O artista Robert Sikoryak usou citações do presidente americano, em 'The unquotable Trump', para colocá-lo como inimigo dos super-heróis em capas de HQs clássicas
Por: Alexandre de Paula
Publicado em: 05/02/2017 08:28 Atualizado em:
“Donald Trump é ignorante sobre governo, história, ciência, filosofia, arte, incapaz de expressar ou reconhecer sutileza ou nuance, destituído de toda decência e detentor de um vocabulário de 77 palavras que seria melhor chamar de 'babaquês' (“jerkish”) do que de inglês.” A citação é do escritor Philip Roth e pode ser um bom termômetro para entender o que pensa a maioria dos artistas estadunidenses sobre o controverso Trump e suas ações.
De Meryl Streep a Ashton Kutcher, muita gente já declarou seu repúdio ao presidente, seja pelas declarações provocativas ou pelas ações extremas (como o decreto anti-imigração e a construção do muro no México). Nenhum deles, no entanto, foi tão criativo quanto o cartunista Robert Sikoryak. Ele pegou frases retiradas de discursos de Trump e as colocou em capas clássicas de HQs de super-heróis. Com as próprias palavras, Trump aparece como um vilão bizarro.
Chamado de The unquotable Trump (algo como O não-citável Trump, em tradução livre), o projeto gerou uma página na web, uma revista independente e há negociação para ser publicado em livro por uma editora maior, segundo o autor.
“A ideia me ocorreu logo antes da eleição. Trump tinha dito tantas coisas ultrajantes durante sua campanha que eu queria catalogá-las”, conta, ao Correio, Sikoryak. “Assim que ele se tornou presidente eleito, eu senti que tinha que fazer isso”, completa.
O artista queria utilizar apenas citações que, realmente, pertencessem a Trump, uma prova de que os discursos do presidente, de fato, naturalmente beiram o irreal. “Era importante para mim só usar citações verdadeiras de Trump, eu não queria colocar quaisquer palavras na sua boca”, explica.
O gosto pelos quadrinhos antigos já vem de muito tempo, conta o cartunista, por isso o trabalho até teve um pouco de diversão, mas pesquisar os discursos de Trump foram um trabalho penoso para ele. “Foi cansativo me aprofundar em discursos e declarações de Trump tentando encontrar as citações corretas. Estive lendo muito mais sobre ele do que qualquer um deve!”, garante.
Mesmo sem saber qual seria a reação do público, o cartunista sentiu necessidade de produzir a série e se posicionar. “Eu não sei se meus leitores gostariam ou não. Pensei até que poderia estar doente de tanto ouvir citações de Trump! Mas eu precisava fazer isso”, explica.
A reação, no entanto, foi positiva. Os desenhos chamaram atenção de muita gente e geraram mais comentários elogiosos do que críticas raivosas (como Sikoryak temia). “Estou satisfeito que muitos leitores de quadrinhos gostaram. E eu tenho recebido muita atenção inesperada”, comenta.
Os quadrinhos americanos, segundo ele, sempre tiveram um tradição crítica, tanto em produções mais antigas, como a revista Mad, quanto em publicações mais recentes. “Eu me lembro de ter visto alguns quadrinhos de paródias anti-Obama bastante fortes de alguns anos atrás. Chamavam-se Tea party comics, eu discordava completamente com o que expressavam politicamente, mas eram muito ousadas e apaixonadas. Por isso, elas me inspiraram.”
As capas
Quarteto fantástico, Superman, Batman… Todos esses heróis aparecem no trabalho de Sikoryak em capas nas quais precisam vencer o temido e bizarro vilão Donald Trump. Mulheres, negros, imigrantes, os alvos mais comuns de Trump aparecem nas citações.
Um exemplo: “Vocês estão vivendo na pobreza, suas escolas não são boas, vocês não têm emprego, 58% de seus jovens estão desempregados. O que diabos você tem a perder?”, brada um gigantesco Trump que enfrenta o herói Pantera Negra. A frase, de fato, foi dita em um discurso em que o presidente pedia votos para eleitores negros.
Quadrinhos norte-americanos têm uma tradição política. Como você vê isso? E como se encaixa nessa tradição?
Sim, existe uma forte tradição de comentário político em quadrinhos norte-americanos. Eu desenhei para programas satíricos na tevê, bem como para a revista de paródia em quadrinhos MAD. E quadrinhos de super-heróis, por vezes, refletem eventos atuais em suas histórias. Essa foi uma inspiração. A sátira é algo que os quadrinhos podem fazer muito bem.
O artista deve se expressar politicamente?
Acho que todo mundo deve se sentir livre para responder. Eu não sei se eu diria que os artistas devem expressar pontos de vista políticos, mas é um direito de todos. Eu acredito na liberdade de expressão. E eu acho que há aspectos políticos na arte quase sempre, mesmo quando é subconsciente.
Como você vê este momento político no país? A arte corre algum risco nesse contexto?
Quadrinhos norte-americanos têm uma tradição política. Como você vê isso? E como se encaixa nessa tradição?
Sim, existe uma forte tradição de comentário político em quadrinhos norte-americanos. Eu desenhei para programas satíricos na tevê, bem como para a revista de paródia em quadrinhos MAD. E quadrinhos de super-heróis, por vezes, refletem eventos atuais em suas histórias. Essa foi uma inspiração. A sátira é algo que os quadrinhos podem fazer muito bem.
O artista deve se expressar politicamente?
Acho que todo mundo deve se sentir livre para responder. Eu não sei se eu diria que os artistas devem expressar pontos de vista políticos, mas é um direito de todos. Eu acredito na liberdade de expressão. E eu acho que há aspectos políticos na arte quase sempre, mesmo quando é subconsciente.
Como você vê este momento político no país? A arte corre algum risco nesse contexto?
É um momento muito obscuro politicamente. Além das ações severas do presidente, eu estou bastante chocado e chateado pela falta geral de civilidade e de razoabilidade. Eu não acho que a minha arte corre qualquer risco real, porque eu não acredito que seja algo tão radical. Mas todo mundo está no limite, e os ânimos estão quentes, então eu não ficaria surpreso de obter algumas respostas raivosas.
Marvel se inspira em Donald Trump para criar novo vilão dos quadrinhos
Personagem que tem os traços de pré-candidato à presidência dos EUA e do vilão M.O.D.A.A.K. é apresentado na HQ "Spider-Gwen Annual #1"
PUBLICADO EM 04/07/16 - 17h39
FOLHAPRESS
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Os chumaços de topete aloirado e bordões que evocam o slogan "make America great" são coincidências que não passaram batido para os leitores da Marvel: o novo vilão dos quadrinhos, M.O.D.A.A.K., parece uma versão superpoderosa de Donald Trump, candidato republicano à presidência dos EUA.
Sigla para "Mental Organism Designed as America's King" (organismo mental proclamado rei da América), M.O.D.A.A.K. apareceu na edição anual "Spider Gwen", publicada em 29 de junho. Nessa HQ paralela, o jovem Gwen Stacy é mordido por uma aranha radioativa em vez de Peter Parker, o mais famoso Homem-Aranha.
Há diversos tipos de semelhança entre o vilão e Trump, dos trajes escandalosos ao tratamento dispensado aos imigrantes, a quem o personagem se refere como "lixo estrangeiro". Se nas urnas o sucesso de Trump ainda é incerto, nos quadrinhos, o vilão à sua imagem e semelhança é derrotado pelo Capitão América.
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