum adiantamento da trama a ser usada. Os fãs esperam, contudo, ver A Saga de Elektra adaptada à TV. E faz todo o sentido numa construção cronológica. A história é um dos maiores clássicos das histórias em quadrinhos em todos os tempos e foi criada pelo escritor e desenhista Frank Miller entre 1981 e 1983. (Saiba mais sobre A Saga de Elektra clicando aqui).
[E esperamos A Queda de Murdock para a terceira temporada? Quem sabe?].
A Saga de Elektra tem uma importante participação do Justiceiro. Rumores também garantem que a segunda temporada terá o vilão Mercenário, um contraponto interessante com o Demolidor e um meio termo com o Justiceiro em si.
Para saber mais sobre o Demolidor, leia a primeira parte do Dossiê especial do HQRock sobre o personagem.
O Justiceiro nas HQs.
O Justiceiro nas HQs.
Justiceiro é um famoso personagem da Marvel, um anti-herói que decide eliminar os criminosos de Nova York com as próprias mãos. Nas HQs, ele é um ex-militar veterano de guerra que, após tentar viver uma vida comum, com esposa e filhos, tem a família inteiramente assassinada no fogo cruzado de uma guerra de gangues entre mafiosos. A partir de então, ele vira um foragido da lei, travando uma guerra particular contra o crime organizado, o que o coloca em um meio termo entre os vilões e os heróis.
O personagem foi criado por Gerry Conway e John Romita, aparecendo pela primeira vez em Amazing Spider-Man 129, de 1974, numa aventura do Homem-Aranha. Ao longo dos anos 1970 e início dos 1980, o Justiceiro continuou aparecendo como personagem coadjuvante nas histórias da Marvel, especialmente do aracnídeo e do Demolidor, até que sua popularidade aumentou tanto que ganhou uma revista própria no fim dos anos 1980, revista esta que foi um dos maiores sucessos de vendas dos anos 1990. Da década de 2000 para cá, apesar de ter perdido a maior parte de sua popularidade, o personagem ganhou uma série de histórias cults, bastante apreciadas pelos críticos, escritas por Garth Ennis e desenhadas por Steve Dillon.
Demolidor versus Justiceiro em Daredevil 183: coreografias de Miller.
Demolidor versus Justiceiro em Daredevil 183: coreografias de Miller.
O Justiceiro já foi adaptado aos cinemas três vezes: O Justiceiro, de 1989, vivido por Dolph Lundgren; O Justiceiro, de 2004, vivido por Thomas Jane; e Justiceiro – Zona de Guerra, de 2008, vivido por Ray Stevenson; todavia, nenhum deles agradou público e crítica, apesar da riqueza das HQs em que se basearam. A Marvel chegou a anunciar uma série de TV para o personagem em 2011 (saiba mais aqui), porém, esta nunca se concretizou.
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Jon Bernthal é a cara do Justiceiro!
Jon Bernthal é a cara do Justiceiro!
Demolidor é a primeira série de TV de um pacote da Marvel com oNetflix, que envolverá outras três séries (Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro) e uma minissérie que reunirá todas: Os Defensores. As séries serão exibidas com exclusividade pela internet, tal qual outros produtos do Netflix.  O elenco traz: Charlie Cox (Matt Murdock/ Demolidor), Vincent D’Onofrio (Wilson Fisk/ Rei do Crime), Rosario Dawson (Claire Temple), Deborah Ann Wolf (Karen Page), Elden Henson (Foggy Nelson), Aylet Zurer (Vanessa Marianna), Bob Gunton (Leland Owlsley/ Coruja), Toby Leonard Moore (Wesley), Vondie Curtis-Hall (Ben Urich), Scott Glenn (Stick) e Peter Shinkoda (Nobu). A série é produzida por Jeph Loeb (Smallville, Lost), Steven DeKnight (de Buffy, Smallville e Spartacus) e Drew Goddard (de Lost e Cabin in the Woods), este último também tendo escrito os dois primeiros episódios. A série tem 13 episódios e a estreou em 10 de abril de 2015.
Nos quadrinhos, o Demolidor é o advogado Matt Murdock, que ficou cego em um acidente radioativo quando criança. Em compensação, a radioatividade ampliou seus outros sentidos (audição, tato, paladar e olfato) a níveis sobrehumanos, além de dotá-lo de um tipo de sonar que permite localizar objetos, calcular distâncias etc. Em consequência, apesar de não enxergar, Murdock pode se movimentar e andar com muito mais agilidade que um homem comum. Ele atua numa região barra-pesada de Nova York conhecida como Cozinha do Inferno.
O Demolidor foi criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett e surgiu em sua própria revista, Daredevil 01. Desde então, é publicado pela Marvel Comics.

Televisão: Séries de heróis são renovadas para novas temporadas

Poster da segunda temporada de Agent Carter.
Poster da segunda temporada de Agent Carter.
Esses dias, os canais de TV dos Estados Unidos estão divulgando as séries que ganharam renovação para novas temporadas ou tiveram “luz verde” para iniciar a produção. Acompanhe a lista abaixo e veja o destino de sua série favorita:
  • Arrow: Sem surpresas, ganhou encomenda de sua quarta temporada!
  • The Flash: Também sem surpresas, terá uma segunda temporada.
  • Agents of SHIELD: Apesar de não ser um estouro, a série mantém um grupo de fãs e terá uma terceira temporada.
  • Agent Carter: Também terá uma segunda temporada, novamente com oito episódios.
  • Demolidor: Esmagador sucesso de público e crítica, terá uma segunda temporada, mas apenas em 2016.
  • Constantine: É a única que não tem renovação garantida. O canal NBC não irá produzir uma segunda temporada. A série é um sucesso de crítica, mas a audiência não empolgou o canal. DC Entertainment e Warner Bros. TV estão procurando um outro canal que tope produzi-la e exibi-la para uma segunda temporada.
Heróis e vilões em Legends of Tomorrow.
Heróis e vilões em Legends of Tomorrow.
Novas séries:
Com o sucesso daquelas, novas séries estão à caminho. Veja quais:
  • Supergirl: O sucesso de Arrow e Flash motivou a CBS a encomendar a série da prima do Superman mesmo sem um episódio piloto filmado.
  • Legends of Tomorrow: Esta série será outro derivado da dobradinha Arrow e Flash, e trará personagens como The Atom, Canário Negro e Nuclear em uma aventura sobre viagens no tempo.
  • AKA Jessica Jones: Nova série da Marvel no Netflix, que se passa no mesmo universo do Demolidor e também terá o personagem Luke Cage.
Por fim, dos novos projetos não aprovados está um possível derivado de Agents of SHIELD focado na personagem Bobbi Morse, que nos quadrinhos é a vingadora Harpia. A Marvel decidiu deixá-la na série original mesmo.
As novas séries e temporadas estreiam entre setembro e outubro deste ano, à exceção do Demolidor, que estreia em abril de 2016.

Demolidor: Série garante segunda temporada, mas mudará de produtor

Demolidor: renovado para segunda temporada.
Demolidor: renovado para segunda temporada.
Passaram-se apenas 12 dias desde a estreia de Demolidor, a série de TV que será exibida pelo canal de internet Netflix, em parceria com a Marvel Television e o ABC Studios, adaptando o homem sem medo das revistas da Marvel Comics. E o programa já conquistou uma audiência enorme e grandes elogios nos meios de comunicação e nas redes sociais. Por isso, não é surpresa nenhuma a Marvel ter anunciado ontem que o programa terá uma segunda temporada em 2016, embora irá mudar de produtor: Steven DeKnight não retornará à sua função.
Segundo o próprio executivo, o motivo é o conflito de agendas que lhe impede de continuar a desenvolver a série em seu segundo ano. O esquema de produção de Demolidor é diferenciado dos outros programas de TV, porque como é exibido exclusivamente na internet, todos os 13 capítulos foram gravados de uma única vez e liberados todos de uma vez também no canal. Assim, o consumidor é quem define o ritmo de episódios a partir de sua capacidade de assisti-los.
Qualidade da série é surpreendente.
Qualidade da série é surpreendente.
Como a segunda temporada só virá em 2016, é bem provável que os novos episódios só sejam escritos e gravados no fim do segundo semestre deste ano, o que torna complicado a um produtor como DeKnight assumi-la tendo outros compromissos já agendados com as séries regulares de TV que são gravadas capa episódio por vez ao longo da maior parte de um ano.
De qualquer modo, DeKnight garante que o programa está em boas mãos: quem assume a produção é a dupla Doug Petrie e Marco Ramirez, que já trabalharam como assistentes de DeKnight e de Drew Goddard na primeira temporada.
Aguarde em breve a Resenha da Série produzida aqui pelo HQRock.
