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Falling Free – Lois McMaster Bujold

Falling Free – Lois McMaster Bujold

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Ficha Técnica do Livro

  1. Título: Falling Free
  2. Nome do autor: Lois McMaster Bujold
  3. Nome da editora: Baen Books
  4. Data e local de publicação: EUA, 1988;
  5. Número de páginas: 307 páginas;
  6. Tradução para o português: Não foi traduzido
  7. Gênero: Ficção Científica;
  8. Nota: ★★★★ (4)

Falling Free (Queda Livre) é um romance de ficção científica escrito em 1988 pela autora norte americana Lois McMaster Bujold e vencedor do Prêmio Nebula do mesmo ano. É o quarto livro da saga Vorkosigan, mas o primeiro na escala cronológica dos livros de Bujold. O próximo livro na minha lista de leitura seria The Vor Game, o vencedor de 1991, mas como esse livro é o sexto livro da saga Vorkosigan, e como nunca tinha lido nada de Bujold, achei melhor começar lendo o primeiro livro (na escala cronológica interna) para ter uma ideia melhor do material com que iria lidar. Fiz o mesmo com Sundiver antes de ler Maré Alta Estelar, e confesso que estava cético se isso não acabaria se mostrando desnecessário ou até uma perda de tempo. Para minha surpresa Bujold revelou-se uma autora de ficção científica extremamente competente, superando em qualidade estilística e em vários outros aspectos autores como David Brin ou Kim Stanley Robinson. Antes de partir para a análise do livro, faço uma introdução sobre o universo criado por Bujold.

A Saga Vorkosigan 

É uma série de livros de ficção científica e contos situados em um universo ficcional criado pela autora Lois McMaster Bujold. O primeiro livro foi publicado em 1986 e o mais recente em 2012. Os livros da série já receberam vários prêmios e nomeações, incluindo três vencedores do Prêmio Hugo.
O estilo empregado por Bujold varia muito, algumas vezes misturando gêneros como thriller político, romance, aventura militar e mistério.
A autora utiliza personagens masculinos, femininos ou homossexuais com pontos de vistas variados, mas algumas das preocupações constantes na série são: a ética médica, identidade pessoal (particularmente o papel da fisiologia na determinação da personalidade). Dentro do contexto empregado, a autora mostra como a identidade pode ser afetada pela bioengenharia, manipulação genética, clonagem e tecnologia médica na substituição de órgãos e no prolongamento da vida. Algumas histórias exploram temas como criação de crianças, formação de casais e até atividades sexuais.
Várias formas de sociedade e governos apresentados por Bujold refletem a política do século vinte, mas a autora também mostra contrastes entre a sociedade tecnológica e igualitária de Beta Colony e a sociedade heróica, militar e hierárquica dos Barrayar. Miles Vorkosigan, o personagem principal na série é filho de uma mulher de Beta e de um aristocrata Barrayano, personificando o contraste entre essas sociedades.

Assim como na série Fundação, de Isaac Asimov, no universo criado por Bujold a nossa galáxia foi colonizada pelos seres humanos sem terem que competir com outras espécies inteligentes. A primeira colônia bem sucedida é Beta. Desde pelo menos 400 anos antes dos eventos de Falling Free (o primeiro livro na escala cronológica interna) dezenas de planetas abrigam culturas que evoluem de forma divergente.

A viagem entre os sistemas estelares é possível graças aos wormholes (buracos de vermes) que são anomalias espaciais que permitem saltos instantâneos entre distâncias enormes da galáxia, organizados em um sistema conhecido como Nexus. O Nexus contêm várias estações espaciais militares ou comerciais e portos para suporte  às naves espaciais. As estações podem ser de propriedade de governos planetários, de organizações comerciais ou até mesmo independentes como o Sindicato dos Quaddies ou a Estação Kline.

A única forma de atravessar os wormholes é utilizando pilotos com implantes cerebrais que permitem que eles dobrem as três dimensões normais do espaço em cinco, através da matemática pentadimensional (five-space math) e as naves possuem geradores de campo Necklin para isso.

A maioria dos sistemas estelares colonizados possuem pelo menos um planeta habitável, e na maioria das vezes com um único governo. Existem também impérios como os dos Barrayar e Cetaganda, formados pela conquista de outros mundos nas vizinhanças de seu wormhole.

Cordelia Naismith é a capitã de uma nave a serviço do Serviço de Pesquisa Betano cuja tarefa é explorar sistemas desconhecidos em busca de planetas habitáveis (Shards of Honor, o segundo livro na escala cronológica).

 As estações espaciais do passado (200 anos antes dos eventos de Shards of Honor) usavam força centrífuga para gerar efeito artificial de gravidade, mas as modernas contam com sistemas de geração artificial de gravidade. A gravidade artificial também é utilizada para proteger passageiros de naves espaciais de grandes acelerações.

