Homeland - 4ª Temporada | Crítica
Disposta a funcionar como um reboot, quarto ano da série se divide em atos extremamente irregulares
06/01/2015 - 1:00
Henrique Haddefinir
Quando terminou sua terceira temporada, Homeland
estava dando o braço a torcer, parando de insistir em teses de
longevidade que gritavam por redenção. Durante a confusa segunda
temporada ficou bastante claro que os jogos de espionagem apoiados em
Brody (Damian Lewis) não poderiam sustentar a série por
muito tempo. Assim, no ano seguinte, foi necessário dar um passo
adiante, abrir mão de apegos dramaturgicos e se preparar para assumir um
risco: começar do zero.
Como todos os impulsos de Carrie (Claire Danes) naquele momento estavam voltados para sua história com Brody, assim que ele saiu da série era como se a personagem se reencontrasse. E isso foi reconhecido pelo roteiro, num momento em que Carrie insinua que teria interrompido a gravidez por perceber que sua identidade não permitia esse tipo de manifestação maternal. A morte de Brody era também a renúncia a praticamente tudo que circulava o programa desde seu começo. Ficariam as ramificações emocionais, é claro, mas em termos de pontas soltas para amarrar, não havia nenhuma. Homeland estava livre, enfim.
E então começou a parte boa de se ter uma série nas mãos... Os roteiristas poderiam lançar mão do que quisessem para seguir adiante e precisariam respeitar apenas as personalidades de seus personagens, o que é, em essência, uma regra válida para qualquer coisa que esteja começando. Ao colocarem em perspectiva as possibilidades, logo eles perceberam que o caminho mais digno para o futuro do programa era encontrar um jeito de retomar as discussões de poder entre governo americano e organizações terroristas. Essa era a decisão mais acertada, sem dúvida. O problema é como as coisas acabaram sendo desenvolvidas, com fantasmas do passado arranhando essa nova chance.
Primeiro Ato: Aayan
Carrie surgiu nessa temporada com o sugestivo apelido de Drone Queen. O melhor dela sempre apareceu assim, quando ela está trabalhando. Ela precisa cuidar das operações em Islamabad e sua implacabilidade é representada por essa habilidade para executar linhas inimigas. O talento de Carrie está em desvendar fraquezas no território alheio e em se arriscar por eles, usando uma costura inesperada de raciocínio e impulso. Por alguma razão, porém, esse ponto de partida sofreu com algumas estranhas decisões que planejavam construir uma base, mas acabaram provocando um cenário de descrença.
Primeiro desistiram da ideia de Carrie ter interrompido a gravidez e apareceram com o bebê ruivo, filha de Brody, que era a completa representação de tudo que a agente não era: ser capaz de dedicar-se a outra pessoa. O problema é que de vez em quando Homeland confunde profundidade com emoções bombeadas sem ponderamento. Chegaram a extremos como o de Carrie considerando a morte da própria filha, apenas para reforçar a complexidade de sua personalidade limítrofe. Esse flerte com o passado, com a imposição de Brody na trajetória dela, levou o início da quarta temporada a um desequilíbrio
Quase como se fosse parte de uma inevitabilidade, todo o processo de erros que levaram Aayan (Suraj Sharma) a virar peça chave de uma operação, também resultou num processo de erros cometidos em recorrência na série. Para entender a morte de um informante e caçar Haqqani (Numan Acar), Carrie começa a investir no jovem sobrinho do terrorista, um universitário completamente alheio aos negócios de sua família. O problema surge quando seduzir uma espécie de testemunha vira o caminho mais fácil para que Carrie alcance seus sucessos. Todos os problemas do ano dois partiram da romantização da relação entre Carrie e Brody e agora lá estavam os roteiristas, de novo, confundindo a relação entre eles, nós, e a personagem criada por eles. O atalho tomado ao seduzir o menino pareceu, naquele momento, um atalho tomado por preguiça na hora de conseguir as informações de maneiras mais complicadas. E então, dá-lhe mais doses de flexibilidade de verossimilhança, quando Carrie tem poucos dias para contatar, seduzir e retirar do sobrinho de um terrorista perigosíssimo, seu exato paradeiro. E é exatamente o que acontece. Parecíamos estar diante de uma repetição de fórmulas e enganos, o que - para uma nova chance - era injustificável.