Demolidor é a primeira série de TV de um pacote da Marvel com oNetflix, que envolverá outras três séries (Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro) e uma minissérie que reunirá todas: Os Defensores. As séries serão exibidas com exclusividade pela internet, tal qual outros produtos do Netflix.  O elenco traz: Charlie Cox (Matt Murdock/ Demolidor), Vincent D’Onofrio (Wilson Fisk/ Rei do Crime), Rosario Dawson (Claire Temple), Deborah Ann Wolf (Karen Page), Elden Henson (Foggy Nelson), Aylet Zurer (Vanessa Marianna), Bob Gunton (Leland Owlsley/ Coruja), Toby Leonard Moore (Wesley), Vondie Curtis-Hall (Ben Urich), Scott Glenn (Stick) e Peter Shinkoda (Nobu). A série é produzida por Jeph Loeb (Smallville, Lost), Steven DeKnight (de Buffy, Smallville e Spartacus) e Drew Goddard (de Lost e Cabin in the Woods), este último também tendo escrito os dois primeiros episódios. A série tem 13 episódios e a estreia será em 10 de abril de 2015.
Nos quadrinhos, o Demolidor é o advogado Matt Murdock, que ficou cego em um acidente radioativo quando criança. Em compensação, a radioatividade ampliou seus outros sentidos (audição, tato, paladar e olfato) a níveis sobrehumanos, além de dotá-lo de um tipo de sonar que permite localizar objetos, calcular distâncias etc. Em consequência, apesar de não enxergar, Murdock pode se movimentar e andar com muito mais agilidade que um homem comum. Ele atua numa região barra-pesada de Nova York conhecida como Cozinha do Inferno.
O Demolidor foi criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett e surgiu em sua própria revista, Daredevil 01. Desde então, é publicado pela Marvel Comics.

Demolidor: A trajetória do homem sem medo nos quadrinhos

Demolidor.
Demolidor.
Fazendo sucesso em sua própria série de TV e com 50 anos de histórias publicadas, ainda assim, o Demolidor está longe de ser o personagem mais famoso da editora Marvel Comics. Ainda assim, o personagem Matt Murdock já rendeu algumas das melhores histórias em quadrinhos já publicadas em todos os tempos. Com a ambientação sombria e suspense tenso, a vida de Murdock já foi virada de cabeça para baixo diversas vezes, fazendo do homem sem medo um dos caras que mais apanhou da vida nas HQs, o que rende grande diversão e prazer ao leitor.
Apesar da qualidade de suas histórias, o Demolidor ainda é majoritariamente pouco lido por aqueles que não são fãs de quadrinhos. Portanto, se quer saber mais sobre a trajetória do demônio atrevido da Marvel, siga em frente e conheça a trajetória editorial do personagem.
O sucesso demora, mas quando vem…
O Demolidor da TV.
O Demolidor da TV.
Muitas vezes, personagens fictícios estreiam com sucesso ou o alcançam em pouco tempo, fazendo com que suas aventuras mais antigas sejam mais clássicas. Este, definitivamente, não é o caso do Demolidor. O personagem surgiu na aurora da Marvel, em 1964, mas demorou mais de uma década e meia para encontrar sua real identidade. Foi somente quando o escritor e desenhista Frank Miller assumiu a revista do homem sem medo em 1981 que Matt Murdock encontrou sua vocação maior como personagem. A partir daí, se tornou um personagem denso, sombrio e protagonista de histórias sensacionais.
Por isso, muitas das clássicas aventuras do personagem advêm dos anos 1980 e 90. Mas tal classificação nem é justa, já que o Demolidor teve histórias simplesmente excepcionais nos anos 2000 e continua hoje em uma ótima fase nas mãos do escritor Mark Waid.
Vamos entender essa história toda.
Em meio à festa…
A capa de Daredevil 01, por Jack Kirby.
A capa de Daredevil 01, por Jack Kirby.
O Demolidor estreou em uma revista própria em 1964, numa história assinada por Stan Lee e Bill Everett. O personagem, assim, nasceu em meio ao boom inicial da Marvel Comics, na construção de seu universo ficcional. Embora tecnicamente existisse desde 1939 – sob os nomes Timely Comics primeiro e depois Atlas Comics – a Marvel só se “encontrou” de verdade com o lançamento do Quarteto Fantástico em 1961. A partir daí, o escritor Stan Lee começou a construir – juntamente aos desenhistas Jack Kirby, Don Heck, Steve Ditko e outros – um universo de novos personagens bastante diferentes da concorrente DC Comics (que publicava Superman, Batman, Mulher-Maravilha etc.).
Entre 1961 e 1963, Lee e seus colaboradores criaram uma impressionante quantidade de bons personagens, como Homem-Aranha, Thor, Hulk, Dr. Estranho, Homem de Ferro, os Vingadores e os X-Men. Levando isso em consideração, o Demolidor chega até tarde, em 1964. Mas o fluxo ainda continuaria: os Inumanos, Pantera Negra, Surfista Prateado, ainda chegariam nos anos seguintes.
Os Vingadores de Stan Lee e Jack Kirby: criando o Universo Marvel.
Os Vingadores de Stan Lee e Jack Kirby: criando o Universo Marvel.
O posicionamento cronológico do Demolidor ainda levanta uma questão curiosa: na época, a Marvel ainda se reerguia de uma grave crise vivenciada na década anterior. Assim, não possuía mais uma distribuidora de revistas, de modo que este serviço era realizado, de modo irônico, pela DC Comics. Por isso, a DC impunha um limite de oito revistas mensais de super-heróis à Marvel. Stan Lee – que também era o Editor-Chefe da Marvel, além de seu principal escritor – criou uma estratégia para burlar a regra mantendo 16 revistas bimestrais nas bancas, mas ainda assim, era um número bem limitado.
Por isso, é curioso que o Demolidor tenha estreado em uma revista própria. Veja: o Homem-Aranha surgiu numa aventura na revista Amazing Fantasy 15, em 1962, revista que foi cancelada para dar lugar a outra. Quando a Marvel percebeu que aquela aventura era um sucesso imenso de vendas decidiu dar uma revista própria para o personagem. Mas para isso, precisava sacrificar outra revista e manter o limite imposto pela DC. Assim, sobrou para o Hulk, cuja The Incredible Hulk não vinha vendendo tão bem. O gigante verde ficou sem ser publicado por um tempo e, depois, terminou alocado como uma das histórias publicadas em Tales to Astonish, enquanto estreava a nova The Amazing Spider-Man no lugar daquela.
Então, porque um personagem novo como o Demolidor estreava em uma revista própria em um cenário desses? É uma questão sem resposta. Porque não dar uma revista própria para o Homem de Ferro (que era publicado em Tales of Suspense) ou devolver um número ao Hulk? Talvez, fosse uma aposta de Stan Lee nesse novo e incomum personagem. Mas quem sabe?
Origem Duvidosa
O Demolidor na arte de Bill Everett.
O Demolidor na arte de Bill Everett.
A criação do Demolidor ainda é permeada por uma série de curiosidades ou mistérios. A começar pelo visual do personagem. Até hoje não está claro quem criou a primeira versão do personagem, em seu uniforme amarelo. Apesar de Bill Everett ganhar o crédito de cocriador – porque desenha Daredevil 01 – muitas fontes afirmam que quem criou o visual foi Jack Kirby. É fato que Kirby desenhou a capa de Daredevil 01, pois era o principal capista da editora. E muitas vezes, as capas eram feitas antes mesmo das histórias e serviam de base para o desenhista do interior do número.
Além disso, muitas fontes também dizem que Bill Everett sequer chegou a terminar os desenhos de Daredevil 01 e que Steve Ditko (que desenhava as histórias do Homem-Aranha, Dr. Estranho e do Homem de Ferro) foi quem finalizou a revista, dando um trato no visual na história inteira.
Bill Everett, o primeiro artista.
Bill Everett, o primeiro artista.
Então, porque Bill Everett ganhou os créditos? Segundo muitos, foi uma pura cortesia de Stan Lee. É fato que Everett foi um desenhista célebre no passado – ele criou Namor, o Príncipe Submarino, em 1939, que foi um dos maiores sucessos dos anos iniciais da Marvel – e, nos anos 1960, sofria de alcoolismo. Talvez, o crédito fosse uma maneira de dar algum orgulho e incentivo a Everett, um tipo de atitude típica de Lee.
Também é fato que, em 1964, Everett trabalhava na Eton Paper Corporation, em Massachussets, em um emprego de período integral, por isso, não tinha como manter uma revista mensal. De qualquer modo, Everett voltou a colaborar com a Marvel dois anos depois, desenhando de modo ocasional aventuras dos Vingadores, X-Men, Dr. Estranho e Hulk. Em 1968, ele voltou à ativa de modo mais contínuo retornando a sua maior criação: Namor, quando este ganhou uma revista própria com roteiros do próprio Lee e outros ajudantes. Por fim, Everett terminaria se reestabelecendo na carreira, assumindo a revista Namor, the submariner, entre os números 50 e 61, a partir de 1972, fazendo desenhos e roteiros, embora tenha falecido de forma precoce em 1973.