 Os ambientes habitados pelos humanos através do Nexus são os mais variados possíveis. Em alguns planetas como Barrayar e Sergyar a gravidade e atmosfera são semelhantes às da Terra, e existem grandes suprimentos de água. Em outros como Beta Colony e Komarr, só é possível viver em cidades protegidas por domos ou em arcologias (cidades autossustentáveis e com controle de atmosfera e clima). Em todas lugares colonizados a forma predominante de vida botânica é a terrena, sendo que nos planetas onde foi necessária a terraformação esta foi conduzida com a destruição da vida nativa e imposição das formas terrenas. O fornecimento de alimentos é feito principalmente através de culturas hidropônicas em larga escala ou piscicultura. Em habitats espaciais, como os dos quaddies de Falling Free, é necessário lidar com a questão do isolamento do ecossistema e o risco de contaminação microbiana.

Um aspecto muito importante na Saga Vorkosigan é a tecnologia médica e genética, capaz de produzir qualquer tipo de clone ou de seres híbridos. A manipulação do genoma humano e o uso dos “replicadores uterinos” permite criação de embriões e fetos e desenvolvimento de novos tipos de seres humanos, o que abre um interessante campo para a discussão ética sobre manipulação genética e reprodução in-vitro, um tema bastante atual nos nossos dias. A manipulação genética produziu entre os Betanos o aumento da expectativa de vida para mais de 120 anos, e nos Cetagandanos além da expectativa de vida foi prolongada também a juventude. É possível também o transplante de cérebros de pessoas idosas em corpos jovens clonados. A criogenia é coisa rotineira e acessível.

A bioengenharia apresentada mostra bactérias e animais produzidos com propósitos específicos (como os butterbugs, insetos que são considerados o alimento perfeito e definitivo para a humanidade), e até mesmo alterações em seres humanos, como os quaddies que foram projetados como trabalhadores perfeitos para ambientes espaciais. A manipulação genética e o medo de mutações é mais forte na sociedade Barrayarana, mas as corporações e empresas não se preocupam muito com essas questões éticas.

Apesar do Nexus permitir uma galáxia interligada por viagens e comércio, paradoxalmente Bujold imaginou que a comunicação seria mais lenta e difícil do que nos nossos dias. Como consequência disso cada planeta colonizado funciona como uma espécie de Placa de Petri em que as culturas humanas  — derivadas das culturas que conhecemos da história da Terra — evoluem de forma drasticamente diferentes. Os mundos de Barrayar e Athos, por exemplo, mostram aspectos da Europa e América da nossa época pré-industrial, o Império Cetagandan são altamente aperfeiçoados geneticamente, e os quaddies praticam uma espécie de comunalismo. Todas essas diferenças são usadas por Bujold para explorar e satirizar aspectos próprios das nossas sociedades.

 A história de Falling Free

Agora que fizemos uma introdução ao universo da saga Vorkosigan, vamos a uma breve introdução ao roteiro de Falling Free.
A história começa cerca de 200 anos antes do nascimento de Miles Vorkosigan, o protagonista da maior parte dos livros da série, descrevendo a criação dos “Quaddies” (imagino que uma possível tradução para o termo seria “quatrinhos”). Os Quaddies são seres humanos modificados geneticamente para uma melhor adaptação ao ambiente de gravidade zero (ou queda livre, quando em órbita). A principal mudança introduzida foi a transformação das pernas em outro par de braços. Criados com o objetivo de fornecer mão de obra barata e extremamente especializada para o ambiente espacial, eles são praticamente inúteis no mais leve campo gravitacional ou “no lado de baixo”, como é descrita a superfície de planetas. Além dos membros alterados, eles também sofreram grandes alterações metabólicas que praticamente eliminaram os efeitos nocivos da ausência de gravidade no corpo humano, como degeneração óssea e deterioração muscular.

Os Quaddies são propriedade da companhia que os criou, dependendo completamente desta para viver, sequer sendo considerados seres humanos.
Legalmente os Quaddies enquadram-se na categoria de “tecidos pós-fetais cultivados experimentalmente”, então a companhia não tem escrúpulos em tratá-los como escravos. O acesso à informação do mundo externo é fortemente controlado, até mesmo as crianças apenas ouvem histórias que envolvem trabalho no espaço. Eles não tem liberdade para reproduzir-se livremente, sendo submetidos à um programa de procriação controlada.

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Leo Graf é um professor de soldagens em ambiente de gravidade zero, que foi designado como instrutor dos Quaddies, e rapidamente solidariza-se com a situação dos escravos.
Quando uma nova tecnologia de geração artificial de gravidade subitamente torna os Quaddies obsoletos, a companhia decide livrar-se do incômodo, então Leo Graf decide ajudá-los a fugir para um sistema estelar distante.

Falling Free é um livro muito divertido e de leitura fácil. Escrito de forma muito competente por Bujold, é o primeiro livro de uma saga que traz um novo frescor ao universo da ficção científica.

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