Segundo Ato: Saul
Mas, fez-se a luz. Do mesmo jeito que todo seu staff passa a desconfiar de seus métodos, nós aqui, desse lado, também começamos a nos perguntar como foi construída, realmente, a reputação de competência da Agente Mathison. O episódio From A to B and Back Again, um dos mais tensos da história da série, fechou as cortinas do primeiro ato abrindo mão de Aayan e começando outro ciclo, que encontrou no sequestro de Saul (Mandy Patinkin) uma redenção pelas irregularidades vistas até aqui. Os quatro episódios que construíram o arco focado no resgate do ex-diretor da CIA, foram de uma qualidade absurda, principalmente porque era nas discussões políticas que estava a força de uma série que nasceu para falar de pátria.
Tivemos problemas no excesso de complacência da realidade? Tivemos, claro. Por alguns momentos Homeland abusa ao tornar fáceis coisas como a fuga de Saul, mas, se redime ao fazê-lo ser recapturado numa sequência nervosíssima em que ele implora para ser eliminado por Carrie. Passei o tempo todo desse segundo ato me perguntando se a vida de Saul era mesmo tão importante assim, se colocada em correlação direta com tudo aquilo que o governo americano perderia ao ceder às exigências de Haqqani. O que seria pior? Sacrificar um ex-diretor ao assassinar um terrorista perigoso ou libertar prisioneiros, demonstrando fraqueza? Claro que a forma como todos se empenhavam em proteger Saul era um movimento necessário para fazer a história andar e como foi feito envolto em episódios seguros e bem escritos, essas concessões da verdade acabavam sendo permitidas e festejadas.
Todo o processo de abordagem dos limites de poder entre o governo americano e o governo paquistanês (um vilão disfarçado dos melhores e mais ousados que a série já teve), chegou a um apogeu impressionante. Da troca de prisioneiros à invasão na embaixada, todo o movimento dramaturgico desse segundo ato trabalhou com tensão, com suspensão, com choque. Isso sem falar nas fontes realistas que foram usadas como flerte... Troca de prisioneiros e ataques a territórios americanos fazem parte da história do país e ferramentas como essa ajudam a formar a substância do programa.
O problema é a irregularidade de Homeland, sempre ela... Se eles atacam a embaixada numa ação incrível do roteiro, também enfraquecem a credibilidade da coisa ao fazerem uma cena em que o atual diretor da CIA abre uma sala segura para um terrorista armado do lado de fora, que poderia atirar em todo mundo quando a porta é aberta, mas não atira. E esse mesmo diretor entrega uma lista de informantes que serão mortos assim que forem descobertos, tudo isso para salvar a vida de alguns funcionários que sim, são importantes, mas não para situações extremas como aquela. De novo lá estava a série, em nome da própria dramaturgia, traindo conceitos básicos de segurança nacional.
Terceiro Ato: Quinn
A trilogia de "homens difíceis" da quarta temporada de Homeland terminou com uma atenção especial a Quinn (Rupert Friend), que depois de passar o início da temporada oscilando entre uma paixão latente por Carrie e as lamentações acerca da natureza do próprio trabalho, encontrou nessa melancolia uma espécie de impulso para correr atrás de uma motivação. A motivação era a vingança e mesmo que completamente condizente com tudo que ronda a personalidade dos seus personagens, peca novamente naquilo que já foi levantado nesse texto várias vezes: coerência.
Não deveria importar se Quinn agride colegas no anseio de defender outros ou se parte para uma caçada a Haqqani completamente sozinho, mesmo que o bom senso avise que obter sucesso é praticamente impossível. Não deveria importar se ele acha que Carrie largaria tudo para ficar com ele se qualquer um que conheça a agente sabe que ela jamais faria isso. E nem deveria importar que ele saísse para a caçada a Haqqani como um desertor e aparecesse no season finale como se nada tivesse acontecido... Nada disso deveria importar, mas importa porque a dramaturgia de Homeland (e de todas as séries dramáticas dessa terceira era de ouro da televisão) se apóia em correlações emocionais com a verdade e que só ganham força se estiverem compromissadas com ela. E essa irregularidade criativa da série se completa e se evidencia quando saímos de um penúltimo episódio tenso e político, para um season finale que parecia ter sido descolado de uma produção da ABC e caído aleatoriamente no mundo de Carrie Mathison.