Um herói incomum
O acidente de Murdock por Lee e Everett.
O acidente de Murdock por Lee e Everett.
Stan Lee gostava de criar personagens singulares. E o Demolidor não seria diferente. O escritor imprimia personalidades fortes em seus personagens e os dotava de limites e fraquezas, além de lhes dar profissões e vidas pessoais bem definidas, de forma totalmente diferente dos heróis da concorrente DC Comics. O Homem de Ferro era um empresário mulherengo e com falhas de caráter; o Homem-Aranha era um adolescente problemático, sem dinheiro, nerd, sem sorte com as garotas e que tinha que cuidar de uma tia idosa e doente, conciliando os estudos com um trabalho de fotógrafo free-lancer; Thor passava seu tempo na Terra como um médico manco de uma das pernas; o Tocha Humana era um adolescente egocêntrico, rico e deslumbrado etc.
Assim, o Demolidor era Matt Murdock, um advogado que ficou cego em um acidente quando adolescente, ao salvar um velhinho de ser atropelado por um caminhão desgovernado, terminou sendo atingido pela carga radioativa do veículo e ficou cego. Em compensação, a radiação fez seus outros sentidos se ampliarem a níveis sobre-humanos. Podia saber se as pessoas estavam mentindo ou não porque ouvia as batidas do coração das pessoas (e também identificá-las pelas batidas); podia determinar a cor de um objeto sentido a emissão de calor das tintas ao tocá-los com as mãos. E o melhor: era dotado de um tipo de radar sônico que lhe dava a localização dos objetos ao seu redor e o permitia ser extremamente ágil.
Capa da edição 04 por Jack Kirby.
Capa da edição 04 por Jack Kirby.
Mesmo com todos esses poderes sensoriais, o Demolidor não tinha nenhuma capacidade sobre-humana em termos físicos. Ou seja, era um homem comum extremamente bem treinado e que usava seus sentidos como vantagem adicional. Mas ainda assim tinha a limitação de ser cego e não poder ver o mundo e as pessoas.
O fato de Murdock ser um advogado e trabalhar numa firma em parceria com o sócio Franklin “Foggy” Nelson e isso servir à história também era interessante. E como não podia faltar drama, existia a secretária Karen Page, disputada pelos dois sócios. Mas Matt sentia que ela merecia mais do que um cego e tentava empurrá-la para os braços do amigo.
Filho de Lutador
Mesmo com esses elementos interessantes enquanto personagem, a origem do Demolidor apresentada em Daredevil 01 era bem banal: Murdock se torna um vigilante uniformizado depois que seu pai, um velho boxeador, é assassinado. O motivo do crime é que Jack “Batalhador” Murdock se negou a entregar a luta por propina relacionada às apostas. Vestido como o Demolidor, Murdock encurrala os criminosos, mas o mandante do crime sofre um ataque cardíaco e morre antes de ir à Justiça.
Início Difícil
O homem-Aranha de Stan Lee e Steve Ditko era uma grande influência.
O homem-Aranha de Stan Lee e Steve Ditko era uma grande influência.
Diferente do Homem-Aranha, que emplacou de cara uma série de histórias clássicas, o Demolidor não teve tanta “sorte” no início. Na verdade, parecia que Stan Lee não tinha muito tempo para escrevê-lo (estava ocupado fazendo o Homem-Aranha, Thor, Homem de Ferro, Hulk, Vingadores, X-Men, Quarteto Fantástico, Dr. Estranho, Nick Fury etc.) e não conseguiu desenvolver bem um universo próprio para o personagem. Assim, muito da ambientação do Demolidor nos primeiros anos devia ao escalador de paredes: o homem sem medo muitas vezes lutava contra os vilões surgidos nas aventuras do cabeça de teia. E o fato de Murdock andar por aí se balançando entre prédios – usando uma corda e arpel fixados em seus bastões (que viravam a bengala de Murdock para disfarçar) – também não ajudava. A personalidade de Murdock como alguém sério, carrancudo e tímido que terminava se sacrificando o tempo inteiro pelos outros, mas sofria internamente por isso, também ecoava diretamente à personalidade de Peter Parker.
O Demoldior, Karen Page  e o Coruja na arte de Joe Orlando.
O Demoldior, Karen Page e o Coruja na arte de Joe Orlando.
falta de direcionamento também se refletia na dificuldade da revista Daredevil ter uma equipe fixa de colaboradores. Apesar de Lee manter os créditos de escrita, vários desenhistas se alternaram na revista em seus primeiros anos. Se por um lado, isso permitiu ao personagem passar pela mão de vários grandes nomes, por outro, não criou uma marca consolidada como os outros heróis da editora. Stan Lee e Jack Kirby produziriam 102 edições do Quarteto Fantástico; Lee e Steve Ditko assinaram as primeiras 39 edições de Amazing Spider-Man; assim por diante.
Nada mais diferente do que Daredevil: literalmente dezenas de escritores e desenhistas trabalharam na revista entre 1984 e 1979. Como já dito, a dupla Stan Lee e Bill Everett produziu apenas Daredevil 01. Na edição 02, os desenhos foram assumidos por Joe Orlando e, como para reforçar seus laços como o Homem-Aranha, este número o Demolidor enfrenta um dos vilões daquele: Electro. O primeiro vilão próprio do homem sem medo surgiu no número 03, o Coruja. A edição 04 traz a estreia de Killgrave, o Homem-Púrpura, um vilão que teria importância para outros personagens da Marvel, como Jessica Jones no futuro distante.
Capa de Wally Wood já muda o símbolo do peito do herói para dois Ds.
Capa de Wally Wood já muda o símbolo do peito do herói para dois Ds.
Quando parecia que a revista Daredevil tinha ganho um desenhista fixo, Orlando já é substituído a partir do número 05, quando Wally Wood chega à revista. Wood era um dos mais célebres artistas advindos da E.C. Comics, editora que se notabilizou pelas revistas violentas e de terror nos anos 1950.
De cara, Wood já cria uma pequena modificação visual no personagem, trocando o simples D do peito por um duplo D, que viraria, a partir dali, a marca visual do herói.
Capa de Daredevil 07 traz a estreia do novo (e definitivo) uniforme do herói.
Capa de Daredevil 07 traz a estreia do novo (e definitivo) uniforme do herói.
Além disso, Wally Wood parecia mesmo insatisfeito com o visual do Demolidor – que convenhamos era ruim mesmo – e, por isso, propôs um novo visual, aceito por Stan Lee e que estreou em Daredevil 07, de 1965: um uniforme inteiramente vermelho-escuro, que dava um visual mais sombrio e moderno. Este uniforme se tornou o padrão do herói a partir dali.
Uma curiosidade da edição 07 é que Namor era a mais famosa criação de Bill Everett.
Além das mudanças visuais, a pequena temporada de Lee e Wood produziu alguns vilões importantes ao cânone do personagem, como o Sr. Medo (edição 06), o Stiltman (edição 08) e os Homens-Animais (edição 10).
Daredevil 11 fechou um pequeno arco iniciado na edição anterior, na qual Foggy Nelson é eleito Promotor Público de Nova York, o que faz Matt Murdock desistir de seu amor por Karen Page e deixá-la livre para se envolver com seu sócio. A revista, contudo, já teve esta edição desenhada por outro artista: Bob Powell. Este na verdade foi só um tapa buraco até Stan Lee encontrar um substituto, que veio na figura do lendário John Romita.
Pequena Estabilidade
Auto retrato de John Romita: um dos maiores nomes da Marvel.
Auto retrato de John Romita: um dos maiores nomes da Marvel.
John Romita é um dos nomes mais importantes da história da Marvel! Famoso por sua temporada no Homem-Aranha (entre 1966 e 1973), o artista também colaborou com outras revistas, como Capitão América, Hulk e Vingadores, e se tornou o Diretor de Arte da Marvel em 1972, a partir do qual assumiu a responsabilidade de dar um caráter próprio ao visual da editora. Por isso, ao longo dos anos 1970 seria o principal capista da Marvel (ao lado de Gil Kane e John Buscema) e criaria o visual de dezenas de personagens, inclusive do Justiceiro e de Wolverine.
Mas toda a sua história com a Marvel começa ali no ano de 1965 e seu envolvimento com o Demolidor.
Edição de estreia de John Romita traz arte de Jack Kirby.
Edição de estreia de John Romita traz arte de Jack Kirby.
Na verdade, Romita já tinha trabalhado na Marvel no início dos anos 1950 e tinha feito uma parceria com Stan Lee entre 1953 e 1954 numa tentativa frustrada de trazer o Capitão América de volta às bancas (depois do personagem ter sido cancelado quatro anos antes). Com a crise do mercado de quadrinhos de super-heróis dos anos 1960, Romita terminou na DC Comics desenhando histórias de romance, por onde ficou por 10 anos!
