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A Rainha de Gelo – Joan D. Vinge

 A Rainha de Gelo – Joan D. Vinge

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Ficha Técnica do Livro:

  1. Título: The Snow Queen (A Rainha de Gelo)
  2. Nome do autor: Joan D. Vinge
  3. Tradutor: Maria Luísa Ferreira da Costa
  4. Nome da editora: Editora Europa-América, coleção Livros de Bolso FC ns° 51 e 52;
  5. Lugar e data da publicação: Portugal, 1983
  6. Número de páginas: 448 páginas;
  7. ISBN: 978-972-1-01875-4
  8. Gênero: Ficção Fantástica / Fantasia Científica
  9. Nota: ★★

A Rainha de Gelo é um livro que foi publicado em português apenas em Portugal, talvez por isso seja um livro pouco conhecido do público brasileiro. Apesar de ser classificada como ficção científica ela está tão fortemente imersa no universo da fantasia que prefiro classificá-la como fantasia científica, uma categoria que fica meio abandonada entre a ficção científica e a fantasia.
O livro é inspirado no conto homônimo de Hans Christian Andersen,  de 1844, e assim como ele lida com polaridades e dualidades: claro e escuro, verão e inverno, avanço e atraso tecnológico.
A história acontece em Tiamat, um planeta com uma longa órbita em torno de um buraco negro que conecta Tiamat com o resto da galáxia civilizada, a Hegemonia.
A população de Tiamat divide-se em dois clãs regidos por uma monarquia matriarcal: Summers (Estivais) e Winters (Invernosos). Os Winters relacionam-se com os estrangeiros, e fazem uso da tecnologia deles. Os Summers no entanto desprezam toda tecnologia e vivem como os seres humanos viviam milhares de anos atrás, com tecnologias rudimentares de agricultura e pesca.
A cada 150 anos, a órbita do planeta em torno de um buraco negro produz uma drástica alteração climática, causando o início de uma mini era glacial, e Tiamat durante esse período é governado por uma Rainha de Gelo, escolhida dentre o clã dos Invernosos. Ao encerrar-se o ciclo de 150 anos o clima esquenta novamente, e a Rainha de Gelo é executada em uma cerimônia que coroa a nova Rainha, escolhida entre o clã Estivais, que será conhecida como Rainha do Verão.
Durante o reinado da Rainha do Gelo, viagens estelares são possíveis devido à uma antiga técnica que a Hegemonia herdou do Antigo Império, utilizando o próprio buraco negro como Porta para as viagens para lugares longínquos do universo. Durante esses 150 anos Tiamat é capaz de comunicar-se e negociar com os mundos da Hegemonia mas na fase de governo da Rainha do Verão, essa Porta não é mais acessível, e todo contato fica interrompido.
A história conta como a Rainha do Gelo atual, Arienrhod, pretende prolongar seu reinado para além dos 150 anos através de clones implantados secretamente nos corpos de mulheres do clã Summer.
As pessoas mais ricas do clã Winters conseguem prolongar artificialmente suas vidas através de uma substância extraída do sangue de uma espécie de animal marinho conhecido como mer, a “água da vida”. Essa substância anti-envelhecimento é vendida para os outros mundos da Hegemonia, e a caça ao mer é intensa durante o governo dos Winters, quando os outros mundos tem acesso à Tiamat.
Um desses clones de Arienrhod, uma garota chamada Moon e seu primo Sparks, que estão apaixonados, enveredam-se em uma trama que acaba por afastá-los. Moon tornar-se-á uma profetisa, enquanto Sparks irá assumir a posição de Starbuck, o amante da rainha.
Moon acaba saindo de Tiamat em uma viagem para um mundo da Hegemonia, e retornará para confrontar a Rainha de Gelo e salvar seu primo.

Existem referências mitológicas e folclóricas muito curiosas em A Rainha de Gelo que são dignas de menção:

  1. Tiamat: O nome do planeta representa o espírito primordial do oceano na mitologia mesopotâmica.
  2. Arienrhod (ou Arianrhod): É uma figura da mitologia celta que aparece no Quarto Ramo do Mabinogion, uma coletânea de textos galeses. É descrita como “A Senhora da Roda de Prata”, que vivia na longínqua terra encantada de Caer Sidi, e personificava uma antiga deusa celta, representada pela constelação Corona Borealis, cujo nome em galês era “Caer Arianrhod” , ou seja, “O castelo girante de Arianrhod”. A lenda de Arianrhod é muito complexa, cheia de elementos contraditórios e de difícil compreensão,  e de contradições decorrentes da interpretação de antigas lendas que foram registradas apenas na tradição oral através dos bardos, monges e historiadores cristãos. Essa história, através de metáforas e intrincados simbolismos celtas, expõe a relação dos celtas com as divindades e cultos lunares.
  3. Moon (Lua): No tarô, a carta da Lua (Moon), é uma carta que indica inteligência instintiva, além do retorno às origens.
  4. Paralelo entre viagens espaciais e místicas: Nos contos de fadas as viagens à outros mundos (ou submundos) normalmente é associada com dissociação da passagem do tempo, e com perdas, o que é representado nesse livro através das viagens através da Porta no buraco negro, que causam dilatação temporal com a perda de vários anos em relação à Tiamat.
  5. Bruxa Má: A Rainha de Gelo encontra referência com a tradicional bruxa má, figura comum em vários trabalhos como nos livros de Andersen, dos Irmãos Grimm, Shakespeare e no folclore celta.