Os plots principais foram reduzidos a um clima de apatia e toda a ação se concentrou numa inexplicável viagem da protagonista para desvendar o abandono sofrido pela mãe. Claro que sabemos que a questão materna é importante para Carrie nesse momento, mas não a ponto de ser entubada no finale como resultado principal de um compromisso com o conjunto da temporada, conjunto esse que focou nas políticas anti-terrorismo e não em relações familiares. Colocando esse ano em perspectiva, tivemos um primeiro momento de ruídos com o legado deixado por Brody, um segundo momento de reajuste e força, e um terceiro que caminhava para o apogeu quando foi esmagado por aquele season finale confuso, disforme, querendo parecer complexo e sendo apenas capenga de qualquer senso de coesão. O saldo final ainda foi positivo? Sim, foi. Ao menos pudemos ver, em alguns momentos, a série viver uma capacidade dramaturgica incrível. O problema é que Homeland ainda não aprendeu a ter foco, reconhecendo seus parentescos com a energia de reação oriunda de 24 horas e esquecendo essas tentativas de intimismo emocional, que precisam ser apenas um acidente involuntário de quem se reconhece no drama, e não um bombeamento forçado de sentimentalismos.
Leia mais sobre Homeland
Nota do crítico
(Sem nota)Como todos os impulsos de Carrie (Claire Danes) naquele momento estavam voltados para sua história com Brody, assim que ele saiu da série era como se a personagem se reencontrasse. E isso foi reconhecido pelo roteiro, num momento em que Carrie insinua que teria interrompido a gravidez por perceber que sua identidade não permitia esse tipo de manifestação maternal. A morte de Brody era também a renúncia a praticamente tudo que circulava o programa desde seu começo. Ficariam as ramificações emocionais, é claro, mas em termos de pontas soltas para amarrar, não havia nenhuma. Homeland estava livre, enfim.
E então começou a parte boa de se ter uma série nas mãos... Os roteiristas poderiam lançar mão do que quisessem para seguir adiante e precisariam respeitar apenas as personalidades de seus personagens, o que é, em essência, uma regra válida para qualquer coisa que esteja começando. Ao colocarem em perspectiva as possibilidades, logo eles perceberam que o caminho mais digno para o futuro do programa era encontrar um jeito de retomar as discussões de poder entre governo americano e organizações terroristas. Essa era a decisão mais acertada, sem dúvida. O problema é como as coisas acabaram sendo desenvolvidas, com fantasmas do passado arranhando essa nova chance.
Carrie surgiu nessa temporada com o sugestivo apelido de Drone Queen. O melhor dela sempre apareceu assim, quando ela está trabalhando. Ela precisa cuidar das operações em Islamabad e sua implacabilidade é representada por essa habilidade para executar linhas inimigas. O talento de Carrie está em desvendar fraquezas no território alheio e em se arriscar por eles, usando uma costura inesperada de raciocínio e impulso. Por alguma razão, porém, esse ponto de partida sofreu com algumas estranhas decisões que planejavam construir uma base, mas acabaram provocando um cenário de descrença.
Primeiro desistiram da ideia de Carrie ter interrompido a gravidez e apareceram com o bebê ruivo, filha de Brody, que era a completa representação de tudo que a agente não era: ser capaz de dedicar-se a outra pessoa. O problema é que de vez em quando Homeland confunde profundidade com emoções bombeadas sem ponderamento. Chegaram a extremos como o de Carrie considerando a morte da própria filha, apenas para reforçar a complexidade de sua personalidade limítrofe. Esse flerte com o passado, com a imposição de Brody na trajetória dela, levou o início da quarta temporada a um desequilíbrio
Quase como se fosse parte de uma inevitabilidade, todo o processo de erros que levaram Aayan (Suraj Sharma) a virar peça chave de uma operação, também resultou num processo de erros cometidos em recorrência na série. Para entender a morte de um informante e caçar Haqqani (Numan Acar), Carrie começa a investir no jovem sobrinho do terrorista, um universitário completamente alheio aos negócios de sua família. O problema surge quando seduzir uma espécie de testemunha vira o caminho mais fácil para que Carrie alcance seus sucessos. Todos os problemas do ano dois partiram da romantização da relação entre Carrie e Brody e agora lá estavam os roteiristas, de novo, confundindo a relação entre eles, nós, e a personagem criada por eles. O atalho tomado ao seduzir o menino pareceu, naquele momento, um atalho tomado por preguiça na hora de conseguir as informações de maneiras mais complicadas. E então, dá-lhe mais doses de flexibilidade de verossimilhança, quando Carrie tem poucos dias para contatar, seduzir e retirar do sobrinho de um terrorista perigosíssimo, seu exato paradeiro. E é exatamente o que acontece. Parecíamos estar diante de uma repetição de fórmulas e enganos, o que - para uma nova chance - era injustificável.