Capa de Daredevil 16 por John Romita.
Capa de Daredevil 16 por John Romita.
Frustrado e cansado daquilo, Romita decidiu se aposentar dos quadrinhos (aos 35 anos!). [É incrível que a DC não tenha aproveitado o imenso talento dele para usar em sua linha de super-heróis!] Ao saber disso, Stan Lee convidou Romita para trabalhar na Marvel, mas o desenhista só aceitou na condição de fazer apenas arte-final (ou seja, cobrir com nanquim os desenhos do artista principal) e não mais desenhar. Lee aceitou e colocou Romita para fazer a arte final de algumas edições da revista dos Vingadores. Mas claro que Lee queria Romita desenhando e o testou no Demolidor: mostrou a arte de um desenhista para a revista e pediu conselhos de Romita. No fim das contas, Romita terminou assumindo a revista Daredevil a partir da edição 12, de 1965.
A fantástica arte de JOhn Romita.
A fantástica arte de John Romita.
Com Romita ainda inseguro de retomar o trabalho com os super-heróis, Daredevil 12 e 13 tiveram os layouts criados por Jack Kirby (ou seja, ele definiu angulações e posicionamento dos quadros), enquanto Romita fez as ilustrações em cima deles. O arco de histórias mostrado em Daredevil 12 a 14explorava as origens do personagem Ka-Zar, um tipo de versão do Tarzan da Marvel, que tinha aparecido em X-Men 10.
Outro encontro especial ocorreu em Daredevil 16, de 1966, na qual o Demolidor encontra o Homem-Aranha. Na verdade, era a segunda vez que os personagens se encontravam, pois a primeira tinha sido em Amazing Spider-Man 14, de 1964.
John Romita expõe seu talento para fisionomias comuns: J.J. Jameson, Peter Parker e Matt Murdock.
John Romita expõe seu talento para fisionomias comuns: J.J. Jameson, Peter Parker e Matt Murdock.
Outro vilão importante da galeria do Demolidor surgiu na edição 18: o Gladiador. Além de Lee e Romita, esta edição também foi cooescrita por Dennis O’Neil, um jovem escritor que estava iniciando a carreira e, logo mais, se tornaria um dos mais importantes da concorrente DC Comics (escrevendo Batman, Superman e Liga da Justiça). Bem mais tarde, O’Neil também teria um envolvimento mais profundo com homem sem medo.
O Gladiador.
O Gladiador.
Romita encerra sua passagem na revista na edição 19, de 1966, pulando para Amazing Spider-Man do Homem-Aranha, onde faria sua fama. Vendo em retrospecto, fica parecendo que Stan Lee planejou tudo e usou a revista Daredevil como um “treino” para Romita assumir o aracnídeo (até o fez aparecer na revista!), o que não é impossível, tendo em vista as grandes discordâncias que o escritor vinha tendo com o artista Steve Ditko que fazia o cabeça de teia. Ditko foi substituído por Romita em Amazing Spider-Man 39.
Romita continuaria envolvido com o Demolidor fazendo muitas capas para suas revistas nos anos seguintes. E, como o leitor irá perceber em breve, o filho dele, John Romita Jr., também seria um importantíssimo ilustrador do homem sem medo.
A chegada de Gene Colan
A dinâmica arte de Gene Colan.
A dinâmica arte de Gene Colan.
Após 19 edições ilustradas por seis artistas diferentes, a revista Daredevil finalmente encontrou um desenhista fixo: o número 20, de 1966, traz a estreia de Gene Colan, que se tornaria um dos mais importantes ilustradores do personagem, responsável pela arte de Daredevil até a edição 100, de 1973 (com a mera exceção de três números). Colan é um dos grandes artistas da história da Marvel – leia um post sobre ele aqui – e o Demolidor foi seu personagem “de assinatura”.
Assim como Romita, Colan tinha um grande talento para criar figuras em ação e desenvolveu isso à maestria no Demolidor, explorando diversos ângulos inusitados em seus quadrinhos e dando ainda mais agilidade ao homem sem medo. Menos musculoso do que as versões de Romita e Kirby, o Demolidor de Colan é magro e esguio, ágil como um atleta olímpico.
A fase com roteiros de Stan Lee e arte de Gene Colan é bastante querida pelos fãs de quadrinhos, porque permitiu um senso de continuidade e aprofundamento do universo próprio do Demolidor, lançando mão de ideias que, por mais que fossem estranhas, marcaram época.
Mike Murdock na arte de Gene Colan.
Mike Murdock na arte de Gene Colan.
Uma dessas ideias estranhas foi a criação do “irmão gêmeo” do Demolidor: Mike Murdock. Na trama exibida em Daredevil 25, de 1967, surgem evidências fortes de que Matt Murdock é o homem sem medo e, para impedir que Karen e Foggy descubram seu segredo, o herói cria a identidade de Mike Murdock, fingindo ser o irmão gêmeo dele mesmo. A intensão era fazê-los acreditar que Mike era o Demolidor, enquanto Matt não podia sê-lo, afinal, era cego!
Murdock ainda imprimiu uma personalidade própria para Mike, que era convencido, arrogante, expansivo, sempre de óculos escuros (afinal, não podia deixar que vissem seus olhos sem visão), numa postura bastante diferente do tímido e retraído Matt. O truque deu certo e Mike virou um personagem constante por algum tempo. Inclusive, logo, Lee e Colan começaram a explorar um problema de dupla (ou tripla?) identidade no homem sem medo, com Matt se questionando quem ele era de verdade: Matt ou Mike?, como ocorre em Daredevil 29.
O Demolidor na arte de Gene Colan.
O Demolidor na arte de Gene Colan.
Contra o Capitão América, numa capa de Jack Kirby.
Contra o Capitão América, numa capa de Jack Kirby.
De qualquer modo, o embuste se mostrou muito confuso para os leitores, por isso, no arco mostrado em Daredevil 40 e 41, de 1968, Matt finge a morte de Mike Murdock e dá a entender que ele havia treinado um outro Demolidor para substituí-lo. O arranjo “Matt-Mike”, contudo, não seria esquecido pelos leitores, nem pelos escritores, voltando à tona diversas vezes para explorar a complicada personalidade do herói.
Embora o Demolidor não fosse uma das principais ocupações de Stan Lee, isso não o impedia de se orgulhar ou divertir fazendo a revista. Em mais de uma entrevista, o escritor já afirmou que a história da qual mais sente orgulho de ter escrito foi aquela publicada em Daredevil 47, de 1969, na qual Matt Murdock defende um cego veterano de guerra que é falsamente acusado de um crime.
A Saída de Stan Lee
Capa de Barry Windsor-Smith.
Capa de Barry Windsor-Smith.
O criador Stan Lee se despede da revista Daredevil na edição 50, de 1969, abrindo espaço para Roy Thomas o substituí-lo. Na época, a Marvel Comics crescia a passos largos e começava a disputar em igualdade o mercado de quadrinhos com a gigante DC Comics. Assim, as capacidades de Lee como Editor-Chefe (cargo que ocupava ininterruptamente desde 1946) eram cada vez mais exigidas. Além disso, com as altas vendas, as antigas revistas bimestrais se tornaram mensais a partir de 1965 e, com o dinheiro entrando, a Marvel comprou sua própria distribuidora e ampliou seu leque de revistas em 1968, dando mais trabalho ao The Man para coordenar tudo. Assim, Lee abandonou a escrita de várias revistas, como Daredevil, Hulk, Iron-Man, Avengers etc. e permanecendo apenas com seus títulos preferidos: Fantastic Four, Amazing Spider-Man, The Mighty Thor e Captain America.
O seu principal substituto foi Roy Thomas, um jovem de 29 anos, em 1969, que ele vinha treinando há quatro anos sob sua batuta. Thomas assumiu primeiro títulos secundários da Marvel, como os X-Men, em 1965, mas logo pôs as mãos nos Vingadores, em 1967, e não parou mais, tornando-se o escritor principal da Marvel no fim dos anos 1960.
Curiosamente, a chegada de Thomas à revista coincidiu com um breve período de três edições nas quais Gene Colan foi substituído pelo artista britânico Barry Windsor-Smith, um grande artista advindo da “escola” de Jack Kirby. Isso porque, na época, Colan estava ocupado fazendo outros trabalhos para a Marvel, como algumas aventuras dos Vingadores e do Capitão Marvel. Mas logo o artista conseguiu endireitar a agenda e retornou a Daredevil, sua casa principal.
Roy Thomas e Gerry Conway
Karen Page descobre a identidade secreta do Demolidor.
Karen Page descobre a identidade secreta do Demolidor.