Apesar de possuir algumas semelhanças com o Universo Duna os personagens e a narrativa de Joan D. Vinge não possuem a profundidade e qualidade de um Frank Herbert. Assim como nos contos de fadas clássicos os personagens apresentam-se mais como exigências de roteiro para provar uma moral da história, carecendo de exibir quaisquer nuances psicológicos.
Mas será que essa superficialidade dos personagens é uma falha no trabalho da autora? A resposta é: não! É importante levarmos em conta que o livro A Rainha de Gelo foi escrito como um conto de fadas futurista, como uma tentativa de introduzir uma estrutura folclórica nesse universo da ficção científica, o que foi feito de forma muito competente pela autora, transformando o livro num clássico merecedor não apenas do Prêmio Hugo de 1981 como também a atenção de qualquer um que se interesse por ficção fantástica ou científica.

 

O Feitiço de Áquila (Ladyhawk) – Joan D. Vinge

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O Feitiço de Áquila é uma novelização do clássico do cinema de 1985, escrito por Joan D. Vinge dois anos mais tarde.
Decidi ler esse livro antes de Snow Queen, o livro que garantiu um Prêmio Hugo à autora.
Normalmente filmes são adaptados a partir de livros, mas quando ocorre o contrário chamamos o livro de uma novelização do filme.
Eu nunca li uma novelização que fosse melhor que o filme que a originou, e para não fugir a regra O Feitiço de Áquila apresenta o mesmo problema.
Joan D. Vinge é uma excelente escritora, e suas novelizações estão entre as melhores adaptações já feitas a partir de filmes, mas vejo poucas vantagens nesse formato. Ela já adaptou Ladyhawk, alguns livros Star Trek e Cawboys & Aliens, sua última novelização em 2011, pouco antes de morrer.

Não vou escrever nada sobre o roteiro  pois a estória é bem conhecida por todos.
Apesar do livro ser bem escrito trata-se apenas de uma novelização fiel ao roteiro do filme, ou seja não acrescenta absolutamente nada à estória. Não recomendo a leitura, é muito mais interessante assistir o filme.

O Senhor da Luz – Roger Zelazny

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O Senhor da Luz (Lord of Light) é um romance de ficção científica/fantasia escrito por Roger Zelazny que recebeu Prêmio Hugo de Melhor Romance de 1968, e foi indicado ao Prêmio Nebula no mesmo ano.
Em This Immortal (veja minha resenha), o autor usa o panteão de divindades gregas como cenário e escreve uma grande estória. Dessa vez o foco é o hinduísmo, ou pelo menos uma versão do hinduísmo que agora opera em um planeta similar à Terra (ou à própria Terra, isso não vem ao caso), com o objetivo de manter a humanidade escravizada e na obscuridade.
Deuses como Yama, Khali, Brahma, Ganesha, Vishnu e outros chegaram ao planeta em uma espaçonave, vindos de uma origem desconhecida à milhares de anos atrás. Eles usaram sua tecnologia avançada para desenvolver armas que lhes conferem poderes de deuses, inspirados em Aspectos que identificam-se com esses deuses hindus.
A imortalidade é alcançada com um sistema de transferência da mente para novos corpos, assim que os corpos que ocupam começam a falhar. Eles mantém a humanidade (que é composta pelos descendentes de seus antigos corpos) em um estado de constante ignorância e na obscuridade, e utilizam a religião como controle, onde todos são julgados pelos seus atos em templos e ao fim da vida podem reencarnar em castas superiores ou até mesmo em animais caso tenham desagradado os deuses.
Mas não pense que conhecerá esses detalhes antes da metade do livro. No início os deuses parecem realmente com deuses – apesar de utilizarem algumas gírias e fumarem cigarros como se fossem pessoas comuns, em contraste com a prosa épica que Zelazny utiliza na maioria do livro. O autor revela a verdadeira natureza dos deuses lentamente, e de forma ainda mais lenta a natureza da luta contra eles.
O personagem principal é um grande mistério – um enigma que pode ser resumido, mesmo que não seja explicado completamente pelo primeiro escorregadio primeiro parágrafo do livro:

Os seus seguidores chamavam-lhe Mahasamatman e diziam que era um deus, ele, porém, preferia deixar de lado o Maha- e o atman e intitulava-se Sam. Nunca pretendeu ser um deus. Mas também nunca o negou. Sob as circunstâncias, nem a confirmação nem a negação poderiam trazer benefícios, mas o silêncio, sim.