Mas, fez-se a luz. Do mesmo jeito que todo seu staff passa a desconfiar de seus métodos, nós aqui, desse lado, também começamos a nos perguntar como foi construída, realmente, a reputação de competência da Agente Mathison. O episódio From A to B and Back Again, um dos mais tensos da história da série, fechou as cortinas do primeiro ato abrindo mão de Aayan e começando outro ciclo, que encontrou no sequestro de Saul (Mandy Patinkin) uma redenção pelas irregularidades vistas até aqui. Os quatro episódios que construíram o arco focado no resgate do ex-diretor da CIA, foram de uma qualidade absurda, principalmente porque era nas discussões políticas que estava a força de uma série que nasceu para falar de pátria.
Tivemos problemas no excesso de complacência da realidade? Tivemos, claro. Por alguns momentos Homeland abusa ao tornar fáceis coisas como a fuga de Saul, mas, se redime ao fazê-lo ser recapturado numa sequência nervosíssima em que ele implora para ser eliminado por Carrie. Passei o tempo todo desse segundo ato me perguntando se a vida de Saul era mesmo tão importante assim, se colocada em correlação direta com tudo aquilo que o governo americano perderia ao ceder às exigências de Haqqani. O que seria pior? Sacrificar um ex-diretor ao assassinar um terrorista perigoso ou libertar prisioneiros, demonstrando fraqueza? Claro que a forma como todos se empenhavam em proteger Saul era um movimento necessário para fazer a história andar e como foi feito envolto em episódios seguros e bem escritos, essas concessões da verdade acabavam sendo permitidas e festejadas.
Todo o processo de abordagem dos limites de poder entre o governo americano e o governo paquistanês (um vilão disfarçado dos melhores e mais ousados que a série já teve), chegou a um apogeu impressionante. Da troca de prisioneiros à invasão na embaixada, todo o movimento dramaturgico desse segundo ato trabalhou com tensão, com suspensão, com choque. Isso sem falar nas fontes realistas que foram usadas como flerte... Troca de prisioneiros e ataques a territórios americanos fazem parte da história do país e ferramentas como essa ajudam a formar a substância do programa.
O problema é a irregularidade de Homeland, sempre ela... Se eles atacam a embaixada numa ação incrível do roteiro, também enfraquecem a credibilidade da coisa ao fazerem uma cena em que o atual diretor da CIA abre uma sala segura para um terrorista armado do lado de fora, que poderia atirar em todo mundo quando a porta é aberta, mas não atira. E esse mesmo diretor entrega uma lista de informantes que serão mortos assim que forem descobertos, tudo isso para salvar a vida de alguns funcionários que sim, são importantes, mas não para situações extremas como aquela. De novo lá estava a série, em nome da própria dramaturgia, traindo conceitos básicos de segurança nacional.
A trilogia de "homens difíceis" da quarta temporada de Homeland terminou com uma atenção especial a Quinn (Rupert Friend), que depois de passar o início da temporada oscilando entre uma paixão latente por Carrie e as lamentações acerca da natureza do próprio trabalho, encontrou nessa melancolia uma espécie de impulso para correr atrás de uma motivação. A motivação era a vingança e mesmo que completamente condizente com tudo que ronda a personalidade dos seus personagens, peca novamente naquilo que já foi levantado nesse texto várias vezes: coerência.