Roy Thomas ficou por pouco tempo na revista, afinal, tinha várias outras para escrever. Assim, só manteve o ritmo das tramas já criadas por Lee. A maior contribuição de Thomas para o personagem foi encerrar o irritante “triângulo” entre Matt Murdock, Karen Page e Foggy Nelson. Definitivamente, Thomas aproxima Matt e Karen, o que leva o herói a revelar sua identidade secreta para ela na bombástica Daredevil 57, de 1969. Porém, a revelação é demais para a cabeça da moça e Karen decide ir embora e deixar aquela vida para trás.
Este elemento cronológico terá muita importância no futuro do personagem.
Karen vai para a Califórnia e inicia uma carreira como atriz, mas logo, termina voltando à vida do Demolidor, embora nas edições seguintes, ela fica bastante hesitante em relação a Matt e começa, lentamente, a ser afastada da revista. Outro ponto de Thomas foi deixar mais clara a posição de Murdock como advogado: já que Foggy Nelson era o Promotor Público de Nova York, Murdock assume o cargo de Assessor Especial da Promotoria Pública.
O crossover com o Homem de Ferro.
O crossover com o Homem de Ferro.
No mais, Thomas passou a revista para as mãos do jovem Gerry Conway, de apenas 19 anos, a partir de Daredevil  72, de 1971. Conway era um garoto genial na qual Stan Lee e Thomas viram tanto potencial que decidiram investir pesado nele para assumir a principal revista da Marvel: o Homem-Aranha. Mas antes disso, o jovem foi posto na condição de “teste” em outras revistas, como Captain America e Daredevil.
Karen Page e o Demolidor: mudança na dinâmica. Arte de Gene Colan.
Karen Page e o Demolidor: mudança na dinâmica. Arte de Gene Colan.
A entrada de  Conway no título já coincidiu com um crossover entre o Demolidor e o Homem de Ferro, numa trama de espionagem envolvendo Nick Fury, a SHIELD, o Zodíaco e a Madame Máscara, que transcorreu em Daredevil 72 a 74 e em The Invencible Iron-Man 34 a 36. Esse período também coincidiu com um momento em que Gene Colan deixou de fazer as capas da revista, por causa de seus outros afazeres na editora, e a artista Marie Severin assume a função. Mas Colan permanecia fazendo a arte das histórias normalmente.
Como o plano era projetar Conway para assumir Amazing Spider-Man, nada mais justo do que repetir a estratégia que Stan Lee usou com John Romita: fazendo o Homem-Aranha fazer uma participação especial em Daredevil 77, que contou também com a participação especial do Namor. Foi uma oportunidade para Conway “brincar” um pouco com o universo de Peter Parker, envolvendo até Mary Jane Watson e Gwen Stacy.
A sequência de histórias de Conway mostra Foggy Nelson despontando como um natural candidato ao Governo do Estado de Nova York ao mesmo tempo em que passa a ser chantageado pelo vilanesco Sr. Klein.
A Viúva Negra chega à revista. Note o novo layout.
A Viúva Negra chega à revista. Note o novo layout. Arte de Gil Kane.
Outro ponto importante é em Daredevil 81, quando a Viúva Negra é introduzida à revista. Hoje mundialmente famosa pela interpretação de Scarlett Johansson nos filmes dos Vingadores, a personagem havia sido criada por Stan Lee, Don Rico e Don Heck em Tales of Suspense 52, de 1964, numa aventura do Homem de Ferro. Inicialmente, uma vilã à serviço da União Sovética, ela termina se arrependendo de seus crimes e deserdando, tornando-se namorada do vingador Gavião Arqueiro e virando membro não-oficial dos Vingadores por um tempo.
Em 1970, a Viúva Negra ganhou um visual totalmente repaginado criado por John Romita e estreando na revista Amazing Spider-Man 86. Era uma maneira de reintroduzi-la ao grande público para que ela tivesse suas aventuras próprias publicadas na revista Amazing Adventures durante um tempo. Esta aparição em Daredevil se daria logo após o fim de suas aventuras solo.
A Viúva Negra dos cinemas por Scarlett Johansson.
A Viúva Negra dos cinemas por Scarlett Johansson.
O motivo da inclusão da Viúva Negra era dar uma renovada no título. Desde a saída de Stan Lee da revista, Daredevilvendia cada vez menos. Por um tempo, Stan Lee cogitou voltar à velha tática de unir heróis que vendiam pouco em uma mesma revista e foi por isso que ocorreu aquele crossover entre o Homem de Ferro e o Demolidor. Era um teste para ver como os dois heróis funcionavam na mesma revista, já que se planejava uni-los no mesmo título (com histórias separadas). A mudança chegou mesmo a ser anunciada nas revistas, mas nunca ocorreu. A introdução da Viúva Negra aumentou mesmo o interesse do público e Daredevil voltou a crescer nas vendas.
Na trama de Conway e Colan, enquanto luta contra o Coruja, o Demolidor despenca de um helicóptero nos céus de Nova York e cai no rio Hudson. Desacordado pelo impacto, ele é salvo pela Viúva Negra, que presenciou sua queda e se une a ele na luta contra o vilão. Um detalhe para aqueles que gostam: nesta ocasião, o homem sem medo perde seus bastões originais, que usava desde o começo de sua carreira como combatente ao crime. A arma termina perdida no fundo da baía de Hudson e, na edição 82, o herói constrói um novo dispositivo para ele.
A primeira aparição do novo visual criado por John Romita, em 1970.
A primeira aparição do novo visual criado por John Romita, em 1970.
Além disso, Daredevil 81marca o momento em que o artista Gil Kane assume as capas do Demolidor, função que exercerá na maior parte dos anos 1970. Como já escrito, naquele tempo, na Marvel, apenas um pequeno punhado de ilustradores faziam as capas das revistas, como Kane, John Romita, John Bsucema e alguns outros.
Com a introdução da Viúva Negra no título, cada vez mais há uma aproximação entre ela e o Demolidor, de modo que Karen Page é deixada cada vez mais de lado. Daredevil 85 marca um ponto de virada, quando a Viúva Negra é acusada de assassinato e Matt Murdock parte para defendê-la. Isso cria uma grande tensão entre ele e Foggy Nelson – o encarregado de acusá-la, como Promotor Público – de modo que Murdock abdica de seu cargo de Assessor Especial da PP para defendê-la.
Um pequeno desentendimento da dupla, na arte de Gene Colan.
Um pequeno desentendimento da dupla, na arte de Gene Colan.
No número seguinte, Natasha Romanov é inocentada, mas o estrago está feito. Foggy Nelson pede demissão do cargo de PP por causa da chantagem que recebeu. Matt e Karen anunciam o seu noivado (para tristeza de Natasha), mas antes do fim da edição eles já rompem. Assim, enquanto Karen se muda definitivamente para a Califórnia, Matt decide ir embora de Nova York e se instalar em San Francisco (também na Califórnia), levando a Viúva Negra com ele.
A Fase em San Francisco
Fase de San Francisco (veja a Goldengate ao fundo) na arte de Gil Kane.
Fase de San Francisco (veja a Goldengate ao fundo) na arte de Gil Kane.
Foi de Gerry Conway a ideia de mudar o Demolidor para San Francisco, depois de passar férias na cidade. A mudança tinha bons efeitos de vários tipos: aproximava (um pouquinho) os heróis da Marvel da Costa Oeste (já que todos eles estavam baseados em Nova York) e também servia para descentralizar o papel de NY nas revistas. Além disso, San Francico era o lar-maior do movimento hippie e da contracultura dos EUA (sexo, drogas e rock and roll) e jovens como Conway e Roy Thomas (que na prática servia como editor da revista) eram bastante afeitos à ideia.
A chegada de Matt Murdock e Natasha Romanov (juntamente a Ivan Petrovitch, o “guardião” dela) em San Francisco abriu o leque para uma série de situações inusitadas na vida do Demolidor e, também, à introdução de uma série de personagens coadjuvantes novos, como o Comissário de Polícia O’Harra e Danny French.
No campo das ameaças, contudo, a mudança de costa não resultou em novos vilões: nos primeiros números pós-Daredevil 87, Conway e Colan fazem o homem sem medo enfrentar os mesmos inimigos de sempre: Electro, Killgrave, o Homem-Púrpura e o Sr. Medo.
A revista muda o nome para Daredevil & Black Widow.
A revista muda o nome para Daredevil & Black Widow. Arte de John Romita.
Uma mudança que realmente ocorreu foi no título da revista, que se tornou oficialmente Daredevil & Black Widow a partir do número 92, de 1972.
Nesta altura, Gerry Conway já estava efetivamente escrevendo Amazing Spider-Man (com desenhos de John Romita) e, logo, também assumiria o Quarteto Fantástico, se tornando um dos principais escritores da Marvel. Assim, seu tempo numa revista secundária como Daredevil estava acabando. Não custa lembrar, foi Conway quem criou a clássica história A Noite em Que Gwen Stacy Morreu, a melhor de todas do Homem-Aranha, que cumpre a promessa de eliminar a namorada do herói.
A Viúva Negra na bela arte de Gene Colan.