As complicações não acabam por aí. Os vários personagens dessa estória tem o costume de mudar de nome e até de sexo entre as sucessivas trocas de corpos.
Muitos capítulos não seguem uma ordem cronológica normal, e só fazem sentido à luz dos acontecimentos de outros capítulos. Por exemplo, Tak, o arquivista, começa o livro encarnado como um macaco, mas em um capítulo futuro ele está em sua encarnação humana e só então entendemos o que aconteceu para que encarnasse como macaco. Mas isso não é um problema para o leitor, pois Zelazny escreve com maestria e os leitores dificilmente consideram isso um problema.
É praticamente impossível descobrir se Sam é um personagem sério ou se é uma brincadeira de Zelazny. O autor dedica um capítulo dramático inteiro a um desafortunado personagem chamado Shan, que recebeu o corpo de um epilético, aparentemente apenas para soltar o trocadilho (no original em inglês): “then the fit hit the Shan” (troque o f de fit pelo sh de shan, e você terá “then the shit hit the fan”, literalmente a merda bateu no ventilador!).
E o que Zelazny quis dizer com essa coisa estranha dos Zumbis Cristãos? Seria alguma crítica ao cristianismo, aos ritos cristãos que envolvem a morte e crucificação de seu Deus?
A obscuridade e ambiguidade do livro pode parecer estranha, mas na verdade é a grande sacada do autor. A leitura desse livro é uma experiência estranha e ao mesmo tempo emocionante. Mesmo que o leitor fique perdido na primeira metade do livro isso não importa realmente, pois os diálogos são inteligentes, as cenas de batalha são épicas e muito bem construídas (não deixam nada a desejar para os filmes modernos da Marvel), e daria um belo filme, pois o apelo visual é enorme.
George R. R. Martin, o autor de As Crônicas de Gelo e Fogo, é um grande admirador de Zelazny e especialmente desse livro, e muito do seu trabalho foi inspirado na obra de Zelazny. Veja um trecho de sua homenagem ao autor, que traduzi do que encontrei no seu site oficial:

O Senhor da luz

Ele era um poeta, primeiro, por último, sempre. Suas palavras cantavam.
Ele era um contador de estórias sem igual. Ele criou mundos coloridos, exóticos e memoráveis como nunca antes vistos no gênero.
Mas acima de tudo, eu lembrarei seus personagens. Corwin de Amber e seus irmãos problemáticos. Charles Render, o mestre dos sonhos. O dorminhoco Croyd Crenson, que nunca aprendeu matemática. Fred Cassidy escalando telhados. Conrad. Sagrado e Condenado. Francis Sandow. Billy Blackhorse Singer. Jarry Dark. O Coringa das Sombras. Hell Tanner. Snuff.
E Sam. Ele especialmente. “Os seus seguidores chamavam lhe Mahasamatman e diziam que era um deus, ele, porém, preferia deixar de lado o Maha- e o atman e intitulava-se Sam. Nunca pretendeu ser um deus. Mas também nunca o negou. Sob as circunstâncias, nem a confirmação nem a negação poderiam trazer benefícios, mas o silêncio, sim.”
O Senhor da Luz foi o primeiro livro de Zelazny que eu li. Eu estava no colégio na época, um leitor de longa data que sonhava escrever um dia. Eu tinha acabado de ser desmamado de Andre Norton, perdido meus dentes de leite nos juvenis de Heinlein, sobrevivido ao ginásio com a ajuda de H.P. Lovecraft, Isaac Asimov, “Doc” Smith, Theodore Sturgeon, e J.R.R. Tolkien. Eu lia Ace doubles e pertencia Clube do Livro de Ficção Científica, mas eu não tinha ainda descoberto as revistas. Eu nunca tinha ouvido falar desse cara, Zelazny. Mas quando eu li aquelas palavras pela primeira vez, senti um arrepio, e senti que a Ficção Científica nunca mais seria a mesma. E não foi. Como poucos antes dele, Roger deixou sua marca no gênero.
Ele deixou sua marca na minha vida também. Depois de Senhor da Luz, eu li tudo dele em que pude colocar as mãos. “He Who Shapes”, “And Call me Conrad…”, “A Rose for Ecclesiastes”, “Isle of the Dead”, “The Doors of His Face, the Lamps of His Mouth”, “Creatures of Ligh and Darkness”, e todo o resto. Eu sabia que tinha encontrado um escritor e tanto nesse sujeito com um nome estranho e inesquecível. Eu nunca tinha imaginado que, anos depois, eu também encontraria em Roger um amigo e tanto.
Eu encontrei Roger várias vezes nos anos 70; em um workshop de escritores em Bloomington, Indiana, em Wichita e El Paso, em jantares do Nebula. Na ocasião, eu fiz alguma propaganda minha. Eu fiquei surpreso e assustado quando Roger conheceu meu trabalho. …….
“Mas olhe em torno de você…” ele escreveu em Senhor da Luz. “A Morte e a Luz estão sempre presentes e começam, terminam, participam e observam o Sonho do Indizível, que é o Mundo, queimando as palavras dentro de Samsara, talvez para criar uma coisa bela.”

Assim como This Immortal, O Senhor da Luz é um grande livro, que deixou sua marca no gênero da ficção científica e fantasia, influenciando de forma significativa a próxima geração de autores, como nos contou George R. R. Martin.
Definitivamente é um livro que recomendo a qualquer um, não apenas a fãs do gênero.

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