Não deveria importar se Quinn agride colegas no anseio de defender outros ou se parte para uma caçada a Haqqani completamente sozinho, mesmo que o bom senso avise que obter sucesso é praticamente impossível. Não deveria importar se ele acha que Carrie largaria tudo para ficar com ele se qualquer um que conheça a agente sabe que ela jamais faria isso. E nem deveria importar que ele saísse para a caçada a Haqqani como um desertor e aparecesse no season finale como se nada tivesse acontecido... Nada disso deveria importar, mas importa porque a dramaturgia de Homeland (e de todas as séries dramáticas dessa terceira era de ouro da televisão) se apóia em correlações emocionais com a verdade e que só ganham força se estiverem compromissadas com ela. E essa irregularidade criativa da série se completa e se evidencia quando saímos de um penúltimo episódio tenso e político, para um season finale que parecia ter sido descolado de uma produção da ABC e caído aleatoriamente no mundo de Carrie Mathison.
Os plots principais foram reduzidos a um clima de apatia e toda a ação se concentrou numa inexplicável viagem da protagonista para desvendar o abandono sofrido pela mãe. Claro que sabemos que a questão materna é importante para Carrie nesse momento, mas não a ponto de ser entubada no finale como resultado principal de um compromisso com o conjunto da temporada, conjunto esse que focou nas políticas anti-terrorismo e não em relações familiares. Colocando esse ano em perspectiva, tivemos um primeiro momento de ruídos com o legado deixado por Brody, um segundo momento de reajuste e força, e um terceiro que caminhava para o apogeu quando foi esmagado por aquele season finale confuso, disforme, querendo parecer complexo e sendo apenas capenga de qualquer senso de coesão. O saldo final ainda foi positivo? Sim, foi. Ao menos pudemos ver, em alguns momentos, a série viver uma capacidade dramaturgica incrível. O problema é que Homeland ainda não aprendeu a ter foco, reconhecendo seus parentescos com a energia de reação oriunda de 24 horas e esquecendo essas tentativas de intimismo emocional, que precisam ser apenas um acidente involuntário de quem se reconhece no drama, e não um bombeamento forçado de sentimentalismos.
Leia mais sobre Homeland
https://omelete.uol.com.br/series-tv/homeland/criticas/?key=93245
Crítica | Homeland – 4ª Temporada
Obs: Há potenciais spoilers das temporadas anteriores e também da quarta. Leiam as críticas das demais temporadas, aqui.
Como mencionei em minhas críticas anteriores da série, uma das mais marcantes características de Homeland é, sem dúvida alguma, sua capacidade de se reinventar. Sua premissa original, lidando com o agente duplo Brody, soldado americano achado como prisioneiro do talibã anos após seu desaparecimento, deixou de existir, em sua concepção primígena, logo na segunda temporada, que abriu espaço para abordagem mais ampla e completa dos dois lados do conflito. Ao final da terceira temporada, com a efetiva morte de Brody, artifício bem inserido que serviu para encerrar o ciclo do personagem, considerei a série como acabada.
Mas eis que veio a quarta temporada e fiquei ao mesmo tempo receoso e feliz. Receoso, pois a dinâmica entre Carrie e Brody era da essência da série e, a não ser que inventassem uma absurda e implausível sobrevivência do personagem enforcado em praça pública (e o momento em que ele “aparece” nesta temporada quase me fez infartar), achava que as modificações estruturais teriam que ser grandes demais para permitir a continuidade da história. Feliz, pois Homeland provou-se como uma série cheia de surpresas e pela sensacional Claire Danes já ter provado, com sua atuação, ser capaz de carregar o material nas costas. Portanto, a sorte estava lançada.
Quando a temporada começa, vários meses já se passaram desdes os acontecimentos da anterior. Carrie já teve sua filha, mas ela se encontra distante, mais precisamente em Kabul, no Afeganistão, como chefe de uma base da CIA. Com base em informação de Sandy Bachman (Corey Stoll), chefe da base da CIA em Islamad, no Paquistão, ela autoriza um bombardeio por drone para matar Haissam Haqqani (Numan Acar). A missão é aparentemente bem-sucedida, mas o efeito colateral é a morte de dezenas de inocentes, já que o terrorista estava em uma festa de casamento. Assim como as ondas formadas por uma pedra jogada em um lago, essa operação passa a desencadear todos os acontecimentos da temporada, com reviravoltas, traições e ataques terroristas diretamente contra a Embaixada Americana no Paquistão. Além disso, os roteiros focam no intenso e complexo jogo político entre os países envolvidos, em uma quase frustrante demonstração de que o mundo não tem salvação mesmo.