A Viúva Negra na bela arte de Gene Colan.
Além disso, o editor de DaredevilRoy Thomas assumiu o cargo de Editor-Chefe no mesmo período, enquanto Stan Lee era promovido a Publisher da Marvel. John Romita foi oficializado como Diretor de Arte. A partir daqui, a Marvel teria uma vida editorial mais organizada e definida. No caso de Daredevil, Thomas continuou sendo o editor responsável e Gil Kane passou a fazer quase todas as capas dali para frente, independente de quem fosse o artista da história em seu interior.
Capa de Daredevil 100, por Marie Severin.
Capa de Daredevil 100, por Marie Severin.
Conway começou a passar o bastão para Steve Gerber em Daredevil 97,de 1973, quando o primeiro passa a escrever apenas a premissa da história e o segundo assume a finalização e os diálogos. Gerber se tornaria o escritor oficial da revista a partir do número 100.
Antes disso, Daredevil 99 faz uma importante conexão com Avengers 111 (escrita por Steve Englehart e desenhada por Don Heck) na qual o Demolidor e a Viúva Negra se aliam aos Vingadores. No fim da trama desta última, a Viúva Negra decide se tornar membro fixo da equipe, para mostrar que tem uma vida independente do Demolidor. O estopim é porque, em Daredevil 99, o Gavião Arqueiro (ex-namorado da moça) vai a San Francisco tirar satisfações e termina se envolvendo numa briga com o homem sem medo.
Daredevil 100 termina sendo um fechamento de ciclo já que, com Steve Gerber assumindo os roteiros, o desenhista Gene Colan decide sair da revista. Até ali, Colan tinha vivenciado uma temrporada praticamente ininterrupta no Demolidor por sete anos! O artista estava cansado do personagem e queria novos desafios. Além disso, ele já tinha começado a trabalhar em The Tomb of Dracula, uma revista de terror da Marvel protagonizada pelo príncipe dos vampiros. Este trabalho seria outro dos mais importantes da década e outra “assinatura” de Colan.
Ainda assim, Colan desenharia outras 10 edições de Daredevil até 1979, mas sempre de modo apenas casual, substituindo outros artistas.
Quase na TV
Black Widow and Daredevil TV Angela Bowie
Viúva Negra e Demolidor: Quase na TV em 1975.
Em meio aos anos 1970, Stan Lee era o Publisher da Marvel e uma de suas funções eram conseguir o licenciamento dos personagens para outras mídias. O criador do Universo Marvel inclusive montou um escritório em Los Angeles para ficar mais próximo de Hollywood e de onde as coisas aconteciam. A iniciativa gerou frutos: seriam produzidas séries de TV do Homem-Aranha e do Hulk em 1977, e enquanto a primeira não conseguiu emplacar mais do que duas temporadas recebidas de modo frio; o segundo fez um grande sucesso de público e crítica e teria quatro temporadas produzidas até 1983.
Nesse meio do caminho, várias outras personagens da Marvel foram cogitadas a ganhar vida na telinha e o Demolidor foi uma delas. Aliás, a ideia dos produtores de Hollywood era fazer uma série chamada Daredevil & Black Widow, ou seja, Demolidor e Viúva Negra, tal e qual a revista da época.
Black Widow and Daredevil TV Angela Bowie 03
Angela Bowie e Benny Carruthers teriam sido a primeira encarnação live action do casal. Que tal?
Não seria o último projeto do homem sem medo em live action, mas isso é assunto para o futuro.
Troca de cadeiras
A edição 124 traz a chegada de Marv Wolfman e o fim da parceria com a Viúva Negra.
A edição 124 traz a chegada de Marv Wolfman e o fim da parceria com a Viúva Negra. Arte de Gil Kane.
O restante dos anos 1970 não foram muito promissores para o Demolidor na maior parte do tempo. A ligeira subida nas vendas da fase Conway não se manteve e começou a decair de modo ininterrupto ao longo dos anos. Para piorar, os artistas e escritores seguintes não conseguiram imprimir muita vontade no Demolidor.
A fase de Steve Gerber iniciada na edição 100, em 1973, demorou sete edições para encontrar um desenhista fixo, na figura de Bob Brown (que já tinha cuidado da revista dos Defensores). Brown seria o artista da revista por quase 40 edições, uma temporada só mais curta do que a de Colan. Gerber por sua vez ficaria por 19 edições, dando lugar a Tony Isabella em Daredevil 119. Este escritor, contudo, sequer esquentou a cadeira, o editor Roy Thomas não aprovou a abordagem de Isabella ao personagem e o substituiu por Marv Wolfman a partir de Daredevil 124, de 1975.
Marv Wolfman era um dos editores da Marvel e, no futuro, seria um dos mais importantes escritores dos quadrinhos (principalmente na DC Comics). Mas naquele momento, ainda estava desenvolvendo suas habilidades. Ao mesmo tempo, não conseguia imprimir um ritmo próprio ao Demolidor, coisa que nenhum escritor conseguira desde Lee. Ainda assim, sua fase foi mais importante do que as imediatamente anteriores. Também é importante frisar que Roy Thomas deixou de ser o Editor-Chefe da Marvel nessa mesma época, deixando também a editoria da revista Daredevil que tinha desde por volta do número 90. Marv Wolfman seria não somente o escritor da revista, mas também seu editor.
O Mercenário faz sua estreia. Principal vilão.
O Mercenário faz sua estreia. Principal vilão. Arte de Rick Buckler e John Romita.
Em primeiro lugar, logo na primeira edição, Wolfman encerra de vez a parceria do Demolidor com a Viúva Negra. Desde a edição 108 a revista não tinha mais o subtítulo …& Black Widow, mas a personagem continuava como recorrente nas histórias (mesmo também fazendo parte dos Vingadores). Contudo, Wolfman tratou de afastá-la imediatamente e, não somente isso, trouxe Matt Murdock de volta para Nova York e a Cozinha do Inferno. Daredevil 124 foi, assim, a última edição a ter a figura da Viúva Negra no lado direito do logo. E por fim, mais uma curiosidade: o editor Len Wein, então Editor-Chefe da Marvel, coescreveu esta edição em parceira com Wolfman.
Outro importante movimento de Wolfman no título foi criar uma nova namorada para Matt Murdock: Heather Glenn, que estreou em Daredevil 126. Boa parte da temporada de 20 edições do escritor na revista girou em torno da dramática trama entre Matt e Heather: ela era uma socialite de NY e pôs Murdock em contato com um mundo com o qual só tinha flertado até então. O escritor dotou a personagem de uma personalidade cativante, embora fosse emocionalmente frágil. Heather financiaria, por um tempo, as atividades de Nelson e Murdock, ao mesmo tempo em que o pai dela, Maxwell Glenn, estava envolvido em um grande esquema de crimes.
A estreia de Heather Glenn, por Wolfman e Colan.
A estreia de Heather Glenn, por Wolfman e Brown.
Naquela mesma edição em que criou Heather, Wolfman também introduziu o Promotor Blake Tower, o sucessor de Foggy Nelson na PP. Tower seria um personagem coadjuvante de certo destaque na Marvel, aparecendo na revista de vários heróis, como Capitão América, Homem-Aranha e Mulher-Hulk.
Por fim, Wolfman também criou o vilão Mercenário (Bullseye, no original), que apareceu em Daredevil 131, de 1976, e no futuro breve se tornaria o principal inimigo físico do Demolidor, substituindo velhas figuras como Coruja, Sr. Medo e Gladiador. O visual do Mercenário foi criado por John Romita, embora as revistas continuassem a ser desenhadas por Bob Brown. O Mercenário teria constantes aparições na revista dali em diante.
O Demolidor na arte de Bob Brown.
O Demolidor na arte de Bob Brown.
A temporada de Wolfman e Brown se encerra na edição 143, de 1977. Os dois saíram juntos, mas por motivos diferentes. Wolfman estava insatisfeito com seu próprio trabalho, ao mesmo tempo em que se tornara o Editor-Chefe da Marvel no ano anterior, ficando sobrecarregado de trabalho. Por fim, Wolfman assumiu a revista Amazing Spider-Man do Homem-Aranha e decidiu abdicar do Demolidor. Já Bob Brown estava gravemente doente com leucemia e morreria naquele mesmo ano.
Quem assumiu Daredevil na edição 144 foi o escritor Jim Shooter, ao lado do desenhista Gil Kane. Shooter tinha apenas 25 anos, mas era um experiente escritor de quadrinhos: ele começou fazendo roteiros para a revista da Legião dos Super-Heróis, da DC Comics, aos 13 anos de idade! O menino enviava os roteiros pelos correios e demorou meses para a DC perceber a idade dele! Mesmo assim, a revista fez um sucesso enorme nas mãos dele no fim dos anos 1960. Depois, de formar no Ensino Médio, Shooter se afastou um pouco das revistas, mas retornou em meados dos anos 1970. Ele teria um grande futuro na Marvel, como veremos a seguir.
Capa com arte de Gil Kane: agora nas histórias também.
Capa com arte de Gil Kane: agora nas histórias também.
Já Gil Kane era um veterano artista da Era de Prata, cocriador do Lanterna Verde Hal Jordan na DC Comics. Depois de anos fazendo as revistas daquele herói, do Batman e do Superman, Kane migrou para a Marvel no fim dos anos 1960, trabalhando no Hulk e no Homem-Aranha. Na década de 1970, se tornou um dos célebre artistas que faziam as capas das revistas da Marvel. Curiosamente, Kane tinha desenhado a maioria das capas da revista Daredevil desde o número 80, mas nunca tinha desenhado uma história do personagem (!) até aquela edição 144.
Shooter era um escritor habilidoso e a fase dele com Kane se inicia dando sequência ao arco de histórias envolvendo os crimes de Maxwell Glenn, o pai de Heather. Em Daredevil 147,o empresário é preso, mas o Demolidor termina descobrindo que cometeu todos os seus crimes porque estava sob o controle mental de Killgrave, o Homem-Púrpura.
Heather Glenn culpa o Demolidor pela morte do pai.
Heather Glenn culpa o Demolidor pela morte do pai.
Na comemorativa Daredevil 150, de 1977, enquanto Shooter e o desenhista especialmente convidado Carmine Infantino introduzem o mercenário de aluguel Paladino, Maxwell Glenn não consegue lidar com a culpa pelos crimes que cometeu e termina por cometer suicídio. Antes de saber disso, Matt Murdock decide contar a Hearther que ele é o Demolidor e, por causa de seus poderes, sabe que o pai dela é inocente. Porém, na edição 151, (novamente com Kane na arte) ao saber de tudo, ela termina culpando o herói pelo destino do pai e desaparece.
Esses trágicos eventos encerram a curta temporada de Shooter na revista. O escritor também escrevia a revista dos Vingadores e, naquele ano, assumiu o cargo de Editor-Chefe da Marvel, ficando sem tempo para se dedicar ao Demolidor. Seu lugar na revista foi ocupado por Roger McKensie, a partir da edição 152.
Ao mesmo tempo, as vendas da revista Daredevil caíam vertiginosamente, mesmo que vivesse uma boa fase. Mas como é o mercado quem manda, Darevevil se tornou um título bimestral a partir da edição 147.
O Início de uma Era Sombria
Demolidor e Viúva Negra versus o Capitão América na arte de Gene Colan.
Demolidor versus Viúva Negra na arte de Gene Colan. Despedida.
Aproveitando a pegada de Jim Shooter, Roger McKensie – que também escrevia a revista do Capitão América – decidiu dar uma ambientação mais sombria à série do Demolidor. Embora tenha envolvido o personagem num arco com os Vingadores – ao longo das edições 153 e 156 (o que serviu para trazer a Viúva Negra de volta à revista por um breve momento) – a maior parte das tramas envolvia uma ambientação mais mundana, com o homem sem medo usando os criminosos comuns como informantes e combatendo um vilão assustador chamado Death-Stalker (que tinha sido criado lá atrás por Stan Lee e Gene Colan em Daredevil 39, mas nunca tinha sido tão bem usado).
O que prejudicou parte da temporada de McKensie foi a ausência de um artista fixo. Vários desenhistas passaram na revista, inclusive o clássico Gene Colan, que fez algumas edições.
Foi McKensie e Colan quem criaram o repórter do Clarim Diário Ben Urich, em Daredevil 153,que se tornaria rapidamente um dos personagens coadjuvantes mais importantes do universo do Demolidor e que, como grande investigador, logo, deduziria a identidade secreta do herói, passando a agir como um forte aliado.
A chegada de Frank Miller
A estreia de Frank Miller, inclusive na capa!
A estreia de Frank Miller, inclusive na capa!
grande virada na vida do Demolidor veio com a chegada de Frank Miller no título. Inicialmente apenas como desenhista, logo, assumiria os roteiros também e transformaria Daredevil não apenas em um fenômeno de vendas, mas numa revista cult, sombria, violenta e fascinante. Seria Miller quem definiria a personalidade conturbada e complexa de Matt Murdock e daria uma “cara” própria a todo o universo ao seu redor. Um verdadeira revolução nos quadrinhos.
Miller estreou na Marvel em pequenas participações e tirou a sorte grande ao desenhar uma edição de Spectacular Spider-Man 27, de 1979, apenas para cobrir as férias do artista regular. Aquele número trazia um encontro do Homem-Aranha com o Demolidor e o editor Dennis O’Neil, responsável pelo Demolidor, achou que ele faria um bom trabalho no homem sem medo. Ao mesmo tempo, apesar da pouca inexperiência, Miller sequer era uma aposta arriscada, já que a revista Daredevil tinha vendas cada vez mais baixas e a Marvel começava a considerar simplesmente cancelá-la.
A dinâmica arte de Miller na capa da edição 161.
A dinâmica arte de Miller na capa da edição 161.
Frank Miller estreou como desenhista em Daredevil 158, de 1979, com textos de Roger McKensie, e encerrando o arco do Death-Stalker, que morre nessa edição. Curiosamente, diferente das épocas passadas, o artista estreante também passa a fazer as capas da revista.
Em seguida, a dupla embarca em um longo arco no qual há mais uma batalha entre o Demolidor e o Mercenário, com a participação da Viúva Negra, passando entre as edições 159 e 162. Em Daredevil 164, de 1980, McKensie e Miller mostram o repórter Ben Urich descobrindo a identidade secreta do homem sem medo e, ao confrontá-lo, Murdock simplesmente lhe conta tudo, sendo uma oportunidade para revisitar a origem e a carreira do herói.
A despeito das vendas ainda baixas, a Marvel parecia querer investir em Daredevil, que ganhou um novo logotipo criado por Miller na edição 166. Nesta edição também ocorre o casamento de Foggy Nelson e Deborah Harris, sua namorada quase desde sempre. Esta também foi a última edição assinada por Roger McKensie. O número 167 trouxe David Michellinie (que vinha do Homem de Ferro e dos Vingadores), mas já na edição seguinte Frank Miller assume os roteiros e os desenhos e iniciaria uma das mais importantes temporadas da história dos quadrinhos e uma verdadeira revolução na nona arte.
Revolução nos Quadrinhos
Frank MIller assume os roteiros e revoluciona os quadrinhos.
Frank MIller assume os roteiros e revoluciona os quadrinhos.
Até então, apesar de algumas histórias muito legais, bons conceitos e incontáveis grandes artistas, o Demolidor e sua revista eram unidades secundárias da Marvel. Jamais conhecido ou querido como o Homem-Aranha, Hulk ou os Vingadores. Bom, talvez ainda hoje ele não seja tão mundialmente conhecido quanto estes, porém, a partir do momento em que Frank Miller assumiu a escrita e a arte da revista, sem dúvidas o homem sem medo se tornou tão importante quanto esses outros e liderou uma revolução nos quadrinhos, na medida em que suas histórias se tornaram sombrias, violentas, inteligentes, ousadas, radicais e incrivelmente boas. Seu trabalho pioneiro é a pedra fundamental sobre a qual se construiria a Era Sombria dos Quadrinhos, uma fase em que as HQ se tornaram mais adultas e que foram a tônica dos anos 1980 e 1990, principalmente.
Assumindo a partir de Daredevil 168, de 1981, Frank Miller provocou grandes mudanças na vida de Matt Murdock, de sua revista e da indústria de quadrinhos. Para começar, impôs um regime diferente a Daredevil e seu universo: afastou o personagem do fantasioso universo Marvel e criou uma abordagem mais realista. Assim, os velhos vilões (Sr. Medo, Homem-Púrpura, Coruja) desapareceram por completo (à exceção do Mercenário), assim como os refugos de vilões do Homem-Aranha (Elektro, Kraven, Dr. Octopus…). Até os personagem coadjuvantes da revista desapareceram, permanecendo praticamente apenas o repórter Ben Urich, com Foggy Nelson aparecendo apenas ocasionalmente.
A arte de Miller: cinematográfica.
A arte de Miller: cinematográfica.
Agora, o Demolidor combatia a escoria das ruas: pequenos bandidos, gangues, o crime organizado… E para dar um ar de HQ um novo grupo de ninjas chamado Tentáculo. Matt Murdock se tornou mais conturbado e o mundo ao seu redor fico mais sombrio e assustador. Também é preciso elogiar a arte de Miller. Embora não fosse um grande artista de fisionomias ou muito preciso quanto a anatomia, compensava isso com uma grande dinâmica, senso de movimento e uma abordagem cinematográfica, abusando de ângulos sensacionais, dividindo os quadros das páginas de maneira criativa e abolindo os balões de pensamento e utilizando os recordatórios como um modo do próprio personagem narrar a história.