No entanto, a temporada demora a achar terreno sólido para fincar sua bandeira. Em sua primeira metade, os roteiros tendem a lidar, de maneira mais dispersa, com a vida privada de Carrie e também a de seu mentor Saul Berenson, que agora trabalha na iniciativa privada. Além disso, há muito foco no único sobrevivente do ataque do drone, Aayan Ibrahim (Suraj Sharma) estudante paquistanês e sobrinho de Haqqani e também no perturbado Peter Quinn (Rupert Friend), agente de campo da CIA que ganha grande destaque na temporada, de certa forma fazendo a vez do que a figura masculina de Brody representava. Apesar do intrincado jogo político que é naturalmente interessante para quem gosta, o fato é que faltou coesão nesse início, sem que a temporada realmente mostrasse a que veio.
Apenas depois das reviravoltas no meio da temporada – a captura de Saul e o assassinato de Aayan por seu tio – é que a narrativa ganha coesão e propósito, com uma mescla eficiente de tensão, ação e entraves políticos, com boas doses de traições dos dois lados. É nesse ponto que novamente vemos Claire Danes no ápice de sua forma fazendo uma Carrie segura de si exteriormente, mas cheia de dúvidas e problemas em sua mente fragilizada pela bipolaridade. Aliás, o roteiro não se esquece de sua condição e aborda-a diretamente com um ataque direto a ela, cortesia de Dennis Boyd (Mark Moses), marido da embaixadora americana no Paquistão. Sua transformação ao longo de apenas um episódio é, na falta de adjetivo melhor, assustadora. Mas a bipolaridade de Carrie não é o foco aqui, apenas um artifício muito bem utilizado, já que a temporada carrega nas cores políticas, trazendo assuntos urgentes e contemporâneos.
Infelizmente, além do começo inseguro, a temporada tem um desfecho fraco no episódio Long Time Coming em que Carrie, de volta aos EUA depois do falecimento de seu pai, “arruma a casa” em relação à sua irmã (Amy Hargreaves), filha e mãe (Victoria Clark), que surge do nada. Os problemas do episódio são múltiplos e todos eles originados da necessidade de se resolver toda a vida particular de Carrie de uma vez só em 50 minutos. Como ela estava distante, isso não foi possível ao longo da temporada, mas o roteiro de Meredith Stiehm é inábil ao introduzir novos assuntos (a já mencionada mãe de Carrie) e de criar, em última análise, um gigantesco dénouement para a temporada, quebrando completamente o ritmo estabelecido nos episódios imediatamente anteriores.
A quarta temporada de Homeland continua a tendência que a série tem de se renovar, mas, pela primeira vez, é possível sentir a fadiga da narrativa. É uma temporada que se perde no começo e, quando se acha, vai em um crescendo lógico, mas que acaba desapontando ao final. Claire Danes continua brilhando em seu papel, claro, assim como Mandy Patinkin como Saul, o que já dá retorno ao tempo investido, mas talvez seja momento de repensar a série como um todo.
Homeland – 4ª Temporada (Idem, EUA – 2014)
Showrunners: Howard Gordon, Alex Gansa (baseado em série israelista criada por Gideon Raff)
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi, Laila Robins, Tracy Letts, Mandy Patinkin, Nimrat Kaur, Michael O’Keefe, Numan Acar, Raza Jaffrey, Mark Moses, Maury Sterling, F. Murray Abraham, Amy Hargreaves, Sarita Choudhury, Shavani Seth, , Suraj Sharma, Damian Lewis, Corey Stoll, Victoria Clark
Duração: 585 min.
Showrunners: Howard Gordon, Alex Gansa (baseado em série israelista criada por Gideon Raff)
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Claire Danes, Rupert Friend, Nazanin Boniadi, Laila Robins, Tracy Letts, Mandy Patinkin, Nimrat Kaur, Michael O’Keefe, Numan Acar, Raza Jaffrey, Mark Moses, Maury Sterling, F. Murray Abraham, Amy Hargreaves, Sarita Choudhury, Shavani Seth, , Suraj Sharma, Damian Lewis, Corey Stoll, Victoria Clark
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11 de set de 2015 - Vídeo enviado por A toda leche
Un breve resumen de todo lo que ocurrio en la anterior temporada y asi estar al dia para ver la temporada 5 ...Homeland 4ª Temporada Episódio 11 Online - Legendado - Seu ...
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