Demolidor versus Justiceiro em Daredevil 183: coreografias de Miller.
Demolidor versus Justiceiro em Daredevil 183: coreografias de Miller.
Outro ponto a destacar são as incríveis cenas de luta que Miller criava na revista. Poucos desenhistas foram tão habilidosos neste quesito como ele. Toda a sua temporada como escritor/desenhista é recheada de batalhas coreografadas sensacionais.
resposta do público foi exemplar: bastaram apenas três edições para que Daredevil voltasse a ser uma revista mensal e, em pouco tempo, já era uma das mais vendidas da Marvel, batendo frente à frente com Homem-Aranha e X-Men.
Elektra e o Demolidor: arte de Frank Miller.
Elektra e o Demolidor: arte de Frank Miller.
Já em Daredevil 168 Miller introduz uma personagem que abalaria as estruturas da revista: a mercenária assassina Elektra Natchios. Por meio de um longo flashback descobrimos que a moça grega, filha do Embaixador de seu país, foi um grande amor do passado de Matt Murdock, com os dois namorando na época da faculdade de Direito. Mas após o pai dela ser assassinado por bandidos, ela vai embora e desaparece. Agora, o Demolidor a encontra como a principal agente do submundo.
Mexer no passado do Demolidor virou uma regra para Miller: não apenas Elektra foi incluída retroativamente à sua vida, mas também inúmeros elementos novos de sua origem. Aproveitando que Stan Lee tinha contato que Murdock ganhou suas habilidades ainda adolescente e que só adulto – já como advogado atuante – é que se tornou o Demolidor, o escritor/artista tratou de preencher esse espaço com o seu treinamento. Assim, criou a figura de Stick, um misterioso cego que também tinha habilidades incríveis e treinou o herói nas artes marciais e no uso de seus poderes.
Nem tudo são flores entre amantes...
Nem tudo são flores entre amantes…
E Miller quebrou a regra de não usar mais vilões do Homem-Aranha uma vez, mas de modo genial, transformando Wilson Fisk, o Rei do Crime, no maior de todos os oponentes do Demolidor. Ora, se agora o homem sem medo se volta contra o crime organizado, que melhor oponente do que aquele cara que comanda o submundo da Costa Leste?
O Rei do Crime tinha sido criado por Stan Lee e John Romita em Amazing Spider-Man 50, de 1967. Embora tenha sido um importante inimigo do Homem-Aranha no fim dos anos 1960, os roteiristas posteriores não souberam fazer uso do personagem e Wilson Fisk praticamente caiu no esquecimento. Apenas fez algumas aparições como oponente do Capitão América num arco de histórias de 1972. Ele chegou a aparecer algumas vezes na revista do teioso, mas nunca com o mesmo brilho de antes.
A clássica e chocante cena da morte de Elektra.
A clássica e chocante cena da morte de Elektra.
Frank Miller transformou Wilson Fisk no mais “fodão” dos chefes criminosos. Um sujeito frio e genial, que comandava o crime – e a cidade! – com mão de ferro. E quem melhor do que um advogado que combate o crime com as próprias mãos para ser seu oponente mais ferrenho?
Miller exigiu de todos os personagens: o Demolidor precisava lidar com seus demônios internos (seu pai é mostrado como alguém violento, que batia nele!) e tentar “salvar” Elektra, apresentada agora como seu grande amor. Elektra, por sua vez, ficou “tocada” ao descobrir que Matt agora era um combatente do crime e fica dividida entre ser uma má ou uma boa pessoa. E o Rei do Crime pensa seriamente em se aposentar de suas atividades criminosas e seus próprios comandados armam um plano para sequestrar a esposa dele, Vanessa, para forçá-lo a se manter no comando, o que traz sérias consequências à saúde mental dela.
A vingança do Demolidor contra o Mercenário.
A vingança do Demolidor contra o Mercenário.
Claro que tudo tinha que terminar em tragédia: em Daredevil 181,de 1982, Elektra é morta pelo Mercenário. Na trama, após se desligar da organização de Wilson Fisk, este para lhe dar uma lição, contrata o Mercenário para eliminá-la, o que ele faz. Um Demolidor ensandecido de ódio e vingança vai atrás do vilão e – para surpresa dos leitores – simplesmente joga o Mercenário de cima de um prédio! Edições seguintes mostrarão que ele não morre, mas fica paraplégico.
Como se isso não fosse o suficiente, em Daredevil 191, de 1983, o Demolidor “visita” o Mercenário no hospital e, num conto assustador, “brinca” de roleta russa com ele. A arma está totalmente descarregada, mas o vilão não sabe disso!
A temporada de Frank Miller, claro, transformou o artista em uma estrela e ele produziu, portanto, várias outras edições especiais para a Marvel, como do Homem-Aranha e do Capitão América. Destaque para a minissérie Wolverine, escrita por Chris Claremont e desenhada por Miller, com a primeira aventura do membro dos X-Men que se tornava cada vez mais popular. A história é até hoje uma das melhores do personagem. Talvez por causa desses outros trabalhos, Miller gradativamente foi passando a arte de Daredevil para o arte-finalista Klaus Janson. AS últimas seis edições daquela fase tiveram apenas o layout de Miller, na qual Janson produziu ele mesmo os desenhos.
Como tudo o que é bom acaba, Miller encerrou sua passagem na edição 191, após dois anos maravilhosos em Daredevil. Esta última edição, mostra que Elektra foi ressuscitada pelo Tentáculo, mas a ideia era deixá-la “escondida”, já que a ex-assassina embarca em uma jornada de autoconhecimento isolada no Himalaia.
Miller produziria nos anos seguintes duas histórias focadas nela, por meio da sensacional série de graphics novels publicadas pela Marvel na segunda metade dos anos 1980: Elektra AssassinaElektra Vive.
***
Encerramos aqui a primeira parte de nosso especial sobre o Demolidor nos quadrinhos.
Em breve, o HQRock publicará a segunda parte, que trará a dark fase de Dennis O’Neil, o retorno de Frank Miller para a sua melhor história, a colaboração de Ann Nocenti e John Romita Jr., os anos 1990, Kevin Smith, Brian Michael Bendis, Ed Brubaker e a atual fase de Mark Waid, além das adaptações do personagem ao cinema à TV.
Não perca!
O Demolidor em seu uniforme vermelho.
O Demolidor em seu uniforme vermelho.
Chega à internet amanhã Demolidor, a série de TV que será exibida pelo canal de internet Netflix, em parceria com a Marvel Television e o ABC Studios, adaptando o homem sem medo das revistas da Marvel Comics. Assim, a Marvel aproveitou hoje para publicar oficialmente a primeira imagem do homem sem medo em seu uniforme vermelho, algo já ansiado pelos fãs desde que a série foi anunciada. Veja ao lado.
No programa de 13 episódios, Matt Murdock começará usando um uniforme preto e somente em seguida passa a usar a roupa escarlate, o que está de acordo com a cronologia moderna do personagem.
O Netflix também liberou um poster animado que mostra Matt Murdock e os uniformes pretos e vermelho. Veja abaixo:
O Demolidor em seu uniforme preto..
O Demolidor em seu uniforme preto..
Demolidor é a primeira série de TV de um pacote da Marvel com o Netflix, que envolverá outras três séries (Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro) e uma minissérie que reunirá todas: Os Defensores. As séries serão exibidas com exclusividade pela internet, tal qual outros produtos do Netflix.  O elenco traz: Charlie Cox (Matt Murdock/ Demolidor), Vincent D’Onofrio (Wilson Fisk/ Rei do Crime), Rosario Dawson (Claire Temple), Deborah Ann Wolf (Karen Page), Elden Henson (Foggy Nelson), Aylet Zurer (Vanessa Marianna), Bob Gunton (Leland Owlsley/ Coruja), Toby Leonard Moore (Wesley), Vondie Curtis-Hall (Ben Urich), Scott Glenn (Stick) e Peter Shinkoda (Nobu). A série é produzida por Jeph Loeb (Smallville, Lost), Steven DeKnight (de Buffy, Smallville e Spartacus) e Drew Goddard (de Lost e Cabin in the Woods), este último também tendo escrito os dois primeiros episódios. A série tem13 episódios e a estreia será em 10 de abril de 2015.
Nos quadrinhos, o Demolidor é o advogado Matt Murdock, que ficou cego em um acidente radioativo quando criança. Em compensação, a radioatividade ampliou seus outros sentidos (audição, tato, paladar e olfato) a níveis sobrehumanos, além de dotá-lo de um tipo de sonar que permite localizar objetos, calcular distâncias etc. Em consequência, apesar de não enxergar, Murdock pode se movimentar e andar com muito mais agilidade que um homem comum. Ele atua numa região barra-pesada de Nova York conhecida como Cozinha do Inferno.
O Demolidor foi criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett e surgiu em sua própria revista, Daredevil 01. Desde então, é publicado pela Marvel Comics